Mais de uma semana sem sobressaltos… mas com Ronaldo

OPINIÃO21.03.201900:18

O jogo contra o Boavista, visto de hoje, não parece tão mau porque o que jogámos em cassa, contra o Santa Clara, foi pior. Se no Bessa podíamos ter marcado vários golos e acabámos a ganhar com um penálti bastante duvidoso, em Alvalade, contra os açorianos, o jogo teve duas partes: um desespero até Raphinha ter marcado, aos 60 minutos (com a inevitável assistência do incomparável Bruno Fernandes); e um desespero depois do golo, porque houve momentos em que mais parecia que podíamos permitir o empate. Enfim, passou-se, e logo numa jornada em que os mais diretos competidores tinham jogos bem difíceis: o Braga em Setúbal e o Benfica em Moreira de Cónegos, cuja equipa está a fazer um campeonato sensacional. Também o do Porto, embora no Dragão, contra o Marítimo, não parecia favas contadas. Os portistas deram 3-0, o Benfica 4-0 (fora) e nós andámos um bocado a tremer. Pode ser que o descanso que esta semana dá, devido aos compromissos das seleções, faça bem à equipa. Pode ser que dos treinos em que entraram Abdu Conté, João Silva e Joelson saiam novas ideias e entrosamentos mais precisos. E, sinceramente, espera-se que a mialgia de esforço que afeta Bruno Fernandes e o afasta da Seleção (onde o Sporting fica sem um único jogador, depois de anos em que sistematicamente era o clube que mais contribuía) não persista até aos jogos para o campeonato (dia 30 em Chaves) e, sobretudo, para a segunda-mão da meia-final da Taça de Portugal, dia 3 de abril, em Alvalade.

Objetivos imediatos e a longo prazo

Sabe-se que Varandas e Keizer preparam já a próxima época e que já foi, ontem ao fim da tarde, comunicado à CMVM que o clube tem o financiamento de 65 milhões de euros assegurado. Estas notícias são boas, sobretudo se na preparação da próxima época conseguirmos arranjar jogadores talentosos e dispostos a deixar tudo em campo. E arranjar a cabeça de outros, como Bas Dost que nos últimos encontros nem faz nada de nota, nem tem ninguém que se note à altura de o substituir.
Como já escrevi várias vezes, num clube democrático, em que uma Direção aceita as regras do jogo (coisa que a anterior deixou de fazer), as responsabilidades pedem-se no fim de cada ciclo. Pessoalmente, acredito que a Direção de Varandas (e ele próprio) e o treinador e equipa técnica sejam capazes de nos surpreender para o próximo ano. Mas ainda há jogos este ano em que temos de nos bater como se não houvesse amanhã: derrotar o Benfica e passar à final da Taça, já no próximo dia 3 de abril é um desses momentos que pode definir completamente o futuro da Direção, dos jogadores e dos técnicos. É certo que o terceiro, ou o segundo, para não falar do primeiro lugar no campeonato são objetivos importantes. Porém, na verdade, o que ainda nos pode ser acessível (3º) é financeiramente (e até do ponto de vista anímico) igual ao que temos assegurado (4º). Porém, vencer o Benfica é, desde logo, importante, mesmo que a feijões. Mais ainda quando nos propicia a final da Taça e aí, como se sabe, podemos conseguir o segundo troféu da época, muito mais importante do que a Taça da Liga já arrecadada.

Seleção para acalmar os nervos

Como assinalou no Editorial de ontem deste jornal José Manuel Delgado, a propósito de agressões sofridas por dirigentes do Sporting, tanto no Estádio do Bessa, como no Dragão Caixa, das quais não se viram consequências práticas, um adepto inglês que agrediu o capitão do Aston Villa que disputava uma partida em casa do Birmingham, foi detido. No dia seguinte foi julgado e condenado a 14 semanas de prisão e proibição por 10 anos de frequentar recintos desportivos. Por seu lado, o Birmingham baniu-o para sempre. É assim que se combate o hoolinganismo.
A pergunta é: por cá, quem começa? Proponho que seja, precisamente, o Sporting, uma vez que o seu presidente já fez vários avisos às nossas claques. E que a propósito das agressões disse, e bem: «Não chega um pedido de desculpa envergonhado. Ficámos à espera do que aconteceria depois do jogo do Bessa e, para além da nossa queixa-crime, nada aconteceu». Tem de acontecer, como é óbvio. Não só aos adeptos e dirigentes que ameaçam e agridem os adversários, como aos que não sabem estar num estádio. E no desporto, ao contrário de na geoestratégia, seguindo o pensamento de Roosevelt, não há os maus dos outros e os nossos maus. São todos para afastar do caminho da convivência e do fair-play…
E nada como dois jogos da Seleção para unir o país, independentemente dos clubes. Já amanhã, contra a Ucrânia, na segunda-feira, contra a Sérvia e ambos com a atração que é o regresso de Ronaldo, num momento em que anda bastante inspirado. Ronaldo e mais uns tantos que se fizeram no Sporting e que o Sporting tem de voltar a ser capaz de formar.
Cristiano pode bem ser mais uma fonte de inspiração para a nossa Academia e para os jovens que Keizer pôs esta semana a treinar com a equipa principal.