O que parece!

OPINIÃO10.12.202105:55

A atmosfera que rodeia o futebol do Benfica já nem permite dar valor ao sucesso na Champions

POUCAS vezes desde que regressou ao Benfica, Jorge Jesus teve a estrelinha que acabou, agora, por ter naquele inacreditável falhanço do jogador do Dínamo Kiev em frente à baliza encarnada do então já desamparado Vlachodimos. Certo que Yaremchuk, primeiro, e Rafa, logo a seguir, tinham desperdiçado a primeira grande oportunidade de golo do jogo. Mas o que realmente impressionou foi o modo como o jogador do Dínamo Kiev não foi capaz de fazer golo a meia dúzia de metros da baliza deserta e sem adversário que o pudesse perturbar. Que me lembre, foi realmente das poucas vezes que Jesus foi abençoado pela estrelinha desde que voltou ao Benfica, no verão de 2020.
No estado em que as coisas estão, com o clima que envolve o treinador e a equipa a tornar-se cada vez mais difícil de suportar, e o ar em volta cada vez mais difícil de respirar, aquele falhanço foi verdadeiramente uma bênção para um Benfica que precisava tanto de vencer este último jogo da fase de grupos da Champions para lutar pela proeza de chegar aos oitavos de final, algo que, pelos vistos, a tóxica atmosfera que rodeia Jesus (externa mas, porventura, também internamente) já nem deixa valorizar. O que é pena!
Parece agora estar na moda dizer mal do treinador do Benfica - para muitos, já não se trata do que possa ou não fazer, nem se trata de discutir o jogo que a equipa apresenta, trata-se apenas de criticar, ainda, o seu regresso ao Benfica e de o considerar, com todo o desrespeito que isso possa implicar, impróprio para as águias, como se Jorge Jesus fosse, ele e apenas ele, a raiz de todos os males da Luz e a única razão que impede o clube de voltar a poder sonhar com o sucesso. Se perde, Jesus é simplesmente um incapaz; se ganha, não faz mais do que a obrigação e ganha, como foi, agora, o caso, porque o adversário não vale nada.
Não era, compreensivelmente, fácil para o Benfica este desafio com o Dínamo Kiev, na Luz, depois do tremendo golpe que lhe desferiu, cinco dias antes, um fantástico e muito competente leão, campeão nacional em título. Por isso, apesar da boa primeira parte e dos dois merecidos golos de vantagem, o Benfica já não conseguiu, na segunda, disfarçar a falta de frescura e confiança, a ansiedade e a insegurança. Baixou as linhas e na realidade pôs-se a jeito de sofrer o que não queria.
Diz Jorge Jesus que a equipa «não sabe jogar assim». Talvez quisesse dizer o que não disse, porque evidentemente o Benfica tem de saber jogar o que o jogo (e o adversário) lhe impõe. Pode ter querido Jesus dizer que o Benfica se sentiu muito desconfortável a ver o Dínamo Kiev a ter a bola e a crescer no jogo. Se foi isso que quis dizer, compreende-se; se não foi, errou! 
Na verdade, o Benfica pareceu então com muita dificuldade em defender como um todo, os jogadores encarnados voltaram a mostrar dar-se mal com o choque, com o duelo sempre que este exige o corpo a corpo, ficaram, não raras vezes, muito distantes uns dos outros, tomaram más decisões, executaram mal o que até parecia relativamente fácil de executar, e foram-se perdendo no quase - quase bom passe, quase bom cruzamento, quase bom remate, quase boa desmarcação. Quando a cabeça parece não estar bem, como dá ideia  ser claramente o caso, o corpo é que paga. Quanto maior a intranquilidade, pois, maior o desconforto.
É sempre o treinador, evidentemente, o maior responsável, sobretudo quando as coisas correm, mesmo que momentaneamente, pior do que se queria. Mas não terão, também, os jogadores a responsabilidade de fazer melhor? Tal como o FC Porto (como mais adiante se verá) também o Benfica teve, ainda por cima, a infelicidade, creio, de ver na Luz uma arbitragem muito incompetente no campo (do alemão Deniz Aytekin) e, sobretudo, no VAR: pelo menos uma grande penalidade, descaradamente clara, por assinalar a favor da equipa portuguesa, e duas entradas, uma sobre João Mário, outra sobre Gilberto, absolutamente merecedoras de cartão vermelho direto. É rever, com olhos de ver, os dois lances! Estaríamos, agora, a comentar, porventura, um jogo muito diferente, ainda que nada disso já consiga atirar para segundo plano a atmosfera verdadeiramente negativa que rodeia o futebol do Benfica e, particularmente, o seu treinador. 
É o Benfica, a meu ver, em boa parte, responsável por ter deixado as coisas chegarem ao ponto a que já chegaram, deixando Jesus cada vez mais só e mais entregue, até, a erros próprios, sobretudo na comunicação que não consegue - e esperava-se que conseguisse - fazer para se ligar aos adeptos e à própria equipa.
Se na vida, realmente «nem tudo o que parece, é», julgo que no futebol é o oposto - normalmente, o que parece, é! E o que parece é que o próprio Benfica tem vindo também a permitir o banho-maria em que parece estar a ser cada vez mais, e mais confrangedoramente, cozida a figura de Jorge Jesus, como se não tivesse o treinador das águias as competências que tem, a carreira que apresenta, o sucesso que foi conseguindo, as marcas que foi deixando, mas apenas por parecer que nunca deveria, afinal, ter regressado ao Benfica. Inaceitável razão!
Está o Benfica no direito de não querer Jorge Jesus para o futuro, como está Jorge Jesus no direito de querer cumprir o seu contrato e continuar a lutar por todos os (ainda) intactos objetivos do Benfica para esta época. O Benfica ou defende intransigentemente o treinador ou paga-lhe e rescinde-lhe o contrato. Difícil é aceitar que fique a meio caminho. É sempre a pior das opções!

