O regresso aos estádios… e às AG sem nexo

OPINIÃO07.10.202107:00

Com a Seleção, a Taça de Portugal em Belém e o jogo na Turquia para a Champions, só vou poder usar a Gamebox no dia 23… mas são quatro jogos seguidos em casa, até 3/11

O futebol parece estar de volta com aquela dinâmica que merece. Os estádios voltam a poder ter lotações normais, os bilhetes de época (Gamebox) foram postos à venda e a seca que durava desde o dia 8 de março de 2020, curiosamente o primeiro jogo com Rúben Amorim a treinador (fingido, porque lhe faltava aquele curso que tudo lhe ensinou). Foi contra o Aves, em Alvalade; jogo estranho, com duas expulsões da equipa visitante nos primeiros 20 minutos, e uma vitória por 2-0, mesmo assim só construída na segunda parte. Não deslumbrou!
Toda a época 2020/2021, em que o Sporting se sagrou campeão, foi vista pela TV. Tem as suas vantagens (repetições, por exemplo), mas tem imensas desvantagens, quase todas emocionais.
Na minha inocência de sócio há mais de 50 anos, pensei que os sócios que amam o Sporting da mesma forma do que os maridos que batem nas mulheres tinham desaparecido. Depois de um ano fantástico, com a Taça da Liga, a vitória no Campeonato e consequente entrada direta na Champions, os ânimos estavam serenados. Qual o quê! Bastou uma AG, faz hoje oito dias, onde se discutiu a aprovação de contas, para se saber que há quem não desarme. Como disse Miguel Braga, «Os sócios que votaram contra na AG, votaram contra quê?». Pois ninguém percebe, como não se percebem os insultos, insinuações e calúnias que alguns, que se dizem sócios, fazem nas redes sociais. Recebo denúncias anónimas, sem quaisquer elementos de prova, de quem destrata o presidente do Sporting, alguns dos seus atletas e mesmo funcionários. Enfim, é uma doença.
A convocação de nova AG para o dia do jogo com o Moreirense é uma solução inteligente, porque os sócios já que têm de deslocar-se ao estádio podem, do mesmo passo, votar. Mas, se me permitem uma opinião, não é método que possa transformar-se em norma.
Queria ainda deixar claro - e já o disse publicamente em A BOLA TV - que não acho maravilhoso os dirigentes do Sporting receberem prémios (que são devidos e justificados) enquanto o clube não tiver uma situação financeira sólida. Claro que é uma opinião subjetiva; os dirigentes da SAD têm direito aos seus objetivos fixados, e não devem ser prejudicados. Mas, eles próprios, poderiam e deveriam dar um exemplo fantástico. Posto isto, votaria (e votarei, se a questão se puser) a favor das contas do clube, e penso que este ainda tem alguma dívida de gratidão para o que os dirigentes têm feito.
 

750 SÓCIOS?

OSporting é um grande clube, não pode ficar refém de um punhado de sócios. Se na Assembleia Geral de quinta-feira passada, contava com cerca de 750 sócios, pouco mais de 400 chegam para derrotar tudo e todos. E isto significa que estamos mal estruturados. Uma instituição com a plêiade de modalidades que tem, campeão europeu de futsal (e que com muitos jogadores contribuiu para a grande vitória de Portugal no Campeonato do Mundo), campeão nacional de futebol, vencedor da Taça da Liga em futebol, campeão nacional de hóquei, de futsal, de basquetebol, além de diversas outras modalidades, de que se destaca o atletismo feminino e o ténis de mesa e, ainda, campeões de judo, de tiro, goalball (em que é campeão europeu feminino, e nacional em masculino), um clube desta dimensão não pode estar dependente de 400 sócios com tendência para arruaceiros.
A questão está em como solucionar este tipo de situações. Na última AG eu poderia ter aparecido (e tenho bastantes votos), mas não o fiz. Porquê? Porque os arruaceiros, além de insultarem e falarem e interromperem e atacarem tudo o que está à frente, intimidam quem não está por eles. Se conhecerem alguém que pague quotas e Gamebox para, nos atos mais importantes do clube - as AG - ser insultado, levem-no a um psicanalista.
Pessoalmente, e já tive oportunidade de aqui o escrever e de o dizer a quem de direito, sou favorável à existência de sócios mandatários, como no Real Madrid ou no Barcelona. Bem sei que em Portugal não existe esse modelo, mas o Sporting foi precursor em tantos aspetos da vida dos clubes que bem poderia ser, também, neste.
A ideia é definir um número de membros da AG que são eleitos pelos outros sócios em listas, por método de Hondt. Fica assegurada a proporcionalidade, ficam (se conseguirem) representados os arruaceiros, mas também todos  os outros sócios que votam. E não são 700, mas muitos milhares. Além disso, o presidente da mesa da AG tem o registo de todos os elementos presentes e pode estabelecer limites para cada fação falar, de modo a que não sejam sempre os mesmos a bater na mesma tecla. Dir-me-ão que isso é entregar o clube a uns poucos. Eu respondo que isso acontece agora: não fui à AG nem ninguém me representou ali.
O sócios que propuseram - e bem - uma segunda volta para as eleições para o Conselho Diretivo do SCP, compreendem bem a importância da representatividade. Deve ser maioritária no executivo; mas a proposta que faço, torna as decisões da AG igualmente maioritárias. Nunca mais haverá Assembleias com 750 pessoas a representar menos de 4000 votos.
 

