O desporto é composto de mudança

OPINIÃO23.06.202206:55

Como vencer sempre é impossível, poderemos contribuir para um espaço de emoções, de agregação, mas também de desportivismo

Amudança é uma constante da vida, porque todos os dias surgem novos desafios que exigem novas respostas.
No futebol, no final de cada época, fazem-se balanços, alimenta-se o mercado de transferências, alteram-se regras e procedimentos e até se discutem os títulos do passado que poderão sofrer nova designação.

PEPE, que grande exemplo! Com 39 anos, é o central que mais sprints fez a grande velocidade. A sua presença, cultura tática e motivação é um contágio benéfico. Ocupa o terceiro lugar dos jogadores com mais internacionalizações (só atrás de CR7 e João Moutinho), 128 jogos pela Seleção Nacional, tendo-se estreado aos 25 anos (em 2007). Nas lesões nunca desanimou e dá o máximo para recuperar mais cedo. Fantástico! Para quem gosta de números, nas últimas cinco épocas Pepe jogou uma média superior a 44 jogos e foi além dos 3.797 minutos: espantoso! Além disso, é essencial como exemplo, líder e motivador da equipa. 
 

«Pepe, que grande exemplo! É o central que mais ‘sprints’ fez a grande velocidade» 

EM Assembleia Geral da Liga Portugal, discutiram-se alterações regulamentares. Em termos de disciplina, partindo dos respetivos relatórios, quer a Comissão de Instrutores, quer o Conselho de Disciplina, devem emitir decisões, devidamente fundamentadas e com rigor, identificando o respetivo artigo que considerem desrespeitado. É imprescindível determinar o início da aplicação de sanção. Em termos de segurança e controlo da violência, a reunião das entidades específicas deve ocorrer na semana anterior e nunca no próprio dia do jogo, para uma abordagem mais integrada (incluindo percursos de adeptos); na hora que antecede o jogo, uma reunião de informação pormenorizada é decisiva. A Taça da Liga sofrerá alterações em função da data do Mundial: uma fase de grupos e três eliminatórias, com a Final Four a realizar-se entre 20 e 23 de dezembro. 

PRESTIGIAR a arbitragem é fundamental para o futebol. O International Football Association Board (IFAB) decidiu integrar, com caráter permanente, cinco alterações às leis de jogo. Uma das novidades é o facto de passarem a ser no máximo 15 e não 12 os jogadores suplentes incluídos na ficha de jogo. Poderão ser usadas câmaras de filmar, para apurar um sistema que possa evitar o erro no fora de jogo: 22 câmaras colocadas na parte superior dos estádios permitirão aos árbitros conseguir decidir com maior precisão dois momentos: o último momento em que a bola é tocada em direção a um colega de equipa e a posição dos seus companheiros em função de uma linha virtual limite.  

A S listas de transferências surgem intermináveis, por países, por clubes e por empresários. Os valores de cada uma são, na maioria, uma soma de condições, de intermediários, investidores, metas a alcançar e comparticipações, que apresentam um valor elevado, mas reduzindo a percentagem final para vários clubes. Mesmo em transferências muito elevadas, a divisão dos lucros divide-se por várias entidades. Uns conseguem pagar a cláusula de rescisão, outros conseguem lucros com metas que permitem progressões de valores que os grandes empresários conseguem definir. Será que o poder de alguns se está a transformar num lóbi ainda mais poderoso para potenciar comissões imparáveis e aumentar a diferença entre os clubes e as competições? Assim se vão negociando milhões muito divulgados, acabada a época esquecidos, caso o rendimento não atinja o que se esperava. Infelizmente para os jogadores, por vezes o negócio progressivamente vai-se impondo ao jogo e surge ainda o enfraquecimento das equipas que venderam e não conseguiram reforçar-se como necessário. O modelo de uma Casa de Transferências (já referenciada por autores nacionais e internacionais) poderia ser uma hipótese de rigor e transparência. 

