O carrossel ou o futebol? Mais uma corrida, mais uma vitória!
Saber perder é muito mais difícil do que saber vencer e, muitas vezes, surgem protagonistas do improviso
E assim seguem-se os processos disciplinares ao treinador, a um vice-presidente e administrador da SAD do FC Porto e ao diretor de imprensa do clube, por causa do jogo no Dragão, no dia 11/2/2022, para a 22.ª jornada, que terminou com um empate 2-2. Trata-se da sequência que o Sporting decidiu apresentar, de acordo com os factos que os leões consideram importantes. Quanto aos incidentes e castigos, o Conselho de Disciplina da FPF limitou-se, para já, a comunicar a instauração dos respetivos processos. Num país livre, cada um pode apresentar as participações que quiser, o que por si só nada mais representa do que um querer que pode não ser (e certamente não é). É sempre útil olhar primeiro para as nossas falhas.
O fim do campeonato começa a aproximar-se e nos jogos, segundo os comentadores, há sempre quem tente avançar para além das quatro linhas, procurando eventuais vantagens que, em jogo, não conseguiram construir. Saber perder é muito mais difícil do que saber vencer e, muitas vezes, surgem protagonistas do improviso, da invenção, com a agravante de não se conseguirem ver ao espelho (o valor das multas por causa dos adeptos é apensas um dos muitos factos, porque são diversos). Os jogos ganham-se nos campos, porém há sempre quem se ilude com grandezas aparentes: todos nascemos iguais, a presunção cria a imaginação da diferença. Desde pequenino se deve aprender a ganhar com justiça e transparência; ou acham que os adeptos dos outros clubes sofrem de miopia grave?
Quando os campeonatos se aproximam do seu fim e a diferença de pontos, mesmo com alguma segurança, pode ser esbatida, as pressões são mais do que muitas. As estratégias saltam dos relvados para os processos, no desafio de vale tudo, para se conseguir vencer, seja a que preço for. Na Comunicação Social é cada vez mais fácil descobrir as intenções que as prosas escondem, mesmo sem conseguirem disfarçar o cuidado da subtileza. Ninguém confessa o clubismo, porque utilizam o vocábulo desportivismo com significado muito pessoal. Desvalorizam os árbitros quando não facilitam o rigor, na esperança de um descuido de olhar. Cada vez falam mais do que está mal (porque certamente julgaram um lance decisivo pela visão das claques), apontando erros à utilização e colaboração da tecnologia, com intenção de acabar com as dúvidas, tornando-se um amplificador de contestação. O que acontecerá com a maior preponderância da invasão da inteligência artificial? Claro que quando não se vence tantas vezes como se deseja, os sorrisos cedem o lugar às rugas de preocupação: estão em jogo descidas de divisão e apuramentos para competições europeias que, além de prestígio e alegria para os seus adeptos, podem ser uma fonte de rendimentos indispensáveis.
Curiosamente, quando um analista de árbitros mantém a imparcialidade, por momentos sente a ira no olhar desviado. Muitas vezes, os críticos são os mais ferozes a dar o exemplo negativo, por se esquecerem da imparcialidade. É só um jogo de futebol, mas, afinal, passa a ter dimensão de grande feito ou de catástrofe, que acumula alegrias injustas ou indisposições de comportamento. Aos adversários mais diretos, vasculham-se falhas, inventam-se intenções malvadas, com o desejo de evitar a presença dos melhores no onze que nos defronta.
Protesta-se demasiado quando o jogador que fica de fora é da nossa equipa. Depois vem o cinismo como crítica aos que seguem na frente, as advertências do que lhes pode correr mal e que acreditam que tenha efeitos (não tem nenhum!). São diversos os que publicamente defendem valores, mas na prática preferem decisões a favor, em discussões com fanatismos fora de prazo. Que exemplo mais claro do que adeptos e dirigentes a desejar (em silêncio) pouca sorte aos adversários na mesma liga para os jogos internacionais! Aí se alicerçam os maiores problemas e simplesmente por inveja.
Se os dirigentes, os treinadores e diretores de comunicação tivessem uma estratégia concertada para potenciar os clubes nas provas europeias, o lucro era maior e o nosso futebol tornava-se mais disputado e com rendimentos maiores para distribuir. Quando deixarmos de procurar, nos vizinhos, os vícios e erros criticáveis, estamos a progredir. E acreditem que não são provocações diárias, algumas ridículas e sem sentido, que afetam atletas habituados a grandes jogos de nível muito elevado. Muitas vezes quem critica por sistema os mesmos de sempre, deveria repensar, à volta do nosso futebol, uma barreira protetora e objetivos comuns, com a certeza de que só um pode ser campeão.