O CAMPEONATO

A derrota do Benfica em casa com o Portimonense (ao que parece com algum azar, não vi, estava a ver Portugal ganhar o Mundial de futsal), colocou o campeonato nacional, de novo, num plano quase igualitário para os chamados três grandes. Se quatro pontos de avanço à sétima jornada não é um fosso impossível de transpor, um ponto apenas à oitava é como estar empatado. O Benfica ainda não jogou com os da frente - FC Porto, Sporting ou SC Braga - ao passo que Sporting e FC Porto já jogaram, assim como SC Braga e Sporting. Ou seja, para já, o Sporting é a equipa com o arranque mais puxado e, apesar das duas derrotas (uma delas inacreditável, em casa com o Ajax) na Champions, não perdeu em Portugal, e tem os mesmos pontos que no ano passado, se analisarmos as mesmas equipas e jogos. Além disso, agora que é tempo de Seleção, contribui regularmente com Palhinha, e a partir deste momento, também com Matheus Nunes para o esforço nacional, além do lesionado Pote. É a equipa com mais portugueses e a que mais jogadores tem na equipa de Portugal.
Além disso, o Sporting tem, este ano, jogado sem Pedro Gonçalves devido a lesão, e eu convenço-me que quando ele entrar e Nuno Santos recuar, tendo Sarabia na direita e… é o problema que eu vejo, a falta de um ponta de lança, um striker, mas admitamos que Paulinho vai ao lugar… e, portanto, com Paulinho no meio, tornar-se-á numa equipa de ataque muito mais temível.
Já aqui deixei claro que o Sporting vencer, de novo, o campeonato é um sonho muito difícil de concretizar. Mas temos de correr atrás dos sonhos, agora que, apesar da falta de sorte, o Benfica já assentou os pés no chão, e viu que isto não era uma época onde todos se ajoelhavam à sua passagem.
O campeonato está quente; um ponto apenas separa o trio do costume, e na mesma jornada em que o Sporting recebe o Moreirense, vai o Benfica a Vizela e o FC Porto a Tondela. Já não há jogos fáceis para ninguém. Antes disso, a meio da semana, o Sporting já foi à Turquia defrontar o Besiktas, o FC Porto recebeu o Milan, e o Benfica o Bayern. São agendas cheias e partidas, que dirão muito sobre o futuro europeu de cada equipa. No campeonato, mais ponto, menos ponto, os três manter-se-ão em primeiro.
 

Na passada quinta-feira os sócios do Sporting reuniram-se em Assembleia Geral


APITO EXPLICADO

O ex-árbitro Duarte Gomes, que já aqui declarei meu guru, escreveu um livro muito interessante - ‘O futebol explicado no relvado’. Repleto de QR Codes, de modo a que no telemóvel possamos ver os lances e dar o nosso palpite, é um livro que nos ensina muito, e obriga a ser mais humildes com a difícil tarefa de ajuizar os lances de um jogo. Além do lado pedagógico, há que referir que no lançamento do livro, no final da semana passada, estava toda (ou quase toda) a gente que tem uma palavra a dizer no futebol.
 

RUI COSTA 

Não vou ser hipócrita e dizer que não gosto de Rui Costa, só porque ele tem uma grande possibilidade de ser o presidente do Benfica. Na verdade, como jogador e como pessoa, sempre me foi agradável. Mas confesso que não entendo como se pode ter sido vice-presidente de Luís Filipe Vieira e nunca ter dado por nada… o mesmo se pode dizer de outros, alguns que muito estimo e de quem fui colega como jornalista.
 

JOÃO ALMEIDA

Depois de Joaquim Agostinho, surgiram bastantes bons nomes no ciclismo nacional. Mas, que me lembre, nenhum com tanto êxito como João Almeida. O terceiro lugar que ontem conseguiu na prova Milão-Turim, prova que é feito de uma fibra especial de que os ciclistas necessitam. Como Agostinho.