EDITORIAL O que ‘destapou’ o Estoril...
Desde o mestre Pedroto que nenhum treinador do FC Porto tinha tanto respaldo presidencial
A vitória do Benfica em Chaves, onde Roger Schmidt continuou o caminho da arrumação da equipa de trás para a frente, não tendo ainda chegado à eficácia que pretenderá do setor mais avançado, teve um efeito triplo: acalmou as hostes encarnadas; projetou uma luz ainda mais intensa sobre o dérbi do próximo domingo; e capitalizou plenamente o desaire caseiro do FC Porto frente ao Estoril.
Aliás, o triunfo dos canarinhos no Dragão, que é, até hoje, o facto mais saliente desta jornada, teve o condão de destapar a paz podre que se vive no FC Porto, maquilhada por alguma alquimia de Sérgio Conceição, que tem feito omeletes com poucos ovos. E mais uma vez foi o treinador portista, que tem recebido de Pinto da Costa uma confiança como não se via desde os tempos do mestre José Maria Pedroto, a servir de caixa de amplificação de um mal-estar que já ninguém procura, sequer, desmentir. Dando o peito às balas em noite de derrota dura e de assobios, basicamente o que Sérgio Conceição veio dizer é que se sente sozinho, carregando sobre os ombros uma responsabilidade que também sendo dele, não é apenas dele. E dizê-lo, desassombradamente, como o treinador do FC Porto fez - o que aconteceu na conferência de imprensa de sexta-feira provocou, imediatamente, uma sensação de déjà vu - traduziu por um lado a força que sente a respaldá-lo, e por outro a vontade de que o mundo saiba que apesar de continuar empenhado no clube, está longe de se sentir satisfeito com as condições que lhe estão a ser proporcionadas. Aqui chegados, é inevitável trazer para cima da mesa o ato eleitoral que decorrerá (provavelmente no primeiro semestre) em 2024, e nem sequer é preciso, para demonstrar o impacto do que Conceição afirmou, especular sobre o efeito das suas palavras no eleitorado azul-e-branco e nas hipóteses de vitória de André Villas-Boas, putativo candidato. A questão é muito simples: quem continuará na equipa que Pinto da Costa apresentará nas eleições? Terão lugar personalidades que, mesmo sem serem referidos nomes, são afrontadas publicamente pelo treinador? E se essas personalidades se mantiverem, manter-se-á o treinador?
Esta temporada que classifica para a Champions dos 100 milhões (e sabe-se como andam no vermelho as contas azuis e brancas...) e termina com eleições dragonianas que prenunciam uma forte competição, não só não é, de facto, parecida com nenhuma outra, como é capaz de ganhar vida própria nos meses que se seguem...