Prova de fogo
Visão de golo é o título da opinião semanal de Rui Águas, antigo avançado internacional português
Prova de fogo bem passada pelo Benfica em território difícil, com personalidade e grande mérito. É verdade que este não é o melhor FC Porto que já se viu, mas era a única equipa ainda invencível em casa, e até então, a defesa menos batida da Liga. Exibição personalizada, inspirada por um início certeiro de Akturkoglu para Pavlidis. Era difícil pedir melhor começo.
Do calendário complicado que o Benfica tem por cumprir até final, este era o teste inicial e teoricamente mais complexo. Não garante nada, mas um resultado histórico ajuda ao estado mental de qualquer equipa e à onda positiva que leva às vitórias. Ao mesmo tempo, o efeito de uma vitória retumbante estende-se a quem, como o rival Sporting, esperava que um apoio extra chegasse do Norte. E ele não veio. A verdade é que se por um lado as vitórias dinamizam, no reverso, a desilusão abala e preocupa.
Quanto ao FC Porto, quem sobressaiu foi Mora, um menino em jogo de grandes. De Pepê, para mim um dos principais jogadores da equipa, pouco se viu. Longe da ala onde já brilhou e sem o espaço central de apoio ao avançado, agora quase exclusivo de Mora.
Pavlidis foi a estrela de uma noite para emoldurar. Akturkoglu foi uma ameaça no ataque e uma garantia na ajuda defensiva. Aursnes completou o meu trio preferido, na pressão, na recuperação e dinâmica que continuamente impressiona. Otamendi, lá atrás, impôs a sua lei como um veterano de muitas guerras.
Quanto ao regresso a titular de Di María, este mostrou desde logo o seu empenho e responsabilidade na colaboração defensiva. Na segunda parte, com mais espaço, fez diferença na criação atacante, rematando o desfecho do clássico com o cruzamento mágico que libertou Pavlidis para o terceiro e decisivo golo. Benfica e Sporting são os dois candidatos, mas não competem sozinhos. Os dados mudaram é verdade, mas há muito ainda por fazer.
Dois é bom, três é de mais?
Recuando algumas semanas, relativamente ao plantel atacante do Benfica, a chegada de Belotti quase impunha a saída de Cabral. Pelo que já se conheceu do avançado italiano e pelo que se conhece do brasileiro, são ambos opções ao nível que um clube como o Benfica exige. A titularidade de Pavlidis é entretanto assumida e indiscutível, consolidada pelo seu esforço, qualidade e agora também com golos, depois do período infértil que já vai longe.
Com a vinda de Belotti, a melhor e mais simples gestão do treinador parecia depender objetivamente da saída de Arthur Cabral, que era algo que parecia ir acontecer. Dois goleadores seria um bom número, partindo do princípio que o Benfica continua a utilizar o mesmo sistema, só com um. Três parece de mais, sabendo que ainda existe Amdouni e até Gustavo Varela, que vai evoluindo bem na equipa B.
Perceberam-se por isso, os esforços do clube na busca de uma boa saída para Arthur Cabral, que acabou por não ser conseguida. O investimento no avançado brasileiro foi alto e uma saída teria de ser minimamente compensadora. Compreende-se. Mesmo assim, sou daqueles que acreditam que Arthur Cabral poderá ainda ser útil ao Benfica, pela qualidade que já provou.
O mercado atual é incerto sendo difícil prever o que amanhã acontece. Em determinada fase mais goleadora ainda com Roger Schmidt, Arthur Cabral parecia ter encontrado o caminho certo, mas ao sair da equipa perdeu a convicção que vinha ganhando. Belotti agrada, mas é empréstimo, veremos se terá continuidade.
Vai e vem
Ser ala custa... Quem quer fazer carreira nesta posição que se prepare porque a correria é muita. O Benfica escolheu para este clássico Di María e Akturkoglu, dois alas tão bons quanto diferentes. Di María faz da arte e requinte técnico o seu perfil de craque. No entanto, a primeira parte da estrela argentina no Dragão deu-nos uma humilde participação defensiva que o importante confronto exigia. Já Akturkoglu é um ala que expressa a sua valia na agressividade do seu movimento ofensivo, mas também naquilo que mais custa: correr atrás do lateral contrário. É por esta importante e moderna característica que o turco desempata nas escolhas a seu favor, para além da valia ofensiva que representa.
A propósito deste tema, o talentoso David Neres, revelou há pouco tempo que nunca tinha corrido tanto na vida, como agora na Serie A italiana. Entre a arte e o esforço, temos também o grau de exigência de cada treinador e a concorrência maior ou menor de cada plantel. Mas porque a bola ainda é importante, do equilíbrio entre o esforço físico e evitar a exaustão depende a qualidade da execução técnica. Nos momentos decisivos, para assistir ou marcar, convém guardar alguma frescura. Gestão complicada?