Os génios são evidentes

OPINIÃO05.04.201904:05

Carvalho disse ao mundo que a invasão à Academia foi um momento «chato» mas o crime acontece no dia-a-dia e mais tarde juntou que estava em choque e que aquelas palavras tinham sido mal interpretadas; Fernandes chateou-se com as palavras de Carvalho, ficou em choque e foi-se embora; os sportinguistas interpretaram as palavras e os atos do primeiro, do segundo e de mais uns quantos, chatearam-se, chocaram-se e mandaram Carvalho embora.

Fernandes voltou, Carvalho ficou a pairar tipo nuvem de chuva dissolvente que contamina o ambiente leonino. Em comum, Carvalho e Fernandes têm mais do que o primeiro nome: Bruno. Também se podem encontrar outros traços convergentes, mas com destinos diametralmente opostos. Os dois são as figuras mais mediáticas do Sporting no último ano e meio, mas num estará personificado um passado com muitas sombras negras, noutro a esperança de um futuro melhor em termos desportivos - caso continue em Alvalade - ou financeiramente mais desafogado. Na linha que separa os heróis dos comuns mortais, há várias diferenças.

Há os que os julgam sê-lo apregoando-o aos gritos, exaltando os seus feitos e fazendo promessas que resultam vãs - BdC garantiu, por exemplo, que seria campeão e nunca o foi - e os que apenas prometem dar tudo o que têm e o que não têm para alcançar o sucesso - como Bruno Fernandes fez - e alcançam-no. No caso do médio do Sporting, foi assim. Deu o que tinha e o que não tinha na meia-final contra o Benfica, mas se calhar a raça, o crer e o caráter eram atributos insuficientes. E naquele momento ao minuto 75, o seu pé esquerdo viu um espaço na baliza de Svilar que mais ninguém viu. E aí não foi heroísmo, foi génio. E entre o génio e o heroísmo há algumas diferenças. A principal é que o heroísmo pode ser apregoado e deixar no ar algumas dúvidas, o génio é praticado e, quase sempre, incontestado, tal a sua evidência.