Mbappé 55 milhões? Sem contrato?
A todos nós parece que o PSG sempre geriu o 'dossier' do avançado de forma caótica. Um dos melhores jogadores do mundo não parece ser fácil de satisfazer, como já se começa a sentir no Real Madrid. 'Direito ao golo' é o espaço de opinião quinzenal de João Caiado Guerreiro
A Comissão Jurídica da Liga Francesa de Futebol decidiu que o Paris Saint- Germain tem de pagar 55 milhões de euros a Kylian Mbappé. Coisa pouca já que os valores correspondem a três meses de salários e prémio de retenção! Mas pensemos, caro leitor: como se paga 55 milhões se não há sequer um contrato escrito?
Segundo o clube houve conversas, mas nada foi acordado e assinado. Já Mbappé defende que houve um acordo verbal e até foi feito um contrato, mas nada foi assinado! Lá está, se quisesse pagar, Al Khelaifi, presidente do PSG, teria assinado o contrato. Não o fez. E agora?
A todos nós parece que o PSG sempre geriu o dossier do avançado de forma caótica. É verdade, um dos melhores jogadores do mundo não parece ser fácil de satisfazer, como já se começa a sentir no Real Madrid. Mas ao dizer que não paga, o PSG arrisca-se a ser sancionado. Os regulamentos da UEFA não deixam dúvidas: no art.º 11 lê-se que «os clubes (...) têm de respeitar as leis do jogo (...) bem como os estatutos da UEFA, as suas regulações, directivas e decisões, e cumprirem os princípios da conduta ética, lealdade, integridade e desportivismo». Mais, no artigo 8, «o clube que seja obrigado por uma norma da UEFA, pode ser sujeito a medidas disciplinares se violar essa regra». Acresce que as medidas disciplinares previstas logo no art.º 6 são duras e vão desde «o aviso (a) à suspensão (e), passando pela perda de pontos (g); perda do jogo (h), interdição do estádio (j) ou proibição de inscrição de novos jogadores (m)».
O PSG quer levar a questão para os tribunais comuns. Já escrevi inúmeras vezes que as federações de futebol e a UEFA têm aversão aos tribunais. A ambição dos órgãos desportivos é que o desporto seja um sistema fechado, onde tudo é regulado e decidido pelos órgãos do desporto. Isto porque os órgãos desportivos sabem mais sobre desporto, argumentam. Obviamente, os Estados e os Tribunais não concordam. A Justiça é uma matéria exclusiva dos tribunais e para estes cabe sempre recurso. Nunca esquecer: cabe sempre recurso!
Numa democracia e num estado de direito só pode ser assim. Muitas vezes fica a sensação de que no desporto há uma justiça para os grandes e outra para os pequenos. Repare-se que o Barcelona continua a escapar a quaisquer sanções mesmo depois de ter sido provado que pagou sete milhões de euros a um árbitro! E o Manchester City só agora começou a ser julgado pela Federação Inglesa por ter gastado mais que o que deveria, violando o fair play financeiro. Algo que sempre esteve à vista de todos.
Permitam-me continuar a falar sobre jogadores do PSG: Nuno Mendes foi vítima de insultos racistas no Instagram, que corajosamente denunciou. Os comportamentos discriminatórios são absolutamente banidos pelas autoridades desportivas. E são também proibidos por lei. Mas as redes sociais permitem a livre expressão de todos e este direito é frequentemente abusado, com comentários racistas e não só. Todos temos a obrigação de lutar contra o racismo. Esse é o nosso Direito ao Golo.