NO Dragão, o FC Porto não foi capaz de transformar em golos o claro domínio do jogo com o Atlético de Madrid, nem foi capaz de ser melhor, desta vez, no combate emocional. Virou-se o feitiço contra… o feiticeiro?! Na tentativa de ter a sua equipa sempre no limite da entrega, da raça, da determinação, num estilo e num comportamento que também procura, muitas vezes, tirar vantagem do conflito e do combate emocional (de que é exemplo um banco onde suplentes, staff técnico e médico costumam deitar achas para todas as fogueiras que apareçam…), Sérgio Conceição viu, agora, a sua equipa deixar-se dominar pelo clima de guerrilha num momento decisivo do jogo.
Estavam os madrilenos a vencer por 1-0 quando vieram as duas expulsões (uma para cada lado), mas se tivesse ficado a jogar com mais um (Wendell foi expulso apenas três minutos depois de Carrasco sair do jogo), é muito possível que o FC porto desse a volta e conseguisse com que, hoje, o futebol português estivesse a celebrar o que nunca celebrou - ter três equipas nos oitavos de final. Foi pena!  
A equipa portista viu, na verdade, o árbitro francês Clément Turpin parecer deixar-se conduzir pela pressão criada pelos madrilenos e expulsar um jogador do FC Porto que não fez absolutamente nada, na minha opinião, para merecer ser expulso. Surpreendeu-me, com toda a franqueza, que o próprio Sérgio Conceição não tenha defendido Wendell, acabando até por expor o jogador brasileiro a uma responsabilidade que, a meu ver, ele não teve. Fica a ideia (porventura errada, mas fica) que Wendell foi expulso pela pressão criada junto do banco dos madrilenos. No sentido em que se deixou levar pelas emoções, provou o FC Porto do próprio veneno. E permitiu que o adversário o apunhalasse no final sem dó nem piedade, com os contra-ataques que costumam, na verdade, decidir mesmo muitos dos grandes jogos. 
Foi o que Sporting fez ao Benfica na Luz e o que o Ajax fez ao Sporting em Alvalade, por exemplo. Banhos de bola? Na verdade, pareceram-me, sempre, bem mais competência estratégica, competência na execução, boa ligação coletiva,  inspiração, eficácia no contra-ataque e a sempre indispensável pontinha… de felicidade. Já o Benfica tinha feito o mesmo ao SC Braga, também na Luz. Hoje, jogar com a possibilidade de usar o espaço para o contra-ataque (as chamadas transições rápidas, na linguagem modernista do futebol) é muitas vezes decisivo para vencer mesmo os grandes jogos. Estou a lembrar-me, por exemplo, da ironia do Wolverhampton-Liverpool do fim de semana passado, quando o Wolverhampton de Bruno Lage passou o tempo quase todo a defender muito bem e foi conseguindo manter o 0-0 até aos 90+4’, e acabou por perder o jogo com um golo sofrido em… contra-ataque, imagine-se. Inacreditável!
Voltou, porém, o Ajax, ainda assim, agora, em Amesterdão, frente ao campeão português, a mostrar-se uma equipa realmente diferenciada, mesmo com tantos jovens, e com um futebol superior, que ajuda a equipa a vencer mesmo sem precisar… do contra-ataque.
Não era já este confronto importante para a qualificação, mas quis o Ajax, talvez por respeito ao jogo e à competição, apresentar a melhor equipa (dos indiscutíveis, creio que apenas ficou de fora Dusan Tadic), ao contrário do Sporting, por direito de (legítima) opção do treinador Rúben Amorim, que gere a equipa e os momentos como bem entende (com o mérito e o sucesso que se sabe), mesmo quando faz jogar seis minutos o menino Dario Essugo, que, até agora, só tinha cinco pobres minutos na equipa, feitos na época passada, e é agora o mais jovem leão de sempre a estrear-se na Champions.
Para mostrar o quê?!