O clássico em três pontos
Nada justifica a propensão constante para o conflito, para a lesão simulada
A ARBITRAGEM
NUNO ALMEIDA é muito bom no que faz. Sei que a opinião pública tende a catalogar árbitros em função de acertos e erros, mas convém recordar que na arbitragem não há Maradonas. Nem Collina, o melhor da história, era infalível. O Nuno melhorou muito com o passar dos anos, ganhando qualidade e experiência a olhos vistos. Hoje está mais maduro, personalizado e assertivo. Mora claramente no top-3 dos melhores em Portugal. No passado sábado, escolheu um caminho (legítimo e bem intencionado) que não correu bem. A opção tinha aliás tudo para correr mal. Escreve-vos quem esteve lá dentro, fez o mesmo e deu-se ainda pior. O (excessivo) rigor disciplinar no início de um jogo com estas características é quase sempre meio caminho andado para a caos. É que em clássicos assim, a tendência é que as coisas piorem com o passar dos minutos: haverá cada vez mais pressão e fisicalidade e cada vez menos tolerância e respeito. Quando a adrenalina dispara, o oxigénio parece que falha. É aí que o critério inicial do árbitro quebra. Inevitavelmente.
OS JOGADORES
SÃO homens de bem, excelentes chefes de família e profissionais de outro mundo, ninguém duvida disso. No clássico de Alvalde, portaram-se mal. Muito mal. Não todos mas quase todos. Entendo a rivalidade histórica, a pressão dos agora regressados adeptos e a intensidade competitiva, mas nada disso justifica a propensão constante para o conflito, para a lesão simulada, para a dramatização da queda. Parte dos jogadores passou mais tempo a empurrar adversários e a chatear o árbitro do que a fazer aquele que devia ser, de facto, o seu trabalho. Podem dizer que é cultural, que faz parte e que tem que ser assim. Estão errados. Não faz parte tentar sacar constantemente o segundo amarelo ao adversário nem rodear ou pressionar o árbitro a toda a hora. Se queremos ser grandes, devemos pensar em grande. Olhem para os jogos maiores dos tubarões lá de fora e digam-me se, para haver espetáculo de qualidade, têm que ser assinaladas 40 faltas e exibidos 12 cartões em 90 minutos.
OS TREINADORES
ABSOLUTAMENTE admiráveis no pós-jogo, contribuindo para serenar os ânimos e impedir uma semana condenada às habituais polémicas e bate-bocas. Quando muita gente esperaria nervos à flor da pele e dedo apontado à arbitragem, Sérgio Conceição e Rúben Amorim ofereceram-nos um recital de classe, tranquilidade e civismo. Foi muito gratificante perceber que, em momento de natural tensão depois de um jogo efervescente (onde também eles se entregaram até à exaustão), acabou por imperar o bom senso e a elevação.
Para o futuro ficou o exemplo: é possível analisar um jogo de forma correta, sem perder o sentido crítico e sem se exceder. Os treinadores - que naqueles instantes têm os olhos de um país sobre si - devem perceber a dimensão e impacto das suas palavras, postura e tom.
No passado sábado, os técnicos do FC Porto e Sporting CP fizeram-no de forma irrepreensível.