Pedras surdas e inertes
Os quartos da Champions abriram janelas de esperança ao futebol português. A sensacional proeza do Ajax ao eliminar a Juventus com uma equipa quase toda feita em casa pode alavancar alguns dos argumentos nacionais para uma aposta na formação que, quiçá, pode dar frutos também a nível internacional. Não será fácil, é óbvio, mas o dinheiro continua a não comprar história, embora possa ajudar a escrever muitos capítulos de contos fantásticos.
A outra lição que devia servir de exemplo aos clubes nacionais veio de Manchester, no fantástico jogo com o Tottenham. Entre a glória e a frustração esteve um passo, no caso o passo à frente de Kun Aguero em relação ao último defensor dos spurs antes de receber a bola e assistir Sterling para este fazer o golo que colocava os citizens nas meias-finais. O golo anulado foi nos descontos e nem é preciso dizer o que estava em jogo. Mas é preciso procurar bem na internet para encontrar palavras ácidas para com o árbitro. Em Portugal, estaria um baile armado que duraria até ao final do verão de 2020, pelo menos
Os ingleses preferiram calar-se, olhar em frente e retocar, refazer, reconstruir para o ano tentarem outra vez a sorte na liga dos milhões que não lhes faltam e na qual procuram, acima de tudo, prestígio e reconhecimento. No fundo, tentarão fazer o mesmo que o Ajax já fez porque, apesar de ter prestígio e reconhecimento, não tem os milhões do City. O caminho para o sucesso pode ser feito de várias formas, mas quem cai tem sempre de se levantar, ou não chega ao destino. E mais vale levantarmo-nos do que nos queixarmos das pedras em que tropeçamos, porque ou as tiramos da frente ou bem se pode falar, que elas são surdas e inertes.
E no caso português do VAR será melhor trabalhar para encontrar uma geração que consiga utilizar o instrumento ajuizando convenientemente os lances como toda a gente vê. Ou não são só surdos e inertes. Têm muitos mais defeitos.