Opinião O Sporting está a intrometer-se na bicefalia Benfica-FC Porto
Benfica e FC Porto, cada qual com os seus problemas conjunturais, deparam-se com um Sporting mais forte e a intrometer-se como real 'player' na bicefalia que marcou as últimas décadas
Não teria sido preciso viver este sábado louco para perceber que o Benfica está, entre os crónicos candidatos ao título, na posição mais complicada no arranque da temporada 2024/2025. Se calhar também não teria sido preciso esperar por este arranque de temporada para perceber que tudo se estava a compor no sentido de acontecer aos encarnados exatamente o que aconteceu. Nenhum clube deve ser gerido de fora para dentro, mas os sinais eram tantos que estava evidente a razão da maioria dos adeptos ao reclamarem a saída de Roger Schmidt no verão.
Ninguém, como Rui Costa, saberá os detalhes que levaram à decisão de prescindir, agora, do treinador, ou quais o conduziram a mantê-lo, há dois meses, contra tudo e quase todos. A decisão foi de risco (tantos exemplos no passado, no Benfica e noutros clubes!) e esta seria altura de mostrar firmeza e convicção. Não foi. Foi apenas mais um episódio igual a tantos outros.
No meio da confusão que se pressente no Benfica para os próximos meses, há um ponto em que o presidente tem toda a razão: a época não está perdida. Nenhuma época de qualquer equipa está perdida ao fim de quatro jornadas, e também aqui não faltam exemplos a prová-lo, a começar por uma em que o provável futuro treinador levou o Benfica ao título.
Vítor Bruno, treinador do FC Porto, teve a mesma lucidez após a derrota frente ao Sporting. Reconheceu os méritos do adversário, que neste momento parece realmente um passo ou dois à frente dos outros, mas frisou que «ninguém é campeão nem ninguém perde o campeonato à 4.ª jornada».
Não são posições comparáveis. Rui Costa é presidente de um clube que tem respirado razoável saúde financeira e, até à temporada passada, tem correspondido em termos desportivos. Vítor Bruno é treinador de um clube que sofreu convulsão nunca vista em quase 50 anos e vive enormes dificuldades financeiras.
E depois há o Sporting, algo que por vezes a contemporânea bicefalia Benfica-Porto parece esquecer. Sim, há de novo um terceiro player no futebol português, que esteve, e durante muitos anos seguidos, nas situações por que Benfica e FC Porto passam agora.
É cedo para vaticinar o que será esta época, e ainda bem. Mas já é tarde para todos saberem o que querem do futuro. Depois será apenas futebol: uns ganham umas vezes, outros outras. Adeptos, negócio, mercado e indústria saberão agradecê-lo.