O Diogo, o Thiago, o Miguel e os outros

OPINIÃO13.12.202205:30

No fim de semana foram agredidos sete (!) árbitros de futebol, em várias associações do país

A VISO à navegação: a crónica de hoje foi escrita em modo emocional. Confesso que não me sinto dono da habitual sensatez e espírito conciliador porque o tema, para além de provocar-me náuseas, deixa-me distante do pensamento racional que todos devemos ter, sobretudo quando nos expomos publicamente.
 
Dito isto, vamos (voltar a) falar sobre agressões na arbitragem. Não o faço por vontade própria, mas porque no passado fim de semana foram agredidos sete (!) árbitros de futebol, em várias associações do país. 

Este número, tão inacreditável como atípico, pode ou não estar relacionado com atitudes menos felizes que vimos acontecer no final de alguns jogos mais quentes do Mundial do Catar. Há dados concretos (a APCVD tem-nos) que associam as más condutas lá de cima a réplicas e imitações, cá em baixo.

Independentemente disso, o que é certo é que foram sete agressões, algo absolutamente censurável e medonho, que tem que ser denunciado e que, mais uma vez, deve obrigar a uma reflexão de todos os que podem contribuir para que este tipo de fenómenos deixem de acontecer com esta frequência, nos vários estádios e pavilhões do país.

Além, claro está, dos criminosos que batem (e sim, quem bate é sempre criminoso), a verdade é que há outros culpados nesta velha história, a começar pelos próprios árbitros.

Árbitros que pagam bilhete para ir às Urgências operar os maxilares e que suportam terapias caríssimas para perderem o medo de regressarem ao ativo (é verdade, infelizmente), mas que continuam a pôr na malinha o equipamento para o jogo que se segue. Só não sabem quem, quando e como será a próxima agressão. Mas por entre cabeçada aqui, soco ali, pontapé acolá, o importante é apitar uns joguinhos, fazendo figas para que a fava calhe a outro. Espírito de classe? Zero. Tomadas de posição? Zero. Murro na mesa? Zero. Os árbitros de hoje só querem arbitrar. Pouco se importam com a classe em si, com a arbitragem, com a camisola que vestem. E são quase todos assim, a começar por aqueles que têm mais e maiores responsabilidades. Por aqueles que têm mais mediatismo, logo força nas palavras de crítica e solidariedade. Alguém ouviu alguma coisa das suas bocas? Alguém ouviu algum coisa das diferentes estruturas da arbitragem? Não. E seguramente não ouvirá. É como é e é assim. Lamentavelmente.

Além deles, também o dirigismo desportivo (lato sensu) e o poder político são cúmplices nisto tudo, porque podendo, pouco fazem para mudar o rumo das coisas.
 
A punição à posterior, quase sempre demorada e branda, não assusta o suficiente nem tem efeito profilático. Não passa a mensagem que devia. É curta. É preciso ter coragem para ir mais além, porque para grandes males, grandes remédios. 

A violência é o que de mais grave pode acontecer no desporto e na vida. São necessárias medidas fortíssimas que penalizam todos os que chegam a esse ponto.

O policiamento nos recintos desportivos tem que voltar por ser dissuasor (um polícia à vista é sempre melhor do que nenhum). As sanções desportivas e pecuniárias têm de aumentar drasticamente (para agressor e respetivo clube), doa a quem doer. E as leis, as nossas leis, deviam agravar condutas desta natureza, para que os tribunais tenham liberdade de aplicar penas exemplares nesta matéria. Sem perdão para o que é imperdoável.

No dia em que se perceber que, nestes casos, a punição é a melhor prevenção, isto termina. Até lá, é guardar este texto e fazer copy paste para o próximo capítulo. Se entretanto algo de muito grave acontecer a um jovem árbitro, anotem: os primeiros a sair à rua serão aqueles que hoje têm poder e capacidade para mudar tudo isto. Deus queira que eu esteja enganado.

Crónica especialmente dedicada a: Diogo Miguel Soares, do Atlético Povoense (AF Lisboa); Thiago Cardoso Silva, do Arsenal 72 DC (AF Lisboa); Miguel Ângelo Costa, do Silves FC (AF Algarve); Marcos António Santos Duarte, do CR Chãs (AF Leiria); ao adepto agressor do Romariz FC (AF Aveiro); e ao adepto agressor do SC Salgueiros (AF Porto).