André Villas-Boas, presidente do FC Porto, e Fernando Gomes, antigo líder da Federação Portuguesa de Futebol e atualmente na presidência do Comité Olímpico de Portugal (Foto: MIGUEL NUNES)
André Villas-Boas, presidente do FC Porto, e Fernando Gomes, antigo líder da FPF e atualmente na presidência do COP (Foto: MIGUEL NUNES)

O futebol português, os machos alfa e o interesse nacional!

OPINIÃO06.04.202510:00

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Na última semana temos sido brindados com episódios que não prestigiam em nada o futebol português. De uma forma muito frontal, estes tristes acontecimentos vêm apenas reforçar o que tenho vindo a escrever ao longo dos anos: a classe dirigente está a anos luz da qualidade que apresentamos no treino e no jogo.

Realidade 'versus' ficção

Se há uma coisa que os últimos dias nos vieram demonstrar é que estamos a viver uma paz podre no futebol português. André Villas-Boas referiu-o de uma forma direta. Está, cada vez mais, comprovado que nos têm tentado mostrar uma imagem do futebol nacional que é completamente diferente da realidade. A propaganda da suposta união entre todos os clubes da Liga não é mais do que uma imagem bonita que nos quiseram passar, com o intuito de ajudar uma ou outra pessoa a atingir objetivos pessoais. Ao dizer que nas cimeiras da liga «se fala zero de futebol», André Villas-Boas expôs toda uma campanha e retórica que tem vindo a ser construída nos últimos anos, por outras palavras, vivemos o futebol do faz de conta. Contudo, o presidente do FC Porto foi mais longe ao concordar com aquilo que os mais críticos têm vindo a dizer: com esta aparente normalidade estamos a perder cada vez mais espaço para os países rivais e o resultado poderá ser o de acabarmos todos a competir na Liga Liga Conferência. Sinceramente não vejo os grandes dirigentes preocupados com o futebol português. Vejo sim, uma grande preocupação com os seus egos e com a sua quinta… André Villas-Boas apenas fez aquilo que os líderes devem fazer que é separar a realidade da ficção!

Apesar disto, dois dias depois seguiu as estratégias que tinha identificado e criticado, ou seja, tentou criar ruído em torno do candidato à presidência da Liga, que não apoia. Não basta dizer que não há união e depois fazer o mesmo que todos os outros fazem!

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Interesse nacional

O duro episódio entre Pedro Proença e Fernando Gomes é mais um exemplo da forma como o futebol português tem sido gerido nos últimos anos. Neste caso prefiro retirar os pontos positivos. E quais são esses pontos? Em função das cartas enviadas por Pedro Proença, e de seguida por Fernando Gomes para as 55 federações, percebemos que, afinal, os clubes e as associações se preocupam com o interesse do futebol nacional. A quantidade e a celeridade com que saíram comunicados a demonstrar preocupação com o interesse do futebol português, por podermos perder uma representação no comité executivo da UEFA, foi impressionante. Devo referir que muitos desses comunicados pareciam ser escritos pela mesma caneta!

Por que é que destaco este ponto? Porque não deixa de ser incrível a forma como valorizamos a importância de uma representação fora do país, mas não temos a mesma preocupação e exigência com a forma como o futebol português internamente está a evoluir. Será que é do interesse do futebol nacional que um presidente da Liga de clubes saia a meio do mandato mais importante para se candidatar à FPF? Isto é interesse nacional ou interesse pessoal? O mais engraçado é que Pedro Proença, por ser presidente das Ligas europeias, fazia parte do comité executivo da UEFA, contudo, além de deixar a Liga de clubes num momento sensível, deixou também a presidência das Ligas europeias e, por consequência, a representação que tinha no comité executivo da UEFA. Ora, será que fez isto pelo interesse nacional ou interesse pessoal?

Os clubes que tão rapidamente reagiram ao episódio Proença/Gomes não têm nada a dizer sobre tudo isto? E por que motivo as associações e clubes que emitiram comunicados não exigem que se façam reformas dos quadros competitivos em Portugal? Ou que se tomem medidas no sentido de criar condições para que o futebol em Portugal tenha outro desenvolvimento? Por fim, destaco a incoerência do comunicado de um dos clubes grandes em Portugal que fez um apelo à «necessidade de estabilidade, bom senso e responsabilidade na gestão do futebol nacional para que o país continue a ser um interlocutor respeitado e relevante no panorama internacional».

A incoerência reside no facto do presidente deste clube, em muitas situações, ter chamado «bandido» a um presidente de um clube rival. Será que o bom senso, estabilidade e responsabilidade só se aplicam aos outros?

Proença 'versus' Gomes

Sinceramente não me parece que o mais importante seja perceber quem tem ou não tem razão em todo este processo. Já havia futebol antes e continuará a haver futebol depois de Pedro Proença e Fernando Gomes. Quem gosta e quer ver evolução no futebol português não pode ficar satisfeito com o que se passou. O que nós devemos exigir é que os nossos dirigentes se saibam comportar. Não temos de ser amigos uns dos outros, mas devemos ser profissionais.

Neste caso, o que deveria ter acontecido, pelo bem do futebol português, é que os dois se tivessem fechado numa sala, tivessem dito as coisas que queriam dizer um ao outro, apertassem as mãos e fizessem o seu trabalho. Se quisessem ajuda, Villas-Boas poderia ter montado o ringue de boxe como fez no FC Porto! Sinceramente e tendo em conta todos os acontecimentos dos últimos dias e dos últimos anos, até é preferível não termos ninguém a representar-nos na UEFA. Não vejo ninguém no futebol com esse perfil.

Digo isto, porque os nossos dirigentes que estão no futebol pensam, sempre, primeiro em si próprios e só depois no futebol nacional, como nos têm provado ao longo do tempo. Existe ainda outro ponto que justifica a minha opinião. Para alguém nos representar na UEFA deverá viver na realidade e não na ficção, que é o que tem acontecido no futebol em Portugal! Por último, com a não eleição de um representante português no Comité da UEFA, se calhar é a altura ideal para nos focarmos no desenvolvimento das nossas competições e na criação de condições para que possamos evoluir de uma vez por todas. Isto sim é do interesse nacional!

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