Por culpa própria

OPINIÃO08.12.202105:30

FC Porto perdulário só pode queixar-se da sua incrível ineficácia; agora, é candidato… à Liga Europa; versão B do Sporting

I NCRÍVEL a forma como o FC Porto deixou escapar a qualificação anunciada pelo golo de Mohamed Salah em Milão (36’), que foi efusivamente festejado nas bancadas do Dragão como se de um golo portista se tratasse - até era: dessa forma, o empate  chegava. Só que faltava o resto. Francamente melhor do que o Atlético de Madrid até ao inesperado golo de Antoine Griezmann (os craques são assim, ninguém dá por eles até que aparecem…), o FC Porto só pode queixar-se da sua incrível ineficácia: criou e desperdiçou um número suficiente de oportunidades para deixar a questão resolvida muito antes da hora de jogo. A repetição do filme visto no Metropolitano de Madrid e no Estádio de S. Siro, onde os portistas, claramente superiores, foram incapazes de transformar oportunidades em golos - que é sempre o mais importante no futebol, como não se cansa de dizer, carregado de razão, o José Manuel Delgado nas nossas conversas na Bola TV. Medhi Taremi foi mais uma vez o perdulário de serviço e Diego Simeone deve agradecer à falta de frieza do avançado iraniano e facto de continuar vivo na Champions.
Foi pena a maneira como o FC Porto se deixou ir abaixo a seguir ao golo de Griezmann (56’) e ao sururu de que resultou a expulsão de Wendell (70’), até porque depois veio ao de cima o formidável instinto de sobrevivência da equipa espanhola, incapaz de tratar bem a bola, mas sempre muito forte em tudo o que meta resistência, matreirice, capacidade física e peleja dura e pura. Quando Rodrigo de Paul fez 3-0 para o Atletico os adeptos portistas nem queriam acreditar. Sérgio Conceição falha a primeira qualificação em quatro participações na fase de grupos e o FC Porto termina a campanha com cinco pontos e apenas quatro golos marcados - sendo que o último deles contou para nada. O Liverpool passeou ao longo de seis jogos sua enorme superioridade, mas fica a ideia de que o FC Porto perdeu uma oportunidade única de chegar ao fim no segundo lugar, acima do campeão espanhol e do vice-campeão italiano. Agora vamos ver o que o FC Porto faz… na Liga Europa; em teoria é candidato…


LEÕEZINHOS,  ERROS A MAIS

Em Amesterdão, o Sporting deu-se ao luxo de iniciar o jogo com uma equipa muito jovem (média etária: 23,36 anos), confirmando-se a intenção revelada por Rúben Amorim na véspera: rodar, dar minutos a jogadores menos utilizados, fazer crescer a equipa. Não correu bem. O Ajax, que não poupou tanto como o Sporting, tornou a ganhar folgadamente e a mostrar que está noutro patamar. Houve dois golos estupendos dos leões, um de Nuno Santos na sequência de uma jóia de Tabata, que faria mais tarde o 4-2 com um míssil tremendo; mas também houve um penálti escusado de Daniel Bragança a adiantar os holandeses, um lapso clamoroso de Gonçalo Inácio na origem do segundo golo do Ajax, e um escorregão de Nuno Santos na génese do 3-1. Erros a mais, portanto, embora nunca estivesse em causa a superioridade da equipa holandesa.
Este belo Ajax de Erik ten Hag terminou com vitórias em todos os jogos (!), numa demonstração de qualidade e potência que deve deixar de sobreaviso Bayern, Liverpool (outro notável pleno de vitórias…), Chelsea e outros aspirantes ao título europeu. Para o Sporting, que fixou em Amesterdão o seu melhor registo ofensivo na Champions - 14 golos, mais dois que os 12 conseguidos com Marco Silva em 2014 -,  fica uma qualificação sensacional a expensas do bem mais poderoso Dortmund, e a possibilidade de o sorteio lhe destinar um adversário mais acessível nos oitavos de final - nesse particular, o primeiro classificado do grupo G (Lille, RB Sazburgo, Sevilha ou Wolfsburgo, todos com hipóteses de qualificação à entrada da última jornada) pode servir os melhores interesses de Rúben Amorim.
 

 


VENCER E ESPERAR BAYERN NORMAL

Não há grande ciência no que toca ao jogo da Luz: o Benfica tem obrigatoriamente de ganhar ao Dínamo Kiev e esperar que, em Munique, o jogo decorra sob o signo da normalidade; isto é, que o fortíssimo Bayern, mesmo que não se apresente na melhor versão, no mínimo não perca com o pior Barcelona em quatro décadas - creio que é preciso recuar aos anos oitenta do século passado, antes da chegada de Cruyff (1988), para encontrar uma onze barcelonês tão pífio e falho de contundência.
É minha convicção que no final da noite o Benfica estará apurado. Se o conseguir, independentemente do resto, tem de se tirar o chapéu: será sempre um feito para uma equipa portuguesa conseguir a qualificação num grupo com dois colossos absolutos do futebol europeu, para mais não sendo o Benfica uma equipa com expressão nesta competição. Notem que dentro de dez anos ninguém se lembrará que equipa tinha e de que forma jogava o Barcelona da época de 2021/2022. É aproveitar a oportunidade!
O Kiev, claramente uma das piores equipas da presente Champions (apenas um ponto e um golo marcado…), vem defender e jogar para o milhão e meio de euros que o empate lhe garante. O experiente Mircea Lucescu (76 anos), do alto da sua experiência de 1.451 jogos (144 deles na Champions), tem certamente conhecimento do momento benfiquista e fará tudo o que for preciso para enervar o adversário e quebrar-lhe o ímpeto de forma aumentar-lhe a ansiedade e a tensão.
É contra o tempo que Jorge Jesus tem de lutar: quanto mais cedo o Benfica marcar, mais depressa voam as angústias. Quanto mais tardar o golo redentor, mais ecoarão pelas bancadas  da Luz resmungos, azias e impaciências. Que os adeptos esqueçam a dolorosa lição do recente dérbi, apoiem a equipa e não percam de vista o essencial - e o essencial hoje é a qualificação para os oitavos de final.


CRISTIANO, HALLER E ‘LEWA’: PLENOS

O avançado franco-marfinense Sébastian Haller, ao serviço do Ajax, tornou-se ontem o primeiro jogador depois de Cristiano Ronaldo (com o Real Madrid, em 2017/2018) a marcar em todos os jogos da fase de grupos da Champions. De penálti, Haller, 27 anos, apontou o décimo golo na prova em seis jogos (quinto na baliza do Sporting!) e confirmou o duplo estatuto de avançado-revelação e goleador-mor desta edição.
O rei da Champions e Robert Lewandowski entram na última jornada da fase de grupos também com possibilidade de fazerem história. O panzer polaco do Bayern (9 golos) recebe o Barcelona e precisa de um golo para se tornar o terceiro jogador depois de Ronaldo e Haller  a faturar em todos os jogos da fase de grupos. Caso marque duas vezes ou mais, Lewandowski iguala ou suplanta o recorde nesta fase (11 golos), na posse de Ronaldo desde a época de 2015/2016 (Real Madrid). Quanto a Cristiano, goleador-mor da Champions (140 golos), se jogar e marcar hoje frente ao Young Boys, em Old Trafford, torna-se o primeiro a marcar em todos os jogos da fase de grupos… por duas equipas (!). Depois do Madrid (2017), a possibilidade da reedição desse fantástico pleno em Manchester, aos 36 anos de idade (!). Coisa da vida dos goleadores de excepção.