Ora, todos têm direito aos mesmos comportamentos da arbitragem e das entidades que tutelam o futebol. Não se toleram exceções! Estão a aproximar-se os play-off para o apuramento para o Mundial do Catar. Nessa última oportunidade, temos de forjar uma união indestrutível, na qual cada um tem de estar disponível para sermos um só no querer, no fazer, no superar o adversário. A seleção da Turquia não é fácil e será um jogo que decide quem vai à próxima eliminatória. Depois, se vencer, venha quem vier, temos de ter ainda mais força coletiva, maior organização, solidariedade e entrega até à exaustão.
«Se ficarmos fora [do Mundial] isso tem grande impacto e seremos a geração que, desde 1998, não conseguiu um apuramento», afirmou Bruno Fernandes.
Estamos convictos de que tudo farão para apurar Portugal. Falta harmonizar o nosso campeonato, torná-lo mais atrativo, sem tantas perdas de tempo, partilhando as receitas das transmissões televisivas, mas também a mesma determinação em jogar sempre com a mesma intenção: vencer, seja onde for. Futebol ofensivo, sem complexos e com trabalho intenso e competente dos nossos qualificados treinadores. Os artistas do jogo, representados por um jogador e um treinador, eleitos pelos pares, deveriam ter sempre uma palavra importante, nos fóruns periódicos, sobre os rumos e as eventuais alterações ao futebol para, cada vez mais, subir no prestígio e na qualidade. É urgente evitar discussões sem interesse, provocações mútuas, clima de conflitualidade, que podem atrair audiências do «maldizer» mas penalizam o jogo e favorecem a criação de momentos na violência verbal e não só.
Se não mudarmos, vamos ficando para trás, embora se façam grandes negócios vendendo os talentos ainda jovens, como estratégia principal para conseguir verbas. Temos de ser muito mais do que isso, ou seja, um futebol admirado e que cativa audiências de outros países. Esse objetivo pode ser conseguido com muito trabalho e uma coesão muito forte, sem guerras que criam despesas e multas, ou conflitos evitáveis. Fundamentalismos, só para quem não pensa!
Clássico do Dragão e as suas consequências
FUTEBOL PORTUGUÊS NA EUROPA
O Benfica conseguiu passar aos quartos de final da Champions e o SC Braga continua em prova na Liga Europa.
O Lyon, que tinha vindo ao Dragão vencer o FC Porto para Liga Europa (0-1), num dia em que a equipa azul e branca não conseguiu a habitual eficácia, revelou-se equipa forte e bem organizada. A segunda mão foi disputada e acabou num empate que favoreceu os franceses. É urgente refletir nos curtos espaços de recuperação entre jogos, para ter soluções para momentos inesperados. O FC Porto foi a equipa nacional com menos tempo de recuperação. Só com mais tempo entre jogos, as equipas envolvidas em competições europeias poderão conseguir mais pontos, nem que para isso se adiem, ocasionalmente, jogos nacionais (como se fez aquando da pandemia; agora já não pelo risco de doença, mas para ajudar a prestigiar o nosso futebol). Com os atuais calendários prejudicam-se os nossos clubes, que tentam atingir patamares superiores nas provas europeias.
DESTAQUES DA SEMANA
F AMALICÃO, Arouca, Marítimo e Belenenses SAD empataram com Vizela, Tondela, Gil Vicente e Santa Clara, respetivamente. O Sporting ganhou ao Vitória, em Guimarães. O Benfica e o SC Braga derrotaram o Estoril e o Portimonense, respetivamente. O Paços de Ferreira venceu o Moreirense. Felizmente, a pausa para as seleções vai permitir novas forças e renovar a confiança e estratégias.
REMATE FINAL
A aventura do FC Porto ultrapassou dificuldades, cansaço e contratempos, renovou determinação, superando adversidades sistemáticas, vencendo no Bessa, criando oportunidades e revelando como se constrói uma equipa coesa que se manteve exemplar e unida até ao fim. Vitória da identidade, da dinâmica e do coletivo. O FC Porto (o mais sacrificado) nasceu do sofrimento: tem esta raça pela travessia que teve de fazer e também por um espírito único, muito especial.