O Sul sem Norte

OPINIÃO05.05.202206:55

As tutelas do futebol não podem incluir quem não consegue manter a independência com decisões que reforcem a credibilização do jogo

APOIO e diálogo são sempre mais importantes do que confrontos criados para dividir e reinar! O silêncio mantém a distância e a ignorância. O País tem de ser um todo coerente, sem exceções que criam profundas divisões e contrastes que não podem acontecer nos tempos atuais.
Da beira-mar plantado saíram para o mar desconhecido navegadores e cientistas, sem medo da aventura a descobrir. Essa coragem de ousar, de superar lendas e trovões, deveria unir o País num mesmo sonho: o desenvolvimento comum. O tempo mostra-nos que não é assim! O centralismo totalitário tornou-se capital e o resto paisagem. Na Lisboa tudo se passou a decidir, dos investimentos aos desperdícios, como hábitos correntes, enquanto o País luta, com armas desiguais, para conseguir pequenas conquistas, com esforço titânico e sem a devida atenção, para além dos cortejos de eleições. Desenvolver o País com um todo nunca foi atitude colocada em discussão. Por outro lado, há nortenhos que quando chegam à capital mudam de entusiasmos e até de sotaque, aumentando uma corte que espera benefícios por devoção praticada. Em todas as áreas, Lisboa beneficia de fortes e constantes apoios (exemplo: a CM Lisboa acumula milhões de desperdícios e nada acontece…). As diversas áreas da nossa vida coletiva potenciam sempre apoios externos para engrandecer a capital e o resto do País continua a aguardar justiça. São projetos para novo aeroporto e outras iniciativas imparáveis, que gastam livremente, enquanto o interior se desertifica, empobrece e não produz o que poderia resolver alguns problemas da nossa economia deficitária. No futebol acontece o mesmo destino: a FPF pode até ter um presidente nascido no Norte, mas as decisões dos órgãos dessa entidade revelam sintomas que podem ser consideradas provocação ao país fora de Lisboa. Veja-se o processo sobre a vitória alargada do FC Porto ao Portimonense e respetivo treinador, como exemplo negativo, injusto e a lançar suspeições, para mais numa fase de conclusão da época futebolística. As tutelas do futebol não podem incluir quem não consegue manter a independência com decisões que reforcem a credibilização do jogo e dos resultados. Os decisores, muitas vezes, acrescentam divisões intoleráveis, momentos infelizes que ferem o futebol e alimentam conflitos sem fundamentos, esquecendo jogos anteriores, nos quais os diversos treinadores confirmaram a gestão dos seus plantéis em função do adversário e do calendário. Há vários exemplos noticiados. A legítima opção de Paulo Sérgio valeu uma vitória sobre o Moreirense que garantiu legalmente a manutenção na principal liga nacional. A ANTF deveria ter-se manifestado em defesa do treinador contra a abertura de um processo inaceitável e com intenções estranhas, ou só a APAF se manifesta e de uma forma corporativa? A justiça é um valor que nunca pode ser desprezado. Decisões imperfeitas perdem completamente a credibilidade e a confiança. Mudar os decisores federativos é uma urgência. Na fase final de mais uma época ficam indícios de desvalorização das regras e do rigor indispensável. As lideranças têm de ser mudadas, assim como a transparência das decisões nos momentos exatos e não quando fica a ideia de ser mais oportuno. Os aventureirismos com base no clubismo são também a origem de uma cultura de ódio lamentável. Para o futebol avançar é imprescindível cumprir os procedimentos adequados em todas as situações. Que não surjam mais casos Mateus que penalizaram a imagem internacional do futebol nacional. É urgente escolher quem tenha competências técnicas mas também entenda o universo do jogo. Por outro lado, fala-se tanto do título que se esquecem os clubes que podem descer de divisão (por vezes, com causas externas e erros de arbitragem) numa viagem a um enorme prejuízo que pode originar graves danos de subsistência (para quando os apoios monetários a quem desce de divisão?). Quando os factos comprovam tendências que se repetem, não basta falar em transparência, mas praticá-la sem hesitação. Os últimos jogos vão ser decisivos e é imperioso que se criem condições, a todos os níveis, para que o futebol seja uma festa e nunca uma guerra. Inclusivamente, os festejos devem ser programados, para evitar distúrbios e confrontos. São estes pormenores que não permitem ao futebol nacional alcançar maior prestígio e ainda mais vitórias internacionais. A ausência de entendimento do exercício das funções de presidentes de clube, em todas as dimensões, e ainda os textos inflamados com lamentáveis fanatismos dos designados diretores de comunicação deveriam ser disciplinados para evitar potenciar o clima de guerra, afinal um dos grandes adversários do futebol. Os diversos comentários televisivos acabam por ser a face visível de uma triste realidade do momento que o futebol vive. O que ressalta para os adeptos é a ideia de tratamento diferenciado para os clubes. Pacificar o futebol, dignificá-lo com as decisões dos órgãos da FPF, fortalecer a cooperação entre a FPF e a Liga, antecipando desafios que possam surgir para dispor de solução adequada, evitando imagem de preferências e de soluções diferentes para casos iguais é uma urgência! Relembro a sanção aplicada a adeptos e ao Guimarães que, por um pormenor, acabou em nada. A luta contra o racismo perdeu mais uma oportunidade, por alargamento no tempo do esquecimento! O presidente da FPF deveria, no início e no fim de cada época, publicar uma comunicação, para motivar o desenvolvimento qualitativo e a convivência entre clubes, apresentar uma síntese do que aconteceu, como se poderá elevar, efetivamente, o nível do nosso futebol e também a obra conseguida. Finalmente, avaliar a performance dos vários órgãos da FPF, solicitar mais dedicação para aumentar a celeridade e conseguir formar mais árbitros (mais jovens e mais competentes), porque alguns já evidenciam incapacidade para essas funções. Basta estar atento aos jogos das meias-finais da Champions, e não só, para se discernir a enorme distância em relação a nós. Não seria possível construir um plano de formação de arbitragem que fosse fisicamente mais exigente (permitindo um acompanhamento mais próximo), assim como uniformizar critérios para evitar decisões contraditórias, o que não ajuda a qualificar o jogo e levanta dúvidas que nunca são úteis?  
 

