O guarda Abel do século XXI
Ressurgir a ligação entre fruta e Pinto da Costa é um ‘déjà vu’ cómico mas ‘horribilis’
EM pleno 2021, ressurgir a ligação entre fruta e o dirigente máximo da FC Porto SAD é um déjà vu cómico mas horribilis. Moreira de Cónegos fez-me recordar 1992, quando Pinto da Costa assegurou na RTP que não tinha qualquer comando sobre um tal de guarda Abel. Como o leitor alienado da negritude do futebol português tem direito a questionar-se sobre esta figura, eu ajudo a clarificar: Abel Campos era um graduado da PSP que esteve em funções nas Antas durante anos. Era de tal forma relevante que dispunha de um cartão emitido pela própria FPF que lhe permitia seguir a comitiva portista e ter acesso a qualquer recinto. E o que é que mais gostava de fazer? Espalhar o caos sobre todos os daltónicos que não conseguissem reconhecer o azul e branco. A presença desta figura foi de tal forma impactante que João Santos, presidente benfiquista à altura, decidiu bater-se para que fosse publicado o relatório da Administração Interna que descrevia, entre tantos outros factos, agressões a dirigentes nas Antas, presença de armas de fogo no estádio do Restelo e até ameaças de morte numa tomada de posse do saudoso Salgueiros. Mas falemos da personificação do guarda Abel do século XXI. O intermediário Pedro Pinho decidiu agredir o repórter de imagem da TVI. O CD da FPF aplicou-lhe uma medida cautelar de suspensão preventiva pelo prazo máximo de 20 dias. Nem cócegas lhe fez. Agora cabe à Comissão de Instrutores da Liga acusar ou sugerir o arquivamento. Se não entender como agressão ou sua tentativa (131.º, n.º 2 e 3), vamos parar ao free pass da inobservância de outros deveres. Haja memória das ofensas a jornalistas como Carlos Pinhão, Eugénio Queirós, Marinho Neves, João Freitas, José Saraiva, José Manuel Freitas, Martins Morim. Ao menos fugiu o humor a Pinto da Costa. O mesmo que, numa entrevista a José Eduardo Moniz, considerou um «bom negócio» a construção de um hospital para todos os feridos à sua volta.