Opinião O desporto num mundo em guerra
A situação na Ucrânia já era explosiva, mas agora, com esta crise brutal no Médio Oriente, os Jogos de Paris voltam a ser muito abanados
O Desporto tem uma notável história de compromisso com a paz. É verdade que houve exceções, mas desde os tempos da Grécia Antiga que o Desporto assumiu uma posição de neutralidade perante conflitos e chegou, mesmo, a fazer parar guerras para prevalecer a competição desportiva, afinal, ela própria, uma configuração cénica de uma guerra, mas sem a parte dolorosa da tragédia humana.
Desde os finais do século XIX, os Jogos Olímpicos da era moderna procuraram afirmar, pelo mundo inteiro, princípios e valores assentes na paz e numa relação festiva entre povos e culturas diversas. E até mesmo em momentos de grande tensão mundial, como sucedeu durante os Jogos de Berlim, em 1936, surgiram exemplos que ficaram na História, como aquele momento em que o atleta alemão Luz Long irritou Hitler por ajudar um americano negro, Jesse Owens, a ganhar a medalha de ouro no salto em comprimento.
A evolução das sociedades, o aumento da tensão das grandes potências mundiais e a transição do desporto para novos conceitos de negócio, interligados com a noção dos poderes nacionalistas, colocaram grandes acontecimentos mundiais, como os Jogos Olímpicos, ao alcance da influência dos Estados e dos seus interesses.
Já na segunda metade do século passado, os Jogos Olímpicos perderam totalmente a sua inocência política e passaram a ser um palco onde se expressava, pelo número de medalhas, a influência política dos países participantes.
Em 1972, nos Jogos de Munique, o atentado terrorista que matou onze israelitas na Aldeia Olímpica chocou o mundo e a partir de 1976, Montreal, os Jogos foram marcados por diversos boicotes políticos, especialmente em Moscovo (1980) e Los Angeles (1984).
Quarenta anos depois, atravessamos, de novo, um período de conflitos de dimensão mundial que, necessariamente, irá marcar os Jogos de Paris. Na Ucrânia, desde a invasão russa de fevereiro de 2022, agora, depois do atentado terrorista do Hamas, em Israel, e na impiedosa resposta israelita na faixa de Gaza. Movimentam-se, por isso, de novo, as grandes potências, que jogam o seu xadrez político. E um dos tabuleiros desse jogo continua a ser o Desporto e os Jogos Olímpicos. A França, que irá organizar os Jogos Olímpicos de Paris, já no próximo ano, tem pela frente um desafio complexo e, acima de tudo, perigoso. Há uma conjuntura que cria uma oportunidade real dos Jogos poderem vir a ser usados, mais uma vez, pelo terrorismo internacional e, sobretudo, em consequência da filosofia do ódio entre o povo israelita e o povo palestiniano, teme-se que as populações judaicas e as populações islâmicas que vivem em França possam ser arrastadas para um conflito de dimensões trágicas.
Entretanto, o presidente do Comité Olímpico Internacional, Thomas Bach, tenta equilíbrios impossíveis. Admitirá a participação de atletas russos e bielorrussos, mas sob bandeira neutra. Ainda assim, não convenceu o presidente ucraniano Zelensky, que lembrou a Bach: «Não se pode tentar ser neutro quando os fundamentos da vida pacífica estão a ser destruídos e os valores humanos universais estão a ser ignorados.»
Em apoio da posição de Zelensky surgem também personalidades políticas de países bem diferentes como a Dinamarca e a Polónia, mas contrária é a posição do Conselho dos Direitos Humanos da ONU, que recomendou: «A exclusão de atletas, apenas com base no seu passaporte, é uma violação dos direitos humanos.»
A situação, como se vê, já era explosiva. Agora, com a brutal crise no Médio Oriente, os Jogos de Paris voltam a ser abanados.
O chamamento e as raízes
André Villas-Boas reapareceu para dar sinais de que poderá, mesmo, concorrer à presdiência do FC Porto nas eleições do próximo ano. Diz que sentiu um chamamento quando soube que a sua família, do lado inglês, esteve na origem da fundação do clube. Há destinos assim, traçados por um qualquer episódio perdido no tempo. Entretanto, Pinto da Costa diz que não liga, nem se importa. A pouco mais de dois meses de fazer 86 anos avisa que aqueles que há muito o querem fora vão ter de esperar sentados, para não criarem raízes.
A Ucrânia está entre parênteses
Uma nova guerra deflagrou. Agora, é no Médio Oriente e ainda não se sabe bem por onde vai. Sabe-se que é uma guerra sanguinária, que começou com um ataque terrorista em Israel. Todos vimos imagens da atrocidade. As televisões adoram a pornografia das tragédias. Seguem-se novos capítulos monstruosos. Israel já avisou os palestinianos de que vai arrasar tudo e que eles terão de sair da sua terra e das suas casas. Pergunta-se: mas para onde, se o Egito fechou a única porta de saída? Entretanto, a Ucrânia fica entre parênteses.