Prendam os suspeitos do costume, por favor!

OPINIÃO18.07.201904:00

Começo por Bruno Lage e pela sua frase que já é célebre: «Temos de começar a prender esta malta.» Ao minuto 30 de um jogo, no passado sábado, entre a Académica e o Benfica, que o clube da Luz venceu folgadamente - sublinhe-se -, o treinador dos encarnados começou a sua análise por aqui. «Acho que foi um adepto para o hospital e ninguém foi preso», acrescentando depois a referida frase.
Sei que em Portugal não é fácil elogiar responsáveis por equipas adversárias. Mais simples é começar o jogo do empurra, dizendo (o que é verdade) que o Benfica tem claques não reconhecidas e que só adeptos sportinguistas, vítimas mortais de desmandos dessa gente, se contam dois, nos últimos anos. Mas, antes desse tipo de guerra idiota, há que dizer que o treinador do Benfica não fez quaisquer distinções, pelo contrário. Afirmou que era preciso parar com a violência fosse ele preta, branca, vermelha, verde ou azul. Também, ninguém melhor do que ele diria que não se pode levar os filhos ou os netos ao futebol devido a essa malta que devia estar presa.
Duarte Gomes, ex-árbitro, colaborador aqui em A BOLA e na SIC, escreveu antes de ontem algo em que também me revejo completamente: «De cada vez que um animal destes tem acesso a um recinto, haverá cinco ou dez pessoas que não vão lá.» Duarte Gomes referia-se ao mesmo incidente nas bancadas que levou à interrupção do Académica-Benfica, um jogo amigável (imaginem se não fosse). Segundo o ex-árbitro «ainda não se encontrou a fórmula exata para afastar, de vez, energúmenos deste calibre».
É possível que a forma exata não tenha ainda sido encontrada, mas, caro Duarte Gomes, poderemos tentar fórmulas aproximadas da exata.
Como afastar energúmenos

NÃO tenho a pretensão de saber o modo exato de proceder. Há questões legais envolvidas, também existem aspetos estatutários nos próprios clubes, mas acima de tudo é necessário algo que não se tem visto: coesão entre os clubes, sobretudo os grandes clubes, para definirem regras que afastem os tais energúmenos.
Pessoas com a responsabilidade de Bruno Lage, com a experiência de Duarte Gomes, com a audiência que os próprios têm e ajudados por aqueles que comentam e noticiam os fenómenos desportivos, têm poder para obrigar a FPF, a Liga e grandes, em primeiro lugar, e depois todos os outros, a adotar medidas simples contra os arruaceiros. Também os legisladores e as autoridades terão de colaborar. Por exemplo, sabe-se que na época de 2017/2018 (últimos dados que encontrei) 13 adeptos foram impedidos de entrar em estádios. Na época anterior, tinham sido 38 e, desde 2010 até 2018, um total de 196. Permitam-me que saúde o esforço, mas isso nem para um dos grandes clubes seriam números aceitáveis. 196 em oito anos? Uma média de menos de 25 por ano? Menos de um por jornada do campeonato? É de quem não frequenta estádios ou não quer ver o que lá se passa. E, se formos olhar aos números dos que foram afastados dos respetivos clubes, justamente por atacarem ou ameaçarem adeptos de outros clubes, o número deve andar próximo do zero.


É por isso que se torna tão importante a dureza contra os que nas claques semeiam a violência (também há muita gente nas claques com comportamentos louváveis). Essa firmeza tem de vir dos clubes, das autoridades do futebol, das polícias e dos legisladores. O futebol, como dizemos tantas vezes, é um espetáculo e deve ser um espetáculo de família. A tolerância e a convivência pacífica não fazem de ninguém menos sportinguista, benfiquista ou portista. Pelo contrário, fortalecem os clubes e tendem a aumentar os espectadores. A primeira regra é, pois, a da intolerância contra os intolerantes: afastá-los dos clubes, proibir-lhes a entrada nos estádios por anos (não por uma ou duas épocas), em casos graves, como disse Lage, prendê-los.


A mera atitude que leva os adeptos da equipa contrária para autênticas jaulas, obriga os polícias a cordões de segurança quando se encaminham para o estádio, todo esse aparato, implicitamente representa a impotência das autoridades. Não! Deve ser o contrário! Não são os adeptos pacíficos e ordeiros que devem ter medo dos energúmenos; são os arruaceiros que devem ter medo de acabar a ver o Sol aos quadradinhos. E os responsáveis da Federação e da Liga, sempre tão lestos com multas e advertências devem multiplicar por 10 ou 100 as penas. Multas, para um clube, «é chato», como dizia o outro. Já descer de divisão ou perder 10 pontos é um caso sério.
Veremos o que se passa com o adepto que empurrou o apoiante do Benfica que foi para o hospital e, dias depois, se entregou às autoridades. Acredito que esteja arrependido. Mas, até pelo exemplo, não devia entrar num jogo de futebol nos próximos sete ou 10 anos.

As novas leis e os árbitros

UMA das formas de não se perder tempo - principal preocupação no retoque das leis do jogo que a Federação explicou esta semana com mais pormenor - é justamente impedir que haja tareia nas bancadas, como já se viu. Mas, revertendo agora para o próprio jogo, parecem-me que essas leis vão no sentido certo, nomeadamente no que toca à reposição com bola ao solo e na possibilidade de escolha de campo e bola. Claro que ainda ficam muitas zonas nevoentas, nomeadamente na marcação de penáltis e na anulação de golos (passam a ser anulados todos os golos em que na jogada a bola tenha, mesmo inadvertidamente, batido na mão ou braço do jogador). Bem sei que o VAR tem ajudado - e muito - nestas questões mais milimétricas, porém, como se tem visto, o VAR não termina com as discussões e, em certos casos, até as agrava.
Continuo sem perceber exatamente o que impede que os árbitros sejam sorteados para cada jogo. É óbvio que há árbitros melhores e piores. Mas também os há isentos e tendenciosos, para me manter nos limites da boa educação. E, se um árbitro tem categoria para apitar um jogo da Liga, deve poder ser juiz num Sporting-Benfica ou num Porto-Sporting ou num Benfica-Porto. Qual é o problema? Falta de experiência? Falta de autoridade? Não acredito que seja essa a justificação. Até porque a maioria dos erros (chamemos-lhe assim) não ocorrem nos grandes jogos, mas naqueles que parecem ter menor grau de dificuldade. Lembro o Feirense-Benfica (o último jogava com o primeiro) a 7 de abril deste ano, quando aos 20 minutos, com VAR e tudo, o 2-0 a favor do Feirense foi anulado. O golo é tão limpo que, ainda hoje, visto nas imagens que a Liga disponibiliza na internet (YouTube) se vê a limpeza. Claro que houve outros clubes beneficiados e claro que o Benfica terá as suas queixas, apenas me refiro a este golo porque ficou na minha memória como o maior escândalo da época.
Por isso, volto à questão: o que impede o sorteio dos árbitros?