O Natal entre o bem e o mal
Um aplauso sincero ao Feirense pela forma como tratou os adeptos do Marítimo
I. À hora que escrevo esta crónica, o clássico de Alvalade está longe de ter o seu início, portanto não irei falar aqui do que terá acontecido de mais relevante no Sporting-FC Porto da «noite passada».
Mas podemos e devemos falar do outro jogo grande da jornada, que colocou frente a frente SC Braga e Benfica, porque houve ali indicadores diferenciados que merecem realce e partilha.
Para quem não sabe, a primeira parte da Pedreira teve apenas seis faltas e quase 70% de jogo útil. São números muito, muito bons para a realidade nacional, que refletem não apenas o foco dos jogadores naquilo que mais importava - o jogo em si -, mas também a estratégia definida pela equipa de arbitragem, permitindo que a bola rolasse o maior tempo possível. Quando todos querem, todos conseguem. E bem.
No meio disso tudo, ganhou quem pagou bilhete e fez a viagem para ver o jogo in loco. Ganharam também aqueles que pagam mensalmente canal premium para assistir, em casa, a jogos de futebol da nossa liga.
Na segunda parte, os números não foram tão apelativos - era normal que assim fosse -, mas os dados finais não deixaram de constituir registo invejável: apenas vinte infrações assinaladas e, mais importante, quase 67% de tempo com a bola a rolar ininterruptamente.
Melhor do que as estatísticas, a qualidade técnico-tática do jogo, o comportamento globalmente correto de todos os intervenientes (adeptos incluídos) e uma arbitragem que, com poucos erros, muito contribuiu para um espetáculo que valeu a pena ver. Assim sim.
II. No extremo oposto, a notícia de novas agressões a um árbitro de futebol, desta vez nos Açores.
Aconteceu durante o AFCR Fraternidade-Vitória FC (jogo de seniores a contar para a Taça da AF Horta): um jogador do Fraternidade agrediu a soco o árbitro, na sequência de uma decisão que aquele tomou. Ao cair no chão, o juiz açoriano foi novamente agredido, agora a pontapé, por um segundo jogador do clube. Pouco depois, um terceiro (tinha sido substituído, mas reentrou em campo) atingiu-o também a soco. Os três agentes da autoridade presentes no local tiveram dificuldade em controlar a situação com eficácia. Honra seja feita a alguns jogadores do Vitória FC, que tudo fizeram para proteger a equipa de arbitragem.
A quadra natalícia não parece dar princípios a criminosos deste calibre uma espécie de espírito, que continuam a achar que bater, magoar e traumatizar os outros lhes dá valentia e personalidade. Não dá. Quem agride assim, vale zero como atleta.
Estou expetante para saber quais as consequências desportivas e criminais que sairão daqui.
Quando sensibilizar não chega, a única maneira de evitar esta selvajaria é através de sanções céleres e exemplares. A ver se desta vez a justiça funciona da forma que todos esperamos.
III. E para acabar em beleza, um aplauso sincero ao Feirense pela forma elevada, respeitosa e elegante como na última jornada tratou os adeptos do clube visitante ( Marítimo), oferecendo-lhes refeições ao intervalo. Felizmente, em matéria de bem receber, a equipa de Santa Maria da Feira não é única: há muitos outros emblemas, dessa e de outras categorias, que são exemplares na forma como recebem as equipas forasteiras e respetivos adeptos. São este tipo de iniciativas que nos fazem acreditar que o futebol, quando quer, é uma das maiores escolas de virtude de qualquer sociedade funcional.
A todos os leitores do jornal A BOLA desejo um Santo e Feliz Natal. Boas Festas