O tabuleiro de xadrez para 2025
Frederico Varandas, Fernando Gomes e André Villas-Boas, rostos de um futebol português que promete novidades em 2025 (Foto Imago)

O tabuleiro de xadrez para 2025

'Mercado de valores' é o espaço de opinião semanal de Diogo Luís, antigo jogador

O ano de 2024 ficou marcado pelas eleições do FC Porto. Só os mais distraídos é que devem ter ficado surpreendidos com o resultado final das eleições azuis e brancas. É cada mais percetível uma preocupação crescente com a gestão que é feita fora dos relvados.

O aumento da exigência por parte dos adeptos assusta muita gente que não está habituada a ser colocada em causa. A queda do ex-presidente do FC Porto, o mais titulado de sempre, com apenas 20 por cento dos votos a seu favor, é um exemplo claro da vontade de mudança da parte do universo portista. Este desejo de alteração teve a ver com a forma pouco transparente, descuidada e até amadora com que os destinos da FC Porto SAD vinham sendo geridos.

Complementarmente, a ausência de explicações em torno do aumento do passivo, da crescente alavancagem ou das antecipações constantes das receitas futuras, foram motivos que fizeram com que os sócios quisessem uma rutura com o passado. Nos próximos meses deveremos conhecer mais pormenores sobre a gestão que foi feita, até porque está em curso uma auditoria forense, que tem como objetivo clarificar os adeptos e, em simultâneo, perceber o motivo pelo qual, financeiramente, a SAD do Porto se encontra num estado de enormes dificuldades financeiras.

Será que nas eleições do Benfica os adeptos encarnados irão querer cortar com o passado como aconteceu no FC Porto? E na FPF, o que vai ser mais importante na altura de definir o próximo presidente, o caminho que o futebol português deve seguir ou os interesses de cada um individualmente?

A entrevista de Frederico Varandas

O presidente do Sporting deu uma entrevista na qual abordou questões que lhe foram colocadas de forma direta, como é normal. A primeira conclusão que retiro da entrevista é que Frederico Varandas está mais confortável a comunicar. A segunda é que não hesitou em tentar tirar proveito do contexto atual, dizendo o que os seus adeptos queriam que dissesse. Embora tenha uma opinião, não me parece que faça sentido que o presidente do Sporting tenha de falar sobre os casos ou as acusações dos rivais.

O que defendo é que os presidentes devem, acima de tudo, falar do que controlam, que são os seus clubes, e defender sempre os interesses da instituição que presidem. No futuro se algo vier a ser provado, aí sim, podem ou devem ter uma tomada de posição pública. O que me parece é que, muitas vezes, para tirar proveito de uma oportunidade, e para ficarem bem com os seus adeptos, os líderes esquecem-se que estão todos no mesmo barco. Se o Benfica vier a ser condenado, o Benfica será o maior prejudicado, mas todos os outros também o serão por arrasto.

A imagem do futebol português ficará manchada. Não estou com isto a dizer que não se deva fazer justiça, bem pelo contrário. A justiça terá de fazer o seu caminho e apurar os factos. O que pretendo realçar é que os líderes devem ter a perspicácia de falarem do que controlam e de realçarem e valorizarem os valores que estão inerentes ao desporto e cada uma das instituições que lideram. As comparações acabarão por ser feitas pelos adeptos ou outros agentes.

Também é importante não esquecer que todos os clubes têm telhados de vidro. O importante é fazer com que certos modos operandi do passado não se repitam no presente e no futuro, sobretudo nos clubes que cada um lidera. Como ficou provado nas eleições do FC Porto, nos dias de hoje, as vitórias não são o único fator de avaliação de uma administração.

Sinceramente, acredito que um dos objetivos da entrevista de Frederico Varandas foi o de se posicionar e ganhar destaque como a face da mudança do futebol português. Por que é que isto tem importância? Porque no próximo ano há eleições para a FPF. Com esta tomada de posição, e o constante reforço dos valores com que lidera o Sporting (e com os quais concordo a 100 por cento), o presidente do Sporting pretende ganhar influência nos desafios que o futebol português tem pela frente.

Eleições da FPF

Todos percebemos a importância do ano de 2025 para o futebol em Portugal. As eleições na FPF são um dos eventos que irão marcar o ano desportivo. Com a organização conjunta do Mundial em 2030, muitos serão os desafios que a federação irá ter. Existem vários caminhos possíveis. Deve-se continuar o trabalho que tem vindo a ser feito? Cortar por completo com o passado? Ou dar sequência ao (bom) trabalho que tem sido realizado, mas com algumas alterações que tornem tudo mais transparente?

Neste primeiro jogo de xadrez, Nuno Lobo apresentou-se, falando várias vezes de Pedro Proença, que ainda não deu esse passo publicamente. O processo eleitoral está centralizado nas associações de classe, associações distritais e clubes profissionais. Como romântico do futebol, o que gostava é que cada um tomasse a sua decisão com base naquilo que for melhor para o futebol português. Gostava que as eleições ficassem marcadas por um tom positivo, onde se apresentassem propostas, projetos e a visão de cada candidato. Porém, temo que nada disto se irá passar.

Espero estar enganado, mas tenho a sensação de que iremos ter uma campanha eleitoral virada para as acusações e para o condicionamento daqueles que têm o poder de decidir o futuro da FPF. O que desejo é que os decisores não decidam com base em promessas, mas em convicções e que os futuros quadros da FPF sejam compostos por competência e não por promessas para ganharem votos. Neste ponto, poderá ser interessante que cada um dos candidatos apresente quais serão as pessoas que vão fazer parte da sua equipa diretiva.

Por fim, isto ficará ainda mais confuso caso Pedro Proença confirme a sua candidatura à FPF, deixando a Liga de clubes sem líder, numa fase determinante que corresponde à negociação da centralização dos direitos de TV. A acontecer, esta poderá ser mais uma oportunidade para os clubes demonstrarem qual o caminho que pretendem que a Liga siga: o da continuidade da profissionalização e de uma maior autonomia das decisões ou continuarem a ser os clubes a decidir em causa própria.

É nestes temas que os presidentes das grandes instituições devem dar a sua opinião e apontar o caminho certo, que deverá passar por ter uma Liga cada vez mais independente e que possa tomar decisões para o bem do futebol português, focando-se no crescimento coletivo, na valorização da marca da Liga e não na vertente individual.

Artur Jorge

Está a fazer uma grande época no Brasil, ao leme do Botafogo. Está com um pé na final da Taça dos Libertadores, depois de vencer na primeira mão das meias-finais o Peñarol, por 5-0. Está também a liderar o Brasileirão.