NO futebol quem controlar mais vertentes, dentro e fora do campo, é quem está mais próximo de ter sucesso. Ao longo das épocas há momentos marcantes que fazem a diferença. As estruturas devem estar preparadas para esses momentos diferenciadores, através de uma boa leitura dos acontecimentos, fazendo com que o timing das suas decisões contribua de uma forma positiva no desempenho das suas equipas. BENFICA: TIMING DA DERROTA COM O PORTO Aderrota com o FC Porto não pode colocar em causa a grande época que o Benfica está a fazer. Um jogo menos conseguido não apaga tudo o que de bom tem vindo a ser feito. Neste momento, o Benfica é primeiro classificado no campeonato nacional com sete pontos de avanço. A sete jornadas do fim, todos queriam estar na posição que a equipa da Luz ocupa. Existem duas formas de analisar esta derrota: ver o copo meio vazio, permitindo que um dia mau possa abalar tudo o que tem sido construído este ano, ou, por outro lado, analisar pelo copo meio cheio, mantendo a confiança, não dramatizando e encarando os próximos desafios com maior união, concentração e compromisso. O melhor que pode acontecer a uma equipa após uma derrota, como a que o Benfica sofreu, é ter um jogo importante num curto espaço de tempo. O timing do jogo com o Inter é perfeito. Permite aos jogadores e à equipa técnica darem uma resposta diferente e afastarem os fantasmas que podem começar a surgir na cabeça dos jogadores e, sobretudo, na dos adeptos. PORTO: TIMING PARA EXIBIÇÃO CONVINCENTE APÓS alguns jogos menos conseguidos, o FC Porto foi à Luz muito pressionado: por um lado, uma derrota iria permitir ao Benfica ficar com uma mão e meia no título de campeão nacional e, por outro, uma escorregadela deixava o segundo lugar em risco. Para complicar ainda mais a missão, iria encontrar pela frente aquela que, unanimemente, é a equipa que melhor futebol pratica no campeonato. Por todos estes motivos, o jogo com o Benfica representava muito mais do que três pontos. Sérgio Conceição sabia perfeitamente a importância do clássico e preparou a sua equipa ao pormenor. Estrategicamente, condicionou os pontos fortes do adversário, com uma pressão e agressividade constantes sobre o portador da bola, com a forma como conseguiu ganhar as segundas bolas ou como posicionou, de uma maneira astuta, ofensivamente os seus jogadores para o momento da recuperação de bola. Todos estes pontos foram importantes, mas o fator determinante e que fez a diferença no clássico foi a vertente mental. Os jogadores do FC Porto foram fortes mentalmente. Estavam preparados para a adversidade de jogar no terreno do adversário e mantiveram-se estáveis, focados e confiantes nos diferentes momentos de jogo. Numa altura em que muitos atribuíam favoritismo ao Benfica, o FC Porto foi uma equipa consistente que saiu da Luz com confiança reforçada, passando uma mensagem de afirmação para os rivais e para todos aqueles que internamente duvidavam da sua capacidade. Mais uma vez, muito mérito para Sérgio Conceição. SPORTING: TIMING ERRADO PARA PERDER PONTOS NÃO existem boas ou más alturas para se escorregar, mas a verdade é que existem momentos que são decisivos e nos quais não convém falhar. Depois de muitas dificuldades, aparentemente, o Sporting tinha voltado a encontrar a fórmula do sucesso, baseada em quatro pilares fundamentais: confiança que foi validada pela dinâmica de vitórias (em oito jogos, seis vitórias e apenas dois empates, frente ao poderoso Arsenal); segurança defensiva (nos últimos sete jogos só tinha sofrido golos com o Arsenal); alegria e entusiasmo dos adeptos que voltaram a acreditar no potencial da equipa; os rivais diretos (FC Porto e SC Braga) perderam pontos nas últimas cinco jornadas. Numa semana em que se jogava um Porto, o que se pedia ao Sporting era que fizesse o seu trabalho. Nesta altura do campeonato, o mais importante não é jogar bem, mas sim vencer. As equipas vencedoras têm esta característica, são competitivas, são intensas, são determinadas e não facilitam nos momentos decisivos. Com o empate frente ao Gil Vicente, que é uma equipa muito bem organizada, o Sporting retirou pressão ao Sporting de Braga e ao FC Porto que ficam com mais margem para poderem gerir os lugares de acesso à Liga dos Campeões. VARANDAS: TIMING IDEAL PARA FALAR? NA semana que terminou, o presidente do Sporting deu uma entrevista que pode ser dividida em 4 temas fundamentais: abordou os rivais e as questões judiciais tanto de FC Porto (no passado) como de Benfica. De uma forma geral, concordo com a forma macro como analisou os temas, deixando a ideia de que o dirigismo português deve ter outro rumo. Não posso concordar