Paulo Sérgio viu CD da FPF abrir processo por causa da equipa que apresentou no Dragão 


PROMESSAS HABITUAIS  

FUTEBOL 2030: a nossa Federação de Futebol aponta cinco objetivos futuros: tecnologia a transformar o jogo, crescimento do número de mulheres no futebol, desenvolvimento dos e-sports, fontes originais e estáveis de financiamento e incapacidade de prever as consequências das incertezas (doenças e guerras). Pensar em grandes organizações pode ser uma boa decisão, somente se o País investir o suficiente. Como irão arranjar verbas para o desporto se falta tanta coisa às populações? Anunciar como prioridades a Infância e o Crescimento implica espaços qualificados, formação específica e remuneração adequada; o Futebol para Todos e Todas carece de construção de novas estruturas; quanto à Qualidade do jogo já temos treinadores competentes, muitos talentos, mas continua a faltar visão integrada do Futebol (e do Desporto), bem como a sua sustentabilidade.
Há anos que se apontam metas imprescindíveis, mas nunca atingidas. Quando às pretensões para aumentar o número de atletas para mais do dobro, são muitas as dúvidas, porque já foi prometido antes e nunca alcançado. E mesmo com o crescimento do futebol feminino Portugal e a FPF continuam na cauda do número de praticantes, porque nunca foi desígnio nacional, somente desejo para uma eventual manhã de nevoeiro. Não basta definir 15 programas que vão ser implementados dentro de dias, é preciso concretizá-los e, caso regresse o esquecimento, teria de haver sanção, demissão e solução! O futebol e o futsal, mesmo com as suas dificuldades, já são dos maiores promotores da imagem de Portugal no Mundo.
Se essas metas da FPF e do Governo não forem cumpridas, em que ficamos?! Esses são desafios para quem entrar de novo, porque quem os criou não estará no poder. Como exemplo, relembremos os compromissos do anterior secretário de Estado da Juventude e do Desporto, de que já ninguém se recorda. 
 

REMATE FINAL  

Sérgio Conceição e o FC Porto mantêm-se no topo da classificação, após o jogo em que venceram o Vizela, que revelou um entendimento do futebol que valoriza o jogo.

O Regulamento Disciplinar da FPF, em fase de consulta pública, que vai entrar em vigor na próxima época, contempla sanções mais duras para o assédio e outros comportamentos.

Que a época desportiva, em todas as competições, termine com o devido acompanhamento das entidades respetivas, para evitar situações que possam envergonhar o nosso futebol.

A UEFA excluiu a seleção feminina de futebol da Rússia do Euro-2022, que decorrerá em Inglaterra no próximo julho, sendo substituída pela Seleção Portuguesa.