O futebol indomável

OPINIÃO02.06.202206:55

A equipa que mereceu conquistar a dobradinha soube superar fatores externos, não com revolta mas com maior entrega e envolvimento

Ainfluência negativa e bélica de programas televisivos, que fomentam ódios clubísticos, impede desportivismo e alimentam alienação. Os jogos permitem a opinião livre, com objetividade e contrariam quem não quer ver o que salta à vista, preferindo adotar o veneno destilado por profissionais da intriga. Há especialistas do confronto que conseguem captar a atenção dos que preferem ser guiados rumo ao precipício desolador.

Muitas vezes, essa forma de estar, sem autonomia, insultando sem perceber, destrói sementes de democracia e falsa sensação de entendimento da liberdade. A incapacidade de assumir responsabilidades, cria divisões inaceitáveis, com riscos acrescidos e um caos emocional, por preguiça mental ou mesmo incapacidade de reflexão. Esses fazem recordar grupos alimentados por ignorância e malvadez, que se juntam para destruir a ambição e a verdade. Bastava pensar: o que estou a fazer, qual a razão, como devo agir com inteligência e seriedade, como gerir a emoção? Nunca por ódio, intolerância ou violência!

Conseguir entender os outros, pode ajudar a criar espaços de diálogo que ajudem a construir ambientes de liberdade. Por vezes fica a impressão de que líderes (sejam desportivos, políticos, empresários ou comentadores) revelam dependência de guarda pretoriana de propaganda, que não permite racionalizar, mas unicamente atuar, seguindo uma onda criada por especialistas da lavagem cerebral, em grutas de ignorância e maldizer.

Cada um é um mundo e, por isso, deve explorar as suas capacidades, identificando valores e direitos que ajudem a aprofundar o diálogo, nunca feroz, nem violento. Podem manter diferenças e contradições, mas sempre depois de pensar, nunca por vícios, tiques sem sentido ou imitação vazia.

A perfeição é uma ilusão e um desafio: sempre se pode fazer mais e melhor, num processo sistemático, mantendo divergências mas procurando pontos comuns. Podemos ter ideias diferentes mas o diálogo sem limitações e com grande abertura, permite o privilégio do saber e de mudar, avançando em descobertas inesperadas e imparáveis.

A época concluída bateu recordes, divulgou e fortaleceu talentos, mas essencialmente valorizou o trabalho em equipa, pela equipa e para a equipa. O modelo do campeão é, sem dúvida, um exemplo entre outros, que deu resultados evidentes em todos os aspetos e forjou a coesão que superou todas as contrariedades, injustiças e erros: a confiança e a entrega, com a raça habitual, é um dos caminhos para a vitória só possível com dedicação total e cumprindo as regras e procedimentos ajustados a cada adversidade. Naturalmente, a equipa que mereceu ganhar e conquistar mais uma Dobradinha soube superar fatores externos, não com revolta mas antes com maior entrega e envolvimento. As relações humanas entre a equipa, na qual há quem jogue e quem aguarda oportunidade, foram sempre excecionais e as lideranças do treinador, do presidente e do capitão foram exemplares. Como humanos é impossível a perfeição, mas a última época ficou mais próxima, em todas as áreas. FC Porto foi sempre equipa que entrou para ganhar e sem dar alternativa a outro resultado, mesmo quando um árbitro impediu um recorde internacional para Portugal: dessa vez, um fraco árbitro não evitou um grande campeão. A aposta nos jovens não criou problemas nem divisões e revelou-se um dos muitos exemplos fantásticos: por exemplo, Marchesín, craque internacional, manteve a humildade até ao fim e jogando menos do que certamente esperava; sempre que entrava deixava a imagem de profissional exemplar, aguardando melhor decisão, embora o sonho de jogar no Mundial seja um universo que ninguém gostaria de perder. Porém, em ano de Mundial (atípico e para mais tarde se comentar desde a escolha do Catar, a desumanidade em relação aos trabalhadores que construiriam os estádios, as mortes, injustiça e prepotência desumana) até ao último momento, fica sempre espaço e a vontade de jogar… 
 

FC Porto celebrou a Taça num estádio «sem as condições mínimas para a festa do futebol» 


