‘O Futebol Explicado no Relvado’
Todos achavam que seria útil haver algo que esclarecesse situações menos consensuais
Otítulo da crónica de hoje é o mesmo do livro que lançarei na próxima quinta-feira, dia 30 de setembro. Não receiem, por favor: estas não serão palavras de autoelogio (porque seriam?) nem uma espécie de dica comercial. Nada disso. Em quase cinco anos de escrita neste espaço, nunca procurei recolher benefícios ou proveitos diretos ou indiretos sobre as opiniões que dei ou reflexões que levantei. Se o fizesse estaria apenas a ridicularizar-me (porque as pessoas sabem interpretar bem a intenção de quem escreve) e, sobretudo, a prestar um mau serviço a uma casa que é apenas uma das instituições mais respeitáveis do País.
O tema veio à colação por uma razão muito simples. A vontade de querer partilhar convosco parte da história por detrás deste (segundo) livro: de onde surgiu a ideia, como foi ganhando consistência, os múltiplos avanços e recuos que foi sofrendo com o passar do tempo, enfim, o caminho percorrido até chegar onde está agora, na antevéspera do seu lançamento. Deixem-me que vos diga que passei os últimos três, quatro meses da minha vida mergulhado num turbilhão de ideias, de escreve e rasga, de faz e refaz. Tudo o que vinha à cabeça parecia genial até passar para o papel. Aí tornava-se banal e redondo. Inócuo. Pensava numa ideia, escrevia e jogava fora. Muita transpiração, pouca inspiração. Foi assim, foi quase sempre assim.
Com o Kickoff, o seu antecessor, foi tudo mais fácil. Apesar de ser uma experiência única (até porque foi o primeiro), tinha conteúdo previsível e factual. O grande dilema foi converter as 17 leis de jogo num texto que fosse o mais claro e simples possível. Algo que pudesse chegar a toda a gente, de forma leve, dentro e fora do mundo da bola. No fundo, procurei apenas facilitar o entendimento das regras que sempre existiram, evidenciando-as com exemplos e imagens que escapavam ao carimbo mais técnico dos PDF’s emanados pelo IFAB. Seria, aliás, relativamente fácil replicar essa ideia todos os anos, atualizando-a apenas com as alterações que entretanto entrassem em vigor. Mas sendo bom, não chegava.
O que eu queria, na verdade, era (tentar) fazer algo diferente. Algo que fosse mais útil e prático. E é aqui que reside a riqueza desta partilha. A falta de ideias levou-me ao óbvio: a um pedido de ajuda. Decidi lançar a amigos e colegas e a muitas pessoas que conheço e admiro, as seguintes perguntas:
- «Se tivesses que ler um livro sobre arbitragem e/ou leis de jogo, o que gostarias de ver escrito? Que tipo de conteúdo gostarias de encontrar?» A resposta de todos (foram dezenas, felizmente) foi toda no mesmo sentido: «Quero ver casos práticos.» Todos achavam que seria muito útil que houvesse algo que esclarecesse, dentro do possível - e, às vezes, no futebol o possível é muito pouco - as situações menos consensuais. Os lances que fossem mais controversos, mais discutíveis, que nunca tivessem respostas certas, carimbos únicos. Estamos a falar, por exemplo, da eterna questão do braço na bola/bola no braço, dos foras de jogo por interferência no adversário, da intensidade das cargas, da (i)legalidade dos choques entre adversários, da imprudência, negligência ou força excessiva, das perdas de tempo, do Protocolo VAR, dos penáltis, dos toques na bola seguidos de contacto no jogador, etc. etc. Assim pediram, assim tiveram.
Como está fácil de ver, O Futebol Explicado no Relvado não tem grande mérito de quem o materializou. O mérito a sério, o mérito verdadeiro, é dos muitos e muitos jornalistas, treinadores, jogadores, comentadores, dirigentes, árbitros e amigos (adeptos comuns) que o idealizaram. É de todos aqueles que simpaticamente lhe deram vida e alma através de ideias fantásticas, dicas oportunas e conselhos riquíssimos. Este livro é deles e para eles. A todos, o meu sincero obrigado.
Que venha o próximo.