O desafio da gestão no hóquei do Sporting
'Desportiva_MENTE' é o espaço de opinião quinzenal de Liliana Pitacho, psicóloga e docente no Instituto Politécnico de Setúbal
A reflexão da semana propõe analisar os resultados e as exibições desportivas da equipa de hóquei em patins do Sporting à luz das teorias da psicologia, do comportamento organizacional e da gestão.
Perante os resultados e o desempenho abaixo do esperado, observados desde o início da época, e independentemente das circunstâncias e da qualidade dos adversários, é crucial analisar os processos de gestão que podem estar a afetar o rendimento desportivo. A comunicação sobre uma renovação massiva do plantel, implicando a saída de vários jogadores, tem figurado na comunicação social desde o final da época passada. Este tipo de gestão e notícias têm um impacto inegável na motivação dos atletas e no rendimento das equipas desportivas.
As mudanças abruptas, ainda que intencionais e planeadas, podem conduzir à queda da motivação e moral dos atletas, à diminuição da coesão grupal, ao aumento dos níveis de stress e incerteza, bem como à desorganização temporária. À luz da teoria da Autodeterminação, a motivação intrínseca dos indivíduos está diretamente ligada ao sentimento de competência, autonomia e pertença. Ao serem confrontados com a informação de que estarão fora dos planos futuros da equipa, os atletas podem sentir uma diminuição no seu sentido de pertença e relevância no grupo.
Esta situação gera insegurança, desmotivação e, muitas vezes, um desinvestimento emocional e físico, uma vez que os jogadores deixam de encontrar razões internas para dar o máximo de si em campo. Muitas vezes, este processo de desconexão é não consciente, ou seja, o comportamento desmotivado e os desempenhos abaixo das competências surgem como reflexo do contexto e do estado emocional, e não por decisão deliberada e intencional do atleta.
Por sua vez, de acordo com a Teoria da Justiça Organizacional, quando os jogadores percebem falta de justiça nas decisões de gestão, gera-se na equipa um sentimento de frustração, revolta e desconfiança. Esse ambiente pode levar à redução do desempenho coletivo, ao aumento dos conflitos internos e à perda de foco nos objetivos desportivos. Assim, caso a antecipação e comunicação de mudanças significativas no plantel não sejam geridas de forma cuidadosa e empática, estas tornam-se um fator desestabilizador tanto na motivação individual como na coesão da equipa, comprometendo diretamente o rendimento desportivo.
É responsabilidade da gestão planear estrategicamente o futuro, mas fazê-lo com cuidado é essencial para evitar que esse planeamento comprometa os resultados imediatos e o equilíbrio da equipa no presente.