No futebol as prendas chegaram antes do Natal
'Mercado de valores' é o espaço de opinião semanal de Diogo Luís, antigo jogador e economista
A saída de Ruben Amorim foi a melhor prenda que o Sporting podia ter oferecido aos seus rivais. Num ápice tudo mudou. A vantagem pontual no campeonato esfumou-se, perdeu os lugares de acesso direto na Liga dos Campeões e a equipa que criava ocasiões de golo atrás de ocasiões de golo perdeu essa capacidade. Conseguimos juntar a tudo isto as lesões de jogadores influentes.
Nem os €11 M que o Sporting conseguiu amealhar com a transferência de Ruben Amorim parecem ser interessantes quando comparados com o potencial de desvalorização dos jogadores se o trajeto verde e branco continuar assim. Tanto Benfica como FC Porto aproximaram-se do Sporting, podendo o Benfica inclusivamente ultrapassar os leões se vencer o seu jogo em atraso. Tanto águias como dragões olhavam para a frente e não viam forma de o Sporting perder pontos.
A prenda da saída de Ruben Amorim para Old Trafford fez com que o Sporting entrasse em depressão. Já os rivais ganharam confiança e aproveitaram para reduzir a distância pontual que parecia impossível há umas semanas.
A indemnização de Schmidt
Esta semana ficámos a saber qual o valor líquido que o Benfica irá pagar a Roger Schmidt. Continuo a não perceber o motivo pelo qual as entidades, e neste caso o Benfica, não nos refere a nós e à CMVM qual o valor total de toda esta indemnização. A transparência não é sempre a melhor opção? Por que motivo se coloca num comunicado que Schmidt vai receber €8,7 M líquidos e não se diz qual foi o custo total da indemnização para o Benfica? Para os investidores/acionistas ou sócios é mais importante saber quanto Schmidt vai receber ou qual o custo total da rescisão? Quem não é transparente faz com que os outros duvidem sempre das suas decisões e da sua forma de gerir.
Voltando ao tema, Schmidt recebeu uma prenda de Natal incrível. Parecendo estranho o que vou referir, esta foi, igualmente, a melhor prenda que o Benfica podia receber em função do contexto. Refiro isto porque o problema Schmidt não foi criado este ano, mas sim no momento da renovação do contrato e pelos valores a que foi feita essa renovação. Todos temos a convicção de que não havia outra solução que não despedir Schmidt. É verdade que o Benfica perdeu €14/15 M, mas ganhou esperança, recuperou confiança e trouxe novamente a crença aos adeptos de que é possível vencer títulos este ano.
Com Bruno Lage a gestão do grupo é diferente e os jogadores valorizam-se, como são os exemplos de Tomás Araújo ou Carreras. As vitórias sucedem-se. É verdade que a equipa ainda não é consistente e (ainda) não controla os jogos na totalidade. A realidade é que o sistema tático se adequa melhor às caraterísticas dos jogadores. Bruno Lage também conseguiu incutir uma crença na equipa e a força de dar a volta aos acontecimentos dentro do próprio jogo, como se viu frente ao Mónaco. Depois de um início de época negativo com o rival Sporting a apresentar um futebol encantador, Bruno Lage teve a capacidade de fazer com que o Benfica dependa apenas de si para passar o Natal em primeiro lugar.
Fazendo o balanço, todos percebemos que Roger Schmidt não devia ter renovado por aqueles valores e que deveria ter sido despedido mais cedo. Todas as decisões têm repercussões. Financeiramente a decisão de despedir Roger Schmidt, no curto prazo, representa um encargo muito elevado. Desportivamente foi o melhor que o Benfica podia ter feito, acrescentando que em conjunto com a valorização desportiva vem a valorização financeira dos jogadores e dos prémios das competições com a Liga dos Campeões à cabeça! Como diz o ditado, mais vale tarde do que nunca!
Liga e FPF
No mundo do futebol, este ano, o mês de dezembro está a ser generoso. Coincidência ou não, a FPF inaugurou o FPF Arena a dois meses do fim do mandato. Já a Liga de clubes (LPFP) inaugurou esta semana a sua nova sede, que, diga-se de passagem, deixa com inveja os clubes que são a base da atividade da LPFP!
Mais uma vez utilizando a palavra coincidência, acredito que na próxima semana teremos o anúncio de um dos segredos mais mal escondidos no futebol português, que é a candidatura de Pedro Proença à FPF. O exemplo de que a política domina o futebol é o de que as inaugurações surgem sempre nos momentos certos. Sem dúvida que é muito bom deixar a Liga com umas infraestruturas modernas.
Também seria bom que nos relvados, nos espetáculos e na organização das competições, a evolução dos clubes e da Liga de futebol pudesse ter acompanhado os eventos e as infraestruturas que a Liga organizou nestes últimos anos. Os espetáculos não são atrativos, em muitos estádios as bancadas estão despidas e, por exemplo, temos uma equipa que não pode inscrever jogadores por dívidas. Dois dos temas mais importantes e fundamentais para a evolução da LPFP não tiveram grandes desenvolvimentos, como a reorganização dos quadros competitivos ou a negociação da centralização dos direitos de TV.
No desporto aprendi que nos postos de liderança o compromisso ou o colocar o nós em detrimento do eu são fundamentais. Não tenho dúvidas do empenho e profissionalismo de Pedro Proença. Apesar desta noção, faço duas perguntas: Pedro Proença, ao deixar a LPFP a meio de um mandato tão importante para se candidatar a presidente da FPF, está a pensar em si ou no futebol português? Se Pedro Proença vencer as eleições à presidência da FPF e conseguir criar a oportunidade de ir para a UEFA ou FIFA (como fez agora na FPF), o que fará?
A Valorizar: Marco Silva
Marco Silva está (novamente) a fazer uma grande época. Há um Fulham antes e depois de Marco Silva. Os empates frente a Arsenal e Liverpool são mais um ponto que valoriza o trabalho do técnico português.
A Valorizar: Nuno Espírito Santo
Mais um português a fazer um trabalho incrível em Inglaterra, no Nottingham Forest. É quarto com todo o mérito.