HÁ anos que alguns clubes se guerreiam por causa dos títulos do início do nosso futebol. Desta vez a FPF, procurando acabar com batalhas que potenciam conflitos, solicitou pareceres a investigadores universitários de Coimbra, Porto e Lisboa. Esses pareceres serão votados em Assembleia Geral Extraordinária a 29 de junho. Entretanto, surgiu uma nova proposta do Sporting já aceite para ser considerada  na AG. Qual a razão desses pareceres? Para tentarem eliminar um foco de discussão, para muitos quase incompreensível, alguns clubes e entidades preferem priorizar dúvidas que perduram há muitas décadas, desde o início das competições de futebol em Portugal. O que se vai processar é uma reescrita dos primeiros títulos do nosso futebol, acabando ou não com as polémicas. Esse facto poderá continuar a acrescentar divisões constantes, porque não é no voto posterior ao tempo da sua conquista que se mudam os títulos. Quatro anos passados, com recolha exaustiva de documentos, é chegado o momento para esclarecimento final e votar. Na primeira alternativa, os que venceram o Campeonato de Portugal, nas épocas 1921/1922 a 1933/1934, são reconhecidos como campeões nacionais, assim como quem venceu o Campeonato das Ligas (de 1934/1935 a 1937/1938). Os vencedores do Campeonato de Portugal entre 1934/1935 e 1937/1938 são considerados vencedores da Taça de Portugal. Para esta visão, o Sporting terá mais dois títulos de campeão nacional, assim como o Benfica. Os mais beneficiados serão o FC Porto e o Belenenses (ambos com mais três títulos) e ainda o Marítimo, Carcavelinhos e Olhanense, cada um com um título. Em relação à Taça de Portugal, Sporting ficará com mais duas, Benfica e FC Porto mais uma para cada um. Outra hipótese, considera o Campeonato de Portugal uma competição antecessora da Taça de Portugal e os Campeonatos das Ligas (I e II Liga) antecessores dos Campeonatos Nacionais (I e II Divisão). Para esta proposta, devem ser reconhecidos como campeões nacionais os vencedores dos Campeonatos das Ligas (entre 1934 a 1938) e como vencedores da Taça de Portugal os clubes que conquistaram o Campeonato de Portugal (desde 1921/1922). Nesta visão, a lista renovada dos títulos de campeões nacionais não se altera, embora a lista dos vencedores da Taça de Portugal tenha outra dimensão: assim, ao Sporting e ao FC Porto seriam atribuídas mais quatro Taças de Portugal, ao Belenenses e Benfica mais três para cada um. Marítimo, Carcavelinhos e Olhanense acrescentariam uma Taça de Portugal para cada um. Quais as razões que motivaram uma vontade de categorização posterior de provas que deveriam manter-se como sempre foram designadas no seu tempo? Os títulos devem conservar a designação da prova disputada na época e não uma alteração, mesmo que possam existir alguns aspetos comuns, mas numa conjuntura bem diferente. 

NA nova época, atípica por efeitos do Mundial do Catar, poder-se-á ganhar qualidade e desportivismo, caso se coloque o futebol no patamar que merece; ou seja, é uma manifestação que faz parte do nosso dia a dia, contudo é urgente não contribuir para afastar adeptos ou potenciar conflitos. Todos queremos vencer sempre, mas como isso é impossível então poderemos contribuir para um espaço de emoções, de agregação, mas também de desportivismo. E nessa área começa a ser prioridade a prestação dos árbitros, a captação de mais jovens talentosos que aportem ao futebol nunca a prepotência (sinal de incapacidade de gerir o momento, por vezes mesmo incompetência), mas a compreensão de que apitar implica equilíbrio emocional e comportamento que garanta confiança. Falhas podem sempre existir, inclusivamente com apoio de meios tecnológicos, agora imaginem ter de decidir no imediato sem poder saber se há lesão ou simulação: uma importante questão! O jogo de futebol nunca pode ser uma viagem descuidada, pelos efeitos perversos que podem surgir. Os adeptos têm esse poder de passar confiança e estabilidade aos jogadores, aplaudindo sempre os seus atletas e nunca se podem esquecer quem são os protagonistas. 
 

REMATE FINAL 

No XVI Congresso Internacional de Futebol da Universidade da Maia, Luís Campos, o prestigiado diretor desportivo e conselheiro de grandes clubes europeus e mundiais, ao abordar a questão Futebolista de hoje e conquista do futuro, comentou: «O FC Porto venceu bem mais um campeonato porque, em termos coletivos, foi claramente a equipa mais forte, com individualidades extraordinárias que o treinador soube fazer somar (…) Admiro Conceição.»

Um bom exemplo: o andebol vai sofrer alterações para valorizar o jogo, torná-lo mais rápido e mais seguro para a integridade física dos jogadores. A Federação Internacional de Andebol espera conseguir aprovar alterações que criem mais entusiasmo e um jogo mais rápido. São quatro as alterações: poderão ser usadas bolas mais leves e pequenas, sem resina; reduz-se de seis para quatro os passes, para ser decidido o jogo passivo; remates sem adversários em frente, dirigidos à cabeça do guarda-redes, serão punidos com dois minutos de exclusão; o passe de saída tem de ser executado pelo menos com um pé, num círculo central com quatro metros de diâmetro. Um bom exemplo!