O final da época

OPINIÃO26.05.202217:05

A continuidade do nosso futebol está assegurada, embora o clubismo exacerbado possa criar situações e conflitos que prejudicam o jogo

APÓS conquistar com grande mérito o campeonato, o FC do Porto venceu a Taça de Portugal, com o resultado de três para os azuis e brancos e um para o Tondela; Sérgio Conceição finalizou a época mantendo a qualidade, a intensidade e a competência, que permitiram alcançar as vitórias com justiça. A dobradinha foi inquestionável, num jogo que o FC Porto controlou e o adversário lutou sempre, mesmo tendo descido de divisão. Os portistas foram os mais poderosos, reconhecidamente. A Taça de Portugal foi uma festa exemplar! O Tondela prestigiou a final e desejamos que consiga um regresso rápido.

Uma época desportiva, como a do nosso futebol, é longa, dura, exigente e imprevista. Antes do seu início constroem-se os plantéis possíveis, algumas vezes enfraquecidos por transferências para clubes mais poderosos (embora permitindo encaixes financeiros imprescindíveis), definem-se as estruturas, as metodologias e os objetivos. Há várias equipas numa equipa: dirigentes, apoios específicos, staff técnico e condições adequadas. O mister define a programação, aperfeiçoa o modelo/projeto de jogo, as suas variantes, as dinâmicas escolhidas e a colocação dos jogadores na máquina coletiva: processos e exigências máximas, dedicação exclusiva, entrega total. Como cada vez mais o futebol é um grande negócio, há estratégias a estabelecer, investimentos a calcular, prioridades a definir e regras muito precisas e exigentes. Cada um tem de dar o seu máximo no dia-a-dia. O jogo é exclusivo e portanto os tempos de repouso e recuperação também integram o modelo praticado. Cada treinador tem de conseguir equilibrar jogadores e posicionamentos para as mais diversas situações. O futebol passou a ser uma presença constante. Os resultados positivos só assim surgem, porque cada vez mais a qualidade do jogo, a capacidade para manter pressão sobre o adversário, a entrega ao coletivo com uma identidade coesa são imprescindíveis. O aproveitamento dos jogadores da formação e o seu processo de crescimento, juntamente com os reforços possíveis resultantes de scouting cuidado e qualificado, implica a construção de uma equipa que se afirma e se controla em função de si mesma, mas também do adversário. Em todas as épocas as rotinas são específicas porque aperfeiçoar é urgente e além disso o futebol muda a cada campeonato. Há um trabalho diário, com processos que reforçam a criatividade, com alimentação cuidada e trabalho complementar de ginásio e psicológico que obriga a forte entrega e dedicação de todos os departamentos. Todo esse esforço só faz sentido se houver alegria, motivação, vontade de vencer e capacidade para reverter algum momento menos feliz. Ao terminar mais um campeonato e a final da Taça de Portugal, encerra-se mais um ciclo. Uns foram apurados para as provas europeias e outros descem de divisão sem o mínimo apoio económico, o que pode ocasionar uma descida desastrosa. O final de uma época desportiva é o início de um mercado que envolve grandes investimentos e negócios surpreendentes. Quanto menos se mexer no plantel de uma equipa mais célere poderá ser a integração das aquisições no desempenho coletivo. Todas as transferências têm de ser analisadas com rigor, pelos próprios clubes, para manter a independência relativa que permita obter mais-valias significativas e indispensáveis. Acabada a época, fazem-se balanços, previsões e planos globais para manter a qualidade do jogo e o equilíbrio financeiro, impedindo aventuras sem rede, assim como adaptar os vencimentos das SAD à realidade do possível, sem cair em situações que podem dar início a processos complexos. Responsabilizar e controlar as contas são decisões que devem estar sempre em dia. O papel da formação de jovens jogadores, pelos títulos e excelentes classificações obtidas, quer no país quer nos respetivos campeonato europeus, já deu provas da sua enorme qualidade que constantemente  revela competência para conquistar importantes vitórias internacionais. A continuidade do nosso futebol, ao mais alto nível, está assegurada, embora o clubismo exacerbado possa criar situações e conflitos que prejudicam o jogo. Aprender com os melhores e, por isso, renovar órgãos da FPF com personalidades de elevada e reconhecida competência, imparcialidade e coerência, otimizar a transparência e o rigor das decisões, tratar todas as situações com a mesma precisão, independentemente dos clubes, responsabilizar grupos de adeptos para reduzir e combater todas as formas de violência que penalizam o futebol. Quando as decisões são fundamentadas e abrangem o universo dos clubes, tudo fica mais claro e com a concordância mais próxima, porque todos são tratados da mesma forma. Vale a pena refletir nas elevadas multas que a FPF atribuiu e que acabam por resultar em desperdícios elevados sem utilidade alguma. Celeridade e igualdade nas decisões de justiça com a máxima transparência e coerência é urgente. No tempo da pausa competitiva elaboram-se os princípios e as alterações que podem transformar o futebol num jogo cada vez mais intenso e apaixonante, dando um salto qualitativo com efeitos imediatos. Organização com responsabilidade e cooperação dos clubes para qualificar a nossa Liga, inclusivamente em termos internacionais. Quanto à Seleção Nacional (incluindo outros escalões e de género), é imprescindível que defina e mantenha metas para manter o espírito de identidade, de humildade, pois a qualidade é vasta e excelente. Para além das nossas ideias, pode ser útil acompanhar o que fazem outros países, com futebol prestigiado, pois a organização e a partilha são elementos fundamentais para substituir encenações, críticas constantes, guerras verbais imparáveis que só prejudicam o jogo. Finalmente, que existam programas televisivos para debater questões do futebol é compreensível e útil, mas fazer desses espaços tempo de argumentação fanática, de suspeições constantes, pode atrair auditórios mas os efeitos negativos são muitos e prejudiciais… 
 

