Manuel Mota e a Final Four
Quem olha para lá da espuma percebe que o bracarense fez trabalho muito competente
Aarbitragem de Manuel Mota na final da Allianz Cup mereceu alguma contestação, o que não deixa de ser normal. O jogo era decisivo e de forte impacto nas emoções de intervenientes e adeptos. Quem vê apenas à superfície tende a avaliar o trabalho dos árbitros em função de erro e acerto, ou seja, do seu processo de decisão. Nesse aspeto sim, houve alguns erros de análise, sobretudo a nível disciplinar.
Mas quem olha para para a qualidade global de uma arbitragem, quem mergulha para lá da espuma, percebe que o bracarense fez estrategicamente um trabalho muito competente. Mota teve naquele jogo um merecido prémio. A cumprir a sua 12.ª época consecutiva na primeira categoria, é provável que termine a carreira no final do campeonato. O árbitro natural de Vila Verde fez um percurso em crescendo e alicerçado num estilo muito seu: o de gesticular, explicar e até repreender antes de agir. Só puxa do cartão quando a coisa chega ao limite. O limite que traçou naquela que é a sua linha de intervenção (e sim, a sua linha de intervenção não tem que ser a nossa).
No dérbi do passado sábado Manuel Mota pôs em campo uma estratégia que, para quem está deste lado, foi muito clara: atuou disciplinarmente apenas quando a infração não lhe deixou margem de manobra. Nos lances de dúvida (entre mostrar/não mostrar amarelo ou entre advertir/expulsar) foi sempre por baixo, optando sempre pela menor sanção. Fez o mesmo tecnicamente: entre punir e não punir, não puniu. A opção não foi infalível e, no olho de falcão do nosso Big Brother, terá pecado por defeito, mas teve um mérito inegável: o de ser coerente, que é como quem diz, de ajuizar do mesmo modo para os dois lados. Esgaio, Vertonghen, Palhinha e João Mário cometeram infrações que podiam ter valido o cartão, mas Mota entendeu que não.
Quando outras, mais evidentes e inequívocas, surgiram... sancionou. E sancionou bem. Com as intensidades nas áreas fez exatamente o mesmo. Foi assim na disputa entre Grimaldo e Porro e Matheus Reis e Henrique Araújo. Foi também assim com Gil Dias/João Palhinha e Sarabia/Meité. Foi sempre assim. Coerente.
Se Mota tivesse sido mais rígido, a final teria tido umas 45 faltas e 15 cartões. O bracarense teria sido acusado de «estragar uma final que mais parecia uma batalha campal». Não o fez e foi criticado, porque criticar o parente pobre dói sempre menos do que reconhecer a pobreza que temos em casa.
Uma nota final para o comportamento dos bancos técnicos, que foi mais uma vez... inenarrável. Será assim até que uma de três coisas aconteça: os bancos suplementares desapareçam dali (não estão lá a fazer rigorosamente nada); as pessoas que lá estão sejam mais cerebrais do que emocionais; e os árbitros/regulamentos sejam implacáveis na punição em campo e fora dele. Até lá, bar aberto à palhaçada, com toda a gente a ver e ninguém a fazer nada.
Venha o próximo.