Não, o Sporting não se afundou, mas ainda precisa de ar

OPINIÃO21.02.201900:20

Ando há tempos a pregar, quase no deserto, que o Sporting precisa de estabilidade e de segurança; que o treinador ou os jogadores não são o principal problema; e que a direção, por mais bem-intencionada que seja, sofre de um problema de comunicação.
Nada disto é novo para quem acompanha o clube de perto. Porém, depois do genial jogo contra o Braga, no qual se redimiram treinador e equipa, esperando sinceramente uma remontada, hoje, contra o Villarreal e, amanhã, uma boa apresentação do estado do clube, espero que muitos destes problemas comecem a ser ultrapassados.
Escrevi nesta página, a semana passada, no mesmo dia em que a equipa fez o pior jogo da época (0-1 frente ao Villarreal), que o Sporting nunca pode esquecer-se do ponto em que partiu para esta época; da loucura por que passou. Espero que amanhã Frederico Varandas (que não deverá apresentar ainda a esperada auditoria forense) comece a relembrar esses factos. Sobretudo depois de tanto barulho à volta do livro de Bruno de Carvalho, no qual o ex-presidente se queixa de que toda a gente (ou quase) o traiu. Bastaria isso ser verdade para se perceber a sua fraquíssima qualidade de gestor: não saber rodear-se de gente sem essa vertigem traiçoeira.
Para além dos diversos desmentidos dos visados é curioso como aqueles que ainda apoiam Bruno confundem, propositadamente, dois planos distintos: o desportivo e o estatutário. Como fui presidente da Comissão de Fiscalização Transitória (que propôs unanimemente e viu aprovada em AG, por grande maioria, a sua suspensão) posso dizer sem dúvida: o ex-presidente foi afastado e impedido de exercer os seus direitos não por qualquer mau resultado desportivo (e também os houve, nomeadamente a derrota com o Aves, numa final da Taça que em teoria não teria discussão), mas sim, e sublinho, pela violação grosseira dos estatutos e regulamentos, aliás revistos e propostos pelo próprio. Uma decisão que voltaria a tomar, fosse qual fosse o presidente, acaso me visse nas mesmas funções, perante as mesmas circunstâncias.

Adeus, Nani

ATÉ à vista, meu caro, deste-nos muitas alegrias. Não só aos sportinguistas, mas também aos portugueses que vibraram com os teus feitos na Seleção Nacional. E ainda aos fãs do Manchester United, do Fenerbahçe, do Valência e da Lazio. É triste partires para os States, mas acredita que te guardamos como um dos deuses do nosso panteão sportinguista. Percebo que tenhas de ir, como está a acontecer com mais uma dúzia de companheiros teus. Alguns com sucesso, como Montero, outros sem ele, como Castaignos. Alguns que nos chegaram a dar alegrias, sem nunca deslumbrarem, como Bruno César ou Alan Ruiz; antigas promessas, como Carlos Mané ou Ryan Gauld; quase desconhecidos (para mim) como Lumor ou Misic; ou mesmo equívocos como Viviano e Sturaro. De todos, Nani, és, de longe o maior.
A responsabilidade desta sangria, onde espero não vá nenhum Eric Dier (hoje da seleção inglesa, depois de passar no Sporting com poucas oportunidades), é de quem deixou o clube numa situação calamitosa, de quem se sentiu seu dono e ainda hoje, por detrás de declarações de união, se sente um presidente não legal e esmagadoramente demitido, mas alguém que sofreu um golpe de Estado. É típico daqueles que, com pouca reflexão e menor humildade, propiciam a confusão entre a sua pessoa e a instituição que deveriam servir.

Olhar em frente (e para a frente)

Opassado só interessa se nos ajudar a construir o futuro de forma a não se cometerem os mesmos erros. Por isso mesmo, espero que o Presidente do Sporting Clube de Portugal, não se eximindo de explicar como encontrou o clube (chamando, como se costuma dizer, os bois pelos nomes), dê igualmente algumas pistas para o futuro. O jogo com o Braga no passado domingo significou alguma coisa? Ou foi, apenas, mais um fogacho? O que vamos fazer na Academia, que foi paulatinamente destruída durante os últimos anos, fruto da falta de empenho ou competência, ao ponto de serem do Benfica, o nosso grande rival, as vedetas a nascer?
Como vai ser organizada a própria direção do clube? Teremos uma comunicação digna e atempada (a despedida de Nani foi um dos pontos infelizes que demonstra nada estar afinado nesse setor), capaz de, sem comprometer os principais dirigentes, responder e atuar em pé de igualdade com os nossos adversários? De que modo o Sporting vai atuar nos organismos desportivos a que pertence? Continuaremos a ter as mesmas modalidades? Teremos mais? A distribuição do dinheiro das quotas será feita como até agora? E talvez o que, justa ou injustamente, mais interessa aos associados: quais os nossos objetivos para esta época no futebol. Penso que, realisticamente, ainda podemos aspirar à Taça de Portugal, a outra eliminatória da Liga Europa e assegurar um lugar europeu, embora o campeonato ou mesmo a pré-eliminatória da Liga dos Campeões seja muito difícil.
Enfim, o Sporting, que depois de uns tempos desastrados, todos davam por vencido, não foi abatido. Mas ainda precisa de espaço, de arejar, para poder respirar com a facilidade e a alegria com que o fez em Alvalade, no domingo passado.