com a forma micro como ‘tratou’ algumas questões, por vários motivos. O primeiro porque não é com ofensas, acusações ou com palavras como ‘nojo’, feitas na praça pública por um presidente a outros, que o futebol português vai evoluir. Segundo, porque entrou por campos que não lhe dizem respeito, como a gestão interna do Benfica. Ora, como exemplo, aparentemente, o Benfica contratou um serviço fictício de informática, com o objetivo de ‘desviar’ dinheiro do clube. A questão é saber para onde foi esse dinheiro. Frederico Varandas (FV) não pode afirmar que o dinheiro foi para um saco azul com o intuito de comprar agentes desportivos. Quem é que lhe garante que esse dinheiro não voltou para dentro do Benfica? E se assim foi, este seria um caso de desvio e gestão danosa do Benfica e sem influência para o futebol português! O segundo ponto da entrevista foi a forma como, com fair-play, assumiu que o Benfica é um justo líder do campeonato. Reconhecer o mérito dos adversários devia ser algo normal em Portugal. O terceiro tópico foi a abordagem à centralização de direitos de TV, referindo que «não vale a pena preocuparmo-nos com a centralização quando temos corrupção do pior». Isto vai ao encontro do que tenho referido. As reuniões da Liga, em que presidentes se sentam uns ao lado dos outros, não são mais do que fotografias bonitas, porque no limite o que impera é uma paz podre, sem uma união que se torna fundamental para podermos tornar o nosso produto, a nossa liga, em algo diferenciador e atrativo. O último tema abordado foi a evolução do Sporting e, aqui, há muito mérito para FV pela forma como está a trabalhar. Desenvolver o centro de estágios, tentando capacitá-lo com melhores condições; manter a aposta na formação como base de sustentação nesta fase do clube; reequilibrar o clube em termos económicos. Deixo apenas um reparo, transcrevendo as palavras que FV utilizou: «Não basta dizer que somos diferentes, temos de o mostrar». Quando FV abordou o facto de o Sporting já ter capitais próprios positivos, realçando a forma como a sua equipa está a conseguir fazer o Sporting ‘respirar’ novamente, de uma forma honesta e sincera, deveria ter referido que o seu clube teve aquilo que mais nenhum outro teve e que lhe dá uma vantagem considerável: um perdão de divida de aproximadamente 80%. Para terminar este tema, e depois de abordar o conteúdo, deixo várias interrogações: em termos estratégicos o que ganhou FV com esta entrevista? Numa semana em que o FC Porto se deslocava à Luz com a pressão de SC Braga e Sporting, FV acabou por retirar os holofotes do jogo colocando-os sobre si. Será que este foi o melhor timing para falar? BENFICA FORA DO CAMPO: TIMING OU FALTA DELE? OBenfica tem vindo a ser ‘bombardeado’ por casos judiciais fora das quatro linhas. De todos eles há dois que são mais mediáticos e que deveriam merecer a atenção dos seus dirigentes e adeptos: o da aparente contratação de serviços de uma empresa de informática e o caso relacionado com um suposto suborno de jogadores de futebol, protagonizado por César Boaventura. De uma forma simples, o Benfica podia esclarecer estas duas questões. Relativamente à primeira, bastaria explicar o motivo pelo qual pagou 1,6M de euros, quais os serviços prestados e qual a mais-valia para o clube. Já no caso do suposto suborno de jogadores, por parte de César Boaventura (que não é funcionário do clube) e a confirmar-se a tese do Ministério Público, bastaria emitir um comunicado referindo que o Benfica iria processar a referida pessoa por utilizar o nome do Benfica de uma forma ilícita e sem conhecimento do clube, denegrindo a imagem e a marca do Benfica, perante patrocinadores e possíveis investidores. Se no caso das faturas falsas o timing para esclarecimentos já passou (este caso já existe há vários anos), na questão de César Boaventura o Benfica ainda vai a tempo de marcar uma posição. Não sei e não percebo o motivo pelo qual o Benfica ainda não esclareceu os seus associados, de forma transparente, sobre estas duas questões. O pior que se pode fazer é permitir que o silêncio ensurdecedor deixe cada um tirar as suas conclusões. Como diz o ditado popular: «Quem não deve não teme». A VALORIZAR Sérgio Conceição. Mais uma enorme demonstração da sua qualidade. Estrategicamente e mentalmente preparou a equipa para a difícil deslocação à Luz. A vitória alcançada teve claramente a sua ‘mão’. A DESVALORIZAR Inter . Nos últimos oito jogos tem quatro derrotas, três empates e uma vitória. Já não ganha desde 5 de março. A dois dias de jogar na Luz os quartos de final da Liga dos Campeões, a confiança da equipa não está no patamar desejado.