Profissionalizar o futebol feminino!
'Jogo bonito' é o espaço de opinião semanal de Raquel Sampaio, agente FIFA
Apalavra de ordem é PROFISSIONALIZAR. Não me canso dela. Vou repeti-la até que a voz de me doa independentemente de alguém que me mande calar. Não me levem a mal. Sei que tenho insistido várias vezes neste assunto, se calhar até já há quem me ache chata… mas é esse (também) o papel de uma mulher: ser persistente, não desistir de lutar pelas suas ideias, e, se necessário, repetir, fazer o disco girar até ele riscar. Sou assim tanto na vida como no futebol.
A Liga portuguesa de futebol feminino tem de ser profissional. É uma inevitabilidade. Os clubes e os seus dirigentes têm de entender isso e lutar para que isso aconteça. Os responsáveis federativos têm de dar os passos necessários para concretizar-se. Como aconteceu em Espanha em 2021 ou em Itália em 2022 e como já tinha acontecido em vários outros campeonatos até de países com rankings inferiores ao de Portugal.
Foi precisamente esta uma das discussões em debate na Conferência de Licenciamento de Clubes e Sustentabilidade Financeira da UEFA de 2024, que decorreu no início do mês em Belgrado, na Sérvia, onde se falou sobre a necessidade de desenvolvimento de clubes e ligas femininas, destacando o papel dos órgãos dirigentes na implementação de medidas regulamentares para melhorar ainda mais a profissionalização do jogo. Tudo isto de acordo com a nova estratégia de futebol feminino da UEFA para o período de 2024 a 2030, que se concentrará na profissionalização de mais ligas em toda a Europa e em tornar o jogo mais sustentável financeiramente.
Pugnar para que as jogadoras tenham acesso às mesmas condições do futebol masculino e a melhores condições salariais é o mínimo exigível. Porque, embora alguns passos que já têm sido dados, ainda há muitos exemplos de jogadoras que têm de conciliar trabalhos remunerados com o futebol para conseguirem pagar as contas, não têm acesso a médicos ou fisioterapeutas ou jogam em campos com condições inadequadas, em balneários indignos de uma competição nacional.
Não podemos perder a oportunidade. A FPF já anunciou que vai apresentar a candidatura do nosso País à organização do Europeu Feminino em 2029, mas até lá há muito a fazer para dotar a nossa Liga Feminina com condições suficientes para se posicionar entre as melhores da Europa. Porque temos condições para isso. Falta dar o passo.