O exemplo de Gabriel Albuquerque
'Hat Trick', espaço de opinião do jornalista Paulo Cunha
1 Levante o dedo quem já tinha ouvido falar de Gabriel Albuquerque e assistido a uma prova de ginástica de trampolim, modalidade olímpica desde 2000, em Sydney. No meu caso, admito, sou capaz de erguer o indicador, mas não muito alto, porque só de quatro em quatro anos — ou três desde Tóquio-2020 que a pandemia adiou para 2021 — é que acompanho as façanhas destes ginastas que tocam o céu.
O brilhante quinto lugar de Gabriel Albuquerque, no espaço aéreo da Arena de Bercy, em Paris-2024, é mais um sinal de que o desporto nacional pula e avança mesmo sem o apoio que merecia. «Posso parecer convencido por dizer isto, mas não estou a ser. Sei das minhas capacidades, sei que estou ao nível daqueles gajos [que ficaram à frente]. Eles, neste momento, foram melhores que eu, mas foi só isso», assim reagiu o ginasta da Associação de Pais e Amigos da Ginástica de Loulé, selado o melhor resultado da história para Portugal após a sexta posição de Nuno Merino — lidera agora a seleção dos EUA — em Atenas-2004, ainda Gabriel Albuquerque, de 18 anos, não era nascido.
A ditadura do futebol continuará a ditar leis — e nada mudará até Los Angeles-2028, quando esta realidade voltar a ser constatada como se fosse uma tradição impossível de quebrar. Vale a pena lutar contra isso, claro que sim, mas sempre que surgirem obstáculos o discurso, desempoeirado, do nosso ás dos ares poderá servir de inspiração aos que teimam em justificar desempenhos (às vezes compreensivelmente) menos conseguidos — no final, só um ganhará o ouro e outros dois terão a consolação da prata e do bronze, mas há vida para além das medalhas — com desculpas do arco da velha.
Assinar o livro de presenças nos JO já é um marco na carreira de um atleta, um marco que é justo celebrar, o resto é tentar chegar ao Olimpo ciente de que há numerus clausus. Importa reconhecer o mérito dos adversários, a única verdadeira razão para o insucesso, à exceção de problemas físicos no dia em que nada poderia correr mal. Tudo o mais soa a forçado e a mau perder em competições nas quais não havia sequer a obrigação de ganhar.
Relativamente às críticas disparatadas sem o mínimo conhecimento sobre as provas e os atletas, é deixar os cães ladrar enquanto a caravana passa. Ao contrário de Vasco Vilaça (5.º) e Ricardo Batista (6.º) na aventura do triatlo, obrigados a nadar no Rio Sena antes de garantirem dois diplomas, no esgoto a céu aberto em que por vezes se tornam as redes sociais só mergulha quem quer.
2Que orgulho, Patrícia Sampaio! A judoca de Tomar garantiu a 29.ª medalha para Portugal em JO, terceiro bronze seguido no judo, depois de Telma Monteiro no Rio de Janeiro e Jorge Fonseca em Tóquio. As primeiras de que me lembro? O ouro de Carlos Lopes e o bronze de Rosa Mota e António Leitão, todas em Los Angeles-1984. Outras se seguirão até ao próximo domingo, acredito piamente.
3De que planeta vieram a ginasta norte-americana Simone Biles e o nadador francês Léon Marchand? Ainda não temos resposta, mas já sabemos que aterraram em Paris algures em finais de julho de 2024.