Três vitórias apenas em oito jogos, duas delas nas eliminatórias da Taça de Portugal, uma das quais ultrapassada após prolongamento. Quatro pontos somados em doze possíveis na Liga, prova em que o Sporting passou de líder incontestado na 11.ª jornada a 2.º classificado na ronda 15. João Pereira ainda argumentou que a competência de um treinador não se vê apenas pelos resultados, mas a sequência inicial foi tão má que não deu alternativa à SAD do Sporting. Em condições normais não faz sentido desistir de um treinador ao fim de pouco mais de um mês, mas o impacto da saída de Ruben Amorim foi demasiado negativo. Toda a gente sabia que a herança era muito pesada, mas o sucessor nem sequer conseguiu superar a fase do basta não estragar. É verdade que o trabalho de João Pereira ficou condicionado por um número considerável de lesões, e também alguns erros relevantes de arbitragem, mas é caso para dizer que, do trabalho de Amorim, só ficou mesmo a estrutura tática. O Sporting, que a 10 de novembro parecia praticamente imbatível, com uma confiança inabalável e um futebol vistoso, tornou-se uma equipa inofensiva a atacar e tremendamente insegura a defender, muito por força de uma transição calamitosa.A aposta no antigo lateral direito até fazia algum sentido. Pelo menos para alguém como eu, que assumidamente não tinha dados suficientes do trabalho realizado nos sub-23 ou na equipa B do Sporting para dizer o contrário. Encontrar outro Amorim seria o equivalente a descobrir petróleo nos terrenos de Alcochete, mas promover alguém que estava por dentro do projeto parecia ser um plano lógico. A aposta de Frederico Varandas revelou-se um fracasso, mas aquilo que o belisca mais nem é a escolha, que só quem nunca liderou um clube é que nunca se enganou com um treinador — e o próprio ja se tinha enganado algumas vezes. Aquilo que causa maior dano aos créditos amealhados pelo presidente do Sporting nos últimos anos é o excesso de confiança patenteado no discurso. Porque João Pereira, que ia ser protegido ao herdar um contexto «fabuloso», do plantel ao staff, afinal estava a receber o «convite mais ingrato e o presente mais envenenado».João Pereira até pode chegar a «um dos clubes mais poderosos da Europa» dentro de quatro ou cinco anos, mas para vir a tirar algum mérito disso, Varandas terá de provar entretanto que o projeto não era apenas Ruben Amorim.