O antes e o depois
Há duas coisas que, neste momento, tenho como certas: a primeira é que iremos ultrapassar este pesadelo chamado «Covid-19». A segunda é que nada será, depois disso, igual ao que era antes.
Desengane-se quem acha, por isso, que tudo ficará exatamente na mesma. Não ficará e não ficará nem no campo prático, nem ao nível das emoções e sensações. As coisas que mudam, mudam-nos.
A nossa geração (de ocidentais habituados à paz e ao conforto) nunca experienciou algo assim. Algo tão castrador, impactante e limitador das suas vidas, a todos os níveis.
Se olharmos com a distância devida, perceberemos que este coronavírus é apenas mais uma prova de fogo para a humanidade. Mais uma entre tantas que ela já enfrentou e venceu. É que, enquanto raça, somos mais fortes e resilientes do que pensamos e historicamente já o provámos vezes sem conta: sobrevivemos a (outras) pandemias graves, ultrapassámos infindáveis conflitos sangrentos, superámos uma série incontável de desastres naturais. O preço em vidas foi sempre alto, mas quem ficou, continuou. Seguiu em frente.
Perante a adversidade séria, temos mostrado uma capacidade quase camaleónica de nos adaptamos. Sentimos a dor, lambemos as feridas, caímos mas pouco depois levantamo-nos.
O como e o quando do pós-coronavírus é ainda uma incógnita, mas há algo que podemos ir antecipando ao nível do nosso posicionamento. Ao nível das nossas condutas futuras, das nossas prioridades e objetivos.
A forma como estávamos a viver a vida, por cá, não era a melhor.
Somos mais, muito mais, do que meia dúzia de expedientes ou de chico-espertices desprovidas de valor e valores. O que o Covid-19 agora nos prova é que não vale a pena perdermos tempo a enganar o vizinho do lado ou a trepar para um poleiro que está ocupado. Não vale a pena usar táticas de guerra quando não há guerra com ninguém. Não vale a pena perder tempo a ser mesquinho, pequenino e corrosivo. Não vale. Não vale mesmo.
O apelo que deixo é para todos mas, particularmente, para aqueles que têm poder de decisão, exercem esferas de influência ou ocupam cargos de relevo. Nunca se esqueçam da lição que a vida hoje nos está a dar, até porque o custo dela é elevadíssimo a todos os níveis.
Nós somos todos iguais, merecemos todos o mesmo, desejamos o que todos desejam. É possível exercer poder, competir e ambicionar crescer e vencer sem ser desonesto, imoral ou desprovido de caráter. É possível ser muito sem ter que ser poucochinho.
Nos temos que aí veem, precisaremos muito da vossa integridade. Do vossa consciência, cidadania e ética. Precisamos que nos devolvam a confiança e o ânimo, a crença de que coisas boas voltarão a acontecer. Precisamos do melhor de casa um de vós, pensado no todo e em todos e não naquilo que menos importa agora.
O coronavírus é a mais dura mensagem que as nossas vidas levaram. Aprendam com ele, por favor.