Sérgio Conceição e o FC Porto fecharam 2021/2022 com a conquista da Taça de Portugal e da tão ambicionada dobradinha


Discutir o futebol nas diversas áreas, com quem é responsável nos clubes (treinadores e dirigentes), pode ser útil e permitir momentos de análise aprofundada, esclarecendo decisões, regras e comportamentos. Fazer de cada jogo uma festa de apoio clubístico, sem provocações exageradas, nem momentos de violência destrutiva, é imprescindível. Por algum motivo o clube que teve mais adeptos no estádio, na última jornada, na média por jogo e na percentagem global de mais adeptos, foi o FC do Porto. Uma referência indispensável a quem se dedica à formação, com resultados de grande relevância e títulos internacionais.

O governo inglês publicou documento com regras para aperfeiçoar a gestão dos clubes, reforçando a participação dos adeptos, partilhando as receitas da principal Liga inglesa com os escalões inferiores, assim como a criação de entidade independente para assegurar a sustentabilidade financeira e evitar alguns desvios da norma. O objetivo dessas metas vai permitir legislar procedimentos para a administração dos clubes. A figura do regulador independente terá poder para assegurar a saúde financeira dos clubes, impedindo proprietários de clubes de não cumprirem os princípios estabelecidos. Outra das inovações será envolver os adeptos na gestão dos clubes, assim como efetuar testes de integridade e solvência. Em vez de falar sem fazer, no que temos sido tristes campeões, a Inglaterra investirá soma elevada (€270 milhões) para desenvolver o futebol em geral e melhorar os campos para escalões de formação. Apoiar financeiramente os clubes das divisões inferiores passa a ser um desígnio solidário indispensável e meritório. Finalmente, pensar também no abandono precoce dos jovens, que carece de proteção adequada. A criação do regulador independente é da máxima importância para assegurar a transparência, regulando financeiramente a sustentabilidade económica do futebol. São decisões integradas no mesmo princípio: rigor e desenvolvimento, no documento que já foi designado como os 10 mandamentos do futebol. Uma das principais diferenças com outros países (incluindo Portugal) é o facto dessas medidas serem apresentadas à Câmara dos Comuns para a reforma indispensável do futebol, envolvendo as instituições num objetivo decisivo. Não basta elencar sugestões e promessas, no Reino Unido as decisões são para cumprir, independentemente de quem for governo. 


REMATE FINAL  

«No FC do Porto temos a responsabilidade de trabalhar para ganhar títulos» afirmou o presidente Pinto da Costa.

Palavras de Sérgio Conceição: «Se dissessem que os jogadores da formação iam ser o que são hoje, poucos acreditariam.»

«Alguns iluminados de vários programas, que se calhar nunca deram um pontapé na bola, quiseram manchar a nossa trajetória neste ano. 58 jogos sem perder, o melhor ataque, o recorde de pontos… contra factos não há argumentos. Continuem assim que nos alimentam para lutar contra tudo e contra todos», afirmações do capitão Pepe.