Sobre o designado Estádio Nacional, convém esclarecer algumas questões pertinentes: a obra foi enorme, de acordo com a política da época para promoção da unidade social, inaugurada a 10 de junho de 1944. Depois do desfile de milhares de atletas, com as bancadas repletas de público e a Tribuna com as figuras do poder, o Sporting venceu o Benfica. Em 2022, estamos num outro tempo, numa forma de viver completamente diversa, com valores democráticos e, por isso, esse estádio nacional não apresenta condições mínimas para o jogo da Festa do Futebol. A aridez do estádio, os degraus que afastam o poder do povo, foi conceção de uma determinada época. Hoje, o futebol atingiu outra dimensão e o designado Estádio Nacional é espaço sem conforto nem serviços públicos indispensáveis. As finais, após cada equipa subir os degraus para receber as medalhas e a entrega da Taça ao capitão da equipa vencedora, está fora do tempo e da modernidade. Hoje, para além dos estádios serem mais confortáveis, com cadeiras individuais a toda a volta, a magia do futebol é sempre no relvado e criam-se espaços com palcos originais para saudar quem participou, quem recebeu medalhas e a equipa que levanta a taça da vitória. Quem se desloca para entregar os troféus, desce as escadas e somente junto aos heróis entrega a Taça, que dará a volta de honra, respeitando os adversários. Fará sentido, num jogo em que duas equipas (e adeptos) pertencentes a regiões afastadas de Lisboa são obrigadas a deslocar-se à capital, para jogar num estádio sem as qualidades mínimas? O centralismo não pode continuar a impor um poder sem sentido!

É chegado o momento das verdades e suposições: novos treinadores, novas aquisições e vendas de passes dos jogadores, inúmeras promessas de trabalho excelente e previsões de vitórias anunciadas por muitos, com novelas de entradas e saídas de craques, sempre com linguagem de milhões, empréstimos e regressos, promessas de treinadores que não venceram, outros que partem para dar lugar a salvadores, criando cenários habituais em que todos antecipam as glórias que pensam que vão conquistar. O problema é que a realidade ainda tem muita força.

A nova época vai apresentar inovações estranhas, em função da também estranha escolha do Catar para o Mundial-2022, a ser disputado numa época inédita, entre 21 de novembro e 18 de dezembro. Assim, as nossas competições profissionais serão interrompidas (entre novembro e dezembro), depois reiniciadas. Nunca tal aconteceu porém, com o crescimento dos investimentos no futebol, como área que potencia verbas muito elevadas e que se apoderam do jogo e da tradição para servir alguns interesses, permitindo negócios com valores sempre imparáveis. Os treinadores apresentam os relatórios precisos do que foi feito e das prioridades a adquirir para cada setor, hipóteses de jogadores para saírem, por empréstimo ou não. Entretanto, estamos na fase dos empresários e contratos, das dispensas e esperas por craques a chegar, num movimento constante no qual a rapidez é essencial, mesmo que o erro espreite disfarçado de salvador. O futebol eleva os jogadores ao Olimpo, contudo, há momentos em que a memória é valorizada e a saída nem comentada. Também as entradas de novos jogadores muito publicitados, sempre com dúvidas e incertezas, acompanham a elevada carga emocional com que se aplaudem novos treinadores (prometendo muito mas não deixando nada). Há clubes que, pela inconstância dos seus dirigentes, preferem mudanças sucessivas em vez de trabalhar para a estabilidade do jogo, para o crescimento e sustentabilidade do clube e a efetiva valorização dos mais jovens.

Para onde vais futebol?


REMATE FINAL  

No dia 18 de maio, disputou-se a final da Liga Europa em Sevilha, entre a equipa do Eintracht Frankfurt e a equipa do Glasgow Rangers. Jogo muito físico, sem grandes primores técnicos e táticos , somente resolvido nos pontapés de grande penalidade: o Eintracht conquistou o troféu.

Em 25 de maio, na cidade de Tirana na Albânia, na estreia da primeira final da Liga Conferência, jogaram a Roma e o Feyenoord: a equipa italiana venceu a primeira edição desse torneio. Roma marcou e, a partir daí, conseguiu manter a vantagem, apesar das esforçadas tentativas do Feyenoord, que desperdiçou várias oportunidades. Mourinho alcançou o 26.º título da sua carreira, conquistou 5 troféus europeus (2 Champions, 2 liga Europa e a primeira Liga Conferência) e conseguiu o primeiro título de competição europeia da Roma.

A 28 de maio, disputou-se a final da Champions, em Paris, colocando frente a frente o Liverpool e o Real Madrid. Liverpool dominou primeira parte e Real Madrid cedeu espaço e organizou defensiva competente. Na segunda parte, Real Madrid ‘dividiu’ a equipa, mantendo defesa forte e libertando jogadores somente para ataques cirúrgicos. Opções diferentes e no fim a vitória do Real Madrid: a 14.ª na Champions. O guarda-redes Courtois foi enorme! Liverpool pagou a fatura de um final de época desgastante.

O Grupo Desportivo de Chaves regressa à primeira liga: venceu em casa o Moreirense por 2-0, e perdeu por 0-1 em Moreira de Cónegos, no ‘play-off’ que decidiu quem ocupa a vaga na Liga principal. Moreirense desceu à segunda Liga.