O futebol profissional traduzido em números
#Minuto 92 é o nome do espaço de opinião quinzenal de Ricardo Gonçalves Cerqueira, jurista, gestor de empresas e sócio do FC Porto
No momento em que se avistam eleições para a Liga Portuguesa de Futebol Profissional, torna-se ainda mais oportuno analisar o impacto económico que este setor tem no contexto nacional. Se, decorrente do momento eleitoral, se assiste à discussão sobre o perfil que melhor se enquadra para levar por diante a profissionalização e modernização do atual modelo competitivo e quem estará mais preparado para assegurar uma negociação equilibrada sobre o tema da centralização dos direitos de transmissão televisivos, nada mais pertinente do que decompor o setor do futebol em números.
Pois bem, na época transata, foram mais de 1.000 milhões de euros de volume de negócios gerados. O futebol profissional contribuiu com cerca de 660 milhões para o PIB nacional, o equivalente a 0,25% da riqueza produzida no País. Verificou-se, ainda, uma taxa de crescimento anual composta de 8%, desde a época 2019/20. Evidências que se encontram vertidas no relatório recentemente publicado pela consultora EY, que retrata o impacto económico, cultural e social da indústria do futebol profissional em Portugal.
A acompanhar o relevante contributo para o PIB, também as contribuições fiscais registaram um crescimento assinalável. De acordo com o estudo, o setor foi responsável pelo pagamento de 268 milhões de euros ao Estado, onde se inclui IRS, Segurança Social, IRC entre outros impostos, mais 18% do que na época anterior. A Liga Portugal concentrou 89% do impacto fiscal apurado, o que equivale a 238 milhões de euros, sendo que o pagamento de IRS e as contribuições sociais se fixaram nos 216 milhões de euros, 81% do total.
O relatório faz também incidir alguma luz sobre o tema das assistências nos recintos desportivos, contabilizando o número de espectadores presentes nos jogos disputados ao vivo nos 36 estádios da Primeira e Segunda Ligas.
Regista-se, aqui, um incremento de 10% face à temporada anterior, com natural destaque para a Primeira Liga, que contabiliza cerca de 3,7 milhões de adeptos presentes, traduzindo uma ocupação média de 66% e um crescimento de 15 pontos percentuais face à época anterior.
Sem surpresas, os três grandes representam uma componente muito significativa destes números, colocando 2.282.449 adeptos nos 17 jogos que realizaram em casa, o que se traduz em praticamente 62% do total das assistências nos recintos desportivos.
De acordo com os dados oficiais analisados, o Benfica movimentou o maior número de espectadores, cerca de 956 mil, seguindo-se o Sporting com 681.727 e o FC Porto com 644.503. No segundo escalão, marcaram presença nos estádios cerca de 556 mil adeptos, com uma ocupação média dos recintos na ordem dos 23%.
O futebol profissional revela também uma dimensão considerável no que concerne à criação de emprego. Pela primeira vez, o número de trabalhadores envolvidos neste setor de atividade ultrapassou os quatro mil, com os 18 clubes da Primeira Liga a assegurarem quase 73% dos postos de trabalho, num total de 3.239 pessoas, dos quais 989 jogadores, 322 treinadores e 1.928 funcionários nas áreas de suporte, gestão financeira e administração.
Ademais, verifica-se um incremento das remunerações associadas. Entre a Liga Portugal e as Sociedades Desportivas participantes nas competições profissionais, o valor das retribuições atinge agora os 424 milhões de euros, acima dos 364 milhões da temporada transata.
Outra dimensão sujeita a análise foi a da movimentação de jogadores ocorrida durante os mercados de transferência, em particular no da janela de Verão. Com a entrada de 377 jogadores e a saída de 364, registou-se um saldo positivo de 151 milhões de euros. Em 2023/24 foram transferidos 230 jogadores da Liga Portugal para ligas estrangeiras (63% do total), o que comprova que o nível médio dos atletas a atuar em Portugal tem conhecido uma evolução positiva.
Não restam, por isso, dúvidas de que a Primeira e Segunda Liga são hoje plataformas de competição onde estão reunidos alguns dos melhores e mais capazes profissionais de futebol no contexto nacional e cujo percurso os levará, irremediavelmente, para os palcos internacionais.
Contas à parte, o futebol continua a ser um elemento essencial na promoção e dinamização de um sentimento de identidade e pertença coletiva que se estende muito para lá das divergências e altercações clubísticas. Os mais de 4 milhões de adeptos presentes nos estádios nacionais reforçam a convicção de que não estamos unicamente a tratar de um jogo de 11 contra 11, mas de um património nacional que promove, semana após semana, a união e a cultura desportiva do país, dando um contributo relevante para a economia nacional.
Por estas razões a eleição do próximo presidente da LPFP reveste-se de uma importância única, pelo que os clubes têm a obrigação acrescida de eleger a personalidade com a necessária experiência e competência técnica, que pelo seu percurso pessoal, profissional e politico acrescente a credibilidade e a mundividência que a instituição impõe.
A valorizar: Vítor Pereira e o Wolverhampton
Recebeu um Wolverhampton praticamente condenado à descida ao Championship, mas em resultado do trabalho competente que desenvolveu nas últimas semanas, está muito próximo de alcançar a tão almejada permanência na Premier League. Bravo!