1 fevereiro 2024, 10:18
O dinheiro já amealhado pelo Benfica na Champions feminina
Equipa de Filipa Patão garantiu quase um milhão de euros. As diferenças para a realidade masculina...
A equipa feminina de futebol do Benfica conseguiu um feito histórico, mas o feito maior é o da maturidade da cultura portuguesa
A assinalada e assinalável qualificação da equipa feminina de futebol do Benfica para os quartos de final da Liga dos Campeões não representa, apenas, o sucesso de um clube, do futebol do país e de um saudável crescimento na qualidade competitiva do desporto no feminino. Representa muito mais do que isso, porque assinala, com um resultado desportivo, o progressivo avanço de uma cultura nacional que, pouco tempo depois do 25 de Abril, ainda levava muitos portugueses a abrandarem os seus carros na estrada, quando viam Rosa Mota, Aurora Cunha, Fernanda Ribeiro a treinarem-se para os Jogos Olímpicos e as mandavam para casa coser meias, que essa coisa do desporto não era próprio de meninas, que deviam ser criadas como princesinhas do lar, prontas a satisfazerem os caprichos dos machos familiares.
1 fevereiro 2024, 10:18
Equipa de Filipa Patão garantiu quase um milhão de euros. As diferenças para a realidade masculina...
Muitos daqueles que não viveram esses tempos ou que já os esqueceram e que se atrevem à irracionalidade histórica de os desejar de volta, penso que ainda olham o feito da equipa feminina do Benfica com um certo desdém, procurando, na desvalorização do feito histórico, a razão possível para deitarem as suas más consciências.
Portugal mudou muito desde há cinquenta anos e admitindo que nem sempre mudou para melhor, mudou em aspetos essenciais da vida, como o da liberdade ou dos avanços significativos nos direitos da igualdade de género.
Quando Rosa Mota e Fernanda Ribeiro foram campeãs olímpicas, o desporto feminino explodiu em Portugal. Muitas jovens portuguesas despiram complexos e enterraram séculos de submissão social. Apesar disso, enquistaram-se conceitos sobre o que devia e não devia ser o desporto feminino, como se o desporto não fosse um elemento essencial na formação dos jovens (rapazes e raparigas) ou como se o desporto fosse mais um elemento de segregação de género. Assim, a ginástica, a natação, o hipismo, com alguma tolerância, o atletismo ou o ténis eram aconselháveis à mulher. Não os desportos de contacto, como a luta e alguns jogos coletivos, não modalidades de maior desenvolvimento muscular, as quais, garantiam, masculinizavam o corpo. Mas o pior de tudo era o futebol.
Como se sabe, os primeiros Jogos Olímpicos da era moderna não consentiam participantes femininos e a evolução apenas se afirma com o advento da revolução industrial e com o deflagrar das duas guerras mundiais (1914/1918 e 1939/1945). Foram tempos em que por falta de homens disponíveis para trabalhar, os lugares nas fábricas, nas empresas e também nos estádios foram sendo ocupados por mulheres que agarraram a oportunidade e avançaram numa luta secular por mais direitos e maior reconhecimento do seu papel na vida ativa das sociedades.
O futebol foi uma das últimas barreiras. Era um jogo de homens. Praticantes e espectadores. Foi difícil, para muitos conservadores tradicionalistas, aceitarem a ideia de que, pelo menos nas bancadas, poderia ser um jogo de família, que fosse além de uma relação masculinizada entre pai e filho.
Como seria natural que acontecesse, o futebol feminino cresceu mais forte nos países mais desenvolvidos e de níveis culturais mais elevados. Os Estados Unidos, onde o soccer é uma importante atividade escolar, e também nos países do norte da Europa.
Levou tempo a chegar a Portugal e, ainda há poucos anos, continuava a ser visto como uma aberração. Muito já mudou. Mérito da FPF e dos clubes. Mérito de parceiros que acreditaram e se tornaram aliados preciosos. E é por tudo isto que o sucesso do futebol feminino se alinha com uma esperançosa maturidade cultural do país.
As claques do SC Braga decidiram boicotar as meias-finais e a final da Taça da Liga, que hoje mesmo se despede no modelo em que é conhecida. Podiam contestar a menor presença de clubes, como o finalista Estoril, e que vão ter mais dificuldade em participar, mas o que contestam é a internacionalização da prova. Lamento dizer, mas a ação foi mal calculada. Ninguém notou no estádio e poucos acompanham o protesto. Pelo contrário, a promessa de internacionalizar a prova é bem aceite e o futebol português precisa, mesmo, de se mostrar.
O campeonato nacional da justiça mantém-se ao rubro e continua em aberto o título de campeão. Há muitos candidatos, mas ainda é cedo para se fazerem previsões, porque em cada jornada surgem resultados inesperados. No jogo mais recente, a duas mãos, aconteceu um empate. De um lado, a equipa de Albuquerque; do outro, a equipa de Sócrates. Dois treinadores experientes e com grande qualidade de jogo. Vai ser preciso saber esperar pelas próximas jornadas e ver o que acontece. Ao que se diz, ainda há muitos jogos por jogar...