Mourinho ou Jesus já não são bons?
No desporto, os melhores são os que mais vencem; os piores, os que mais perdem. Difícil encontrar algo mais objetivo e, no entanto, algo mais falível
SABER nunca será um verbo definitivo. Será, antes, um estado transitório, um patamar para novos conhecimentos. Por isso, ninguém sabe suficientemente de tudo ou, mesmo, da sua área de especialização, para, alguma vez, se dar ao luxo de deixar de aprender ou deixar de estudar.
No futebol, talvez a área da sociedade onde o que é dado como definitivo é, afinal, mais efémero, há, sempre, a persistente tentação de se encontrar o melhor. O melhor jogador, o melhor treinador, o melhor presidente, o melhor árbitro. O melhor tem, no desporto e não só, uma relação direta com o resultado. As vitórias são conseguidas pelos melhores. Assim, os melhores são os que mais vencem; os piores, são os que mais perdem. É difícil encontrarmos, na vida, algo mais objetivo. E, no entanto, também algo mais falível.
Vejamos os exemplos reais dos treinadores de futebol. Olhemos Mourinho ou Jorge Jesus. De ambos se dirá que não têm nada a provar. Que estão entre os melhores e que esse será, para sempre, um estatuto irrecusável, porque corresponde a títulos, a vitórias, a sucesso de equipas que lideram ou lideraram. Mas se quisermos virar a cabeça para trás e olharmos o passado, podemos reparar que o futebol mundial está pejado daqueles que, em algum momento, foram considerados os melhores.
De Herberto Chapman a Bob Paisley ou a Cândido de Oliveira, de Joe Fagan a Bobby Robson, de Alex Ferguson a Claudio Ranieri, de Arsène Wenger a Didier Descamps, de Jorge Jesus a Luiz Felipe Scolari, de José Mourinho a Pep Guardiola, de Jurgen Klopp a Thomas Tuchel. Pode fazer-se uma lista quase infindável e que pode variar segundo o gosto e os critérios de cada um, porque toda a objetividade é estúpida, quando aplicada em tais casos.
O que é perigosa é a ideia de que possa existir, de facto e de direito, um melhor do mundo, sobretudo quando visto numa versão absoluta e definitiva.
Não. Há um patamar de treinadores de elite, de talento superior, mas que precisam de muito trabalho, de muito estudo, de muito inconformismo para se manterem entre os melhores.
Esta será, no entanto, uma realidade comum a todos os setores da nossa sociedade. Jornalistas, inclusive, porque ninguém se sustenta nesta profissão, que vive de observar a evolução do Homem, sem estar preparado para estudar a vida inteira, como deve acontecer com um médico, um cientista, um político, um empresário, um piloto, um comandante militar, seja o que for.
Por isso, quando hoje está em voga discutir, pelo lado avesso das coisas, a razão pela qual um treinador como José Mourinho ou Jorge Jesus não vence como vencia, não se comporta com o mesmo inconformismo como se comportava antes, nos momentos de insucesso, é preciso entender que a questão, assim colocada, é sempre traiçoeira porque não se sabe, além do muito que ambos sabiam, quanto hoje sabem mais.
Percebe-se a tentação de se dizer que, antes, precisavam de ser ambiciosos, eram jovens à descoberta do mundo, festejados e invejados por todos e que, hoje, são apenas sábios acomodados nos seus velhos saberes, sem cuidar de que o mundo continua a girar.
Mas não é certo que assim seja. Ambos terão, certamente, a consciência de que a natureza humana é implacável com quem desiste de saber mais, com quem se senta na cadeira da fama, sem vontade de reiniciar a grande marcha. Ambos adoram ganhar, adoram o sucesso, adoram ser o centro do mundo e sabem que esse é o título mais difícil de conquistar, que mais obriga ao esforço, às vezes, mesmo, ao sofrimento.
José Mourinho, treinador do Tottenham
Em Braga um grande jogo
Há jogos grandes e há grandes jogos. Sabe-se que, amanhã, em Braga, haverá um jogo grande, um jogo que conta mais do que os pontos que as equipas disputam, um jogo que suscita enredos especiais, emoções fortes, expectativas legítimas. Mas o que, ainda, não se sabe é se o jogo grande será um grande jogo. Um espetáculo de encher olhos e corações. Emotivo e justo. Esplendoroso e apaixonante. É preciso esperar pela revelação ou pela desolação do desejo. Depende dos artistas que brilham, apesar da plateia vazia.
A guerra das vacinas
Portugueses: para a vacinação rapidamente e em força! Este seria o lema anunciado pelo Governo, não fosse a indesejável parecença com a histórica frase dita por Salazar num contexto bélico. Não sendo propriamente a ordem numa palavra, é, pelo menos, uma palavra de ordem. Tem o significado de um dever pessoal e intransmissível, além de um direito de cada um. Confrangedora, no entanto, a guerra geoestratégica que as grandes potências fazem com a distribuição das vacinas, causando, como sempre, vítimas inocentes.