O verdadeiro valor do Desporto
Luís Montenegro, primeiro-ministro de Portugal (Foto: IMAGO)

O verdadeiro valor do Desporto

Desportiva_MENTE é o espaço de opinião quinzenal de Liliana Pitacho, Psicóloga e docente no Instituto Politécnico de Setúbal

O desporto é mais que uma atividade ou entretenimento, e o baixo investimento revela uma negligente compreensão do seu impacto. Após pressão, os 42,5 milhões no orçamento de estado para 2025 foram corrigidos e classificados como apenas «uma inconsistência na classificação dos valores», certo é que refletem sem dúvida uma inconsistência nas políticas públicas. Não se trata apenas dos decisores, também a sociedade que por tantas vezes de forma quase imoral crítica os resultados e prestações dos atletas nacionais permanece silenciosa perante estes números. Não se trata de uma questão partidária, trata-se sim se uma questão de cultura, de mentalidade.

Portugal é um dos países mais sedentários da União Europeia, com 64 % da população a praticar menos de 1h30 de atividade física por semana. A inatividade aumenta em 20 % o risco de doenças cardiovasculares, uma das principais causas de morte. Na infância, 31,9 % das crianças entre os 6 e os 8 anos têm excesso de peso, e 13,5 % são obesas. Apesar destes dados alarmantes, investimos apenas cerca de €40 por habitante no desporto, muito abaixo da média da UE: €113.

Ora serve também este artigo para recordar que o desporto ocupa 7 funções essenciais na sociedade: Função Física (promoção da melhoria da saúde e condição física, bem como prevenção da doenças), Função Psicológica (promoção do bem-estar mental, competências emocionais e estilos de vida saudável), Função Social (promoção da integração social, combate à exclusão social e promoção de competências sociais), Função Educativa (promove a aquisição de valores essenciais à vida em sociedade e o desenvolvimento individual), Função Económica (a indústria do desporto gera emprego e rendimentos, além disso os eventos desportivos têm uma forte componente de atração turística), Função Recreativa (fonte de diversão, lazer saudável, entretenimento e qualidade de vida) e, ainda, Função Cultural (veiculo para a promoção e divulgação de identidade e culturas locais).

Bem sei que o valor foi corrigido! Contudo continuo a considerar que 54.5 milhões previstos de investimento no desporto ficam aquém do desejável para uma sociedade evoluída. O investimento no desporto não é apenas para o desenvolvimento desportivo, não se resume a títulos ou medalhas. Investir no desporto é investir na saúde, na coesão social, na segurança, é investir na educação, na economia e na cultura. O investimento no desporto não trará apenas ganhos na área desportiva, mas poderá contribuir a médio longo prazo para a redução dos custos com a saúde e segurança do país.