As razões para o falhanço de João Pereira poderão ser objeto de estudo e análise durante muito tempo, a não ser que o Sporting arranque agora (de novo) rumo ao bicampeonato e o último mês e meio seja facilmente esquecido como um pequeno acidente de percurso. É a este cenário que Frederico Varandas se agarrará, numa altura em que o próprio tem muitas respostas por dar (sobretudo não tendo permitido perguntas aos jornalistas na conferência de imprensa de apresentação do novo treinador), e esperando que a última boa decisão da época não tenha sido prender Ruben Amorim por mais uns jogos. A sucessão do treinador que trouxe o Sporting de volta aos títulos seria sempre um trabalho hercúleo e parece agora pouco arriscado dizer que impossível para João Pereira, um técnico ainda sem experiência e comunicação ao nível que devia ter sido exigido. Mas Varandas não ajudou - e quase que o disse ontem. Desamparado pela saída de Amorim quando não contava, reagiu com sobranceria e confiou demasiado nos alicerces de uma estrutura que foi sendo cimentada pelo agora treinador do Man. United. As exageradas palavras de elogio a João Pereira e à forma como o clube estava a preparar a saída de Amorim saíram goradas e hoje dificilmente algum sportinguista se sente mais seguro quando as recorda. Mas ainda não estamos nem a meio da época e há tempo para corrigir erros (sobretudo porque os rivais também os vão cometendo). Frederico Varandas sabe disso - e mostrou-o ontem. Tendo passado mais tempo a justificar a saída de João Pereira do que a apresentar Rui Borges, o presidente deu a primeira ajuda ao novo treinador, que dispensará expectativas demasiado altas. A Alvalade chegou um homem humilde e trabalhador, com algumas provas dadas no futebol português e certamente muita vontade em desfazer as dúvidas. Nesta altura, tendo a acreditar que o técnico terá a vida mais facilitada do que João Pereira. Os resultados têm sido maus, as exibições caíram muito, há jogadores a desvalorizar e os adeptos ainda não recuperaram da tristeza pós-Amorim. Olhando para o seu historial, o próprio Ruben veria aqui uma oportunidade. A João Pereira pediu-se só não estragar, a Rui Borges bastará só não piorar. É verdade que vem aí já um dérbi e que os jogos contra o Benfica valem mais do que três pontos, mas até isso pode, afinal, ajudar: se o Sporting perder, Rui Borges não teve tempo para fazer melhor. Se ganhar, o novo treinador terá - pelo menos - mais tempo do que João Pereira.