O armário

OPINIÃO04.01.201903:00

Luís Filipe Vieira tinha visto, há cerca de um mês, uma luz que lhe disse para manter Rui Vitória no comando técnico da equipa. A luz da sala ficou acesa mas o esqueleto do despedimento do treinador ficou no armário, de lá não saiu. A porta estava fechada, mas ele estava lá.

 A série de oito jogos com sete triunfos e um empate poderiam ter amenizado definitivamente o ambiente mas o esqueleto como que ganhava vida própria a cada exibição menos conseguida do Benfica - e foram algumas.

Após o desaire em Portimão, o esqueleto voltou a agitar-se muito dentro do armário e este ameaçava cair com estrondo caso o esqueleto ficasse lá dentro. E as consequências dos estragos causados na estrutura do edifício do futebol benfiquista pela queda do armário poderiam ser gravíssimos. Cada jogo do Benfica teria odor a desgraça; Rui Vitória como que caminhava descalço num trilho de pedras sob um sol inclemente sem que ninguém lhe chegasse uma pinga de água. Agora, acabou, numa comunicação fria à Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), sem palavras públicas, como está na moda.

É verdade que os últimos tempos foram pouco menos do que um suplício para a nação benfiquista, mas Rui Vitória ganhou títulos e ganhou quando muitos esperavam que não o fizesse - lembram-se de 2015/2016?  No site oficial do Benfica surgiram palavras de agradecimento ao treinador mas o que ainda distingue os homens é o calor dos sentimentos. Portanto, não teria ficado mal ontem uma declaração de Luís Filipe Vieira, nem que fosse à oficialíssima BTV e sem direito a perguntas.

Pode dizer-se que, em termos práticos, face aos sete pontos de desvantagem do Benfica para o FC Porto, este despedimento poucos efeitos terá. Mas o futebol é um espectáculo. E as pessoas pagam é por um bom espectáculo. Se este for mau, não vão; não pagam; não há receitas. E o espectáculo do Benfica era mau.