Liga das Nações

OPINIÃO16.06.202207:30

Continuamos a acreditar que a Seleção voltará com a determinação que nos caracteriza e nos vai dar muitas alegrias

FERNANDO SANTOS atingiu o 100.º jogo na Seleção Nacional, com dois títulos valiosos: Liga das Nações e Campeonato da Europa, com a maior percentagem de vitórias: 61,6% (os quatro da lista que contempla os mais próximos do atual selecionador: António Oliveira 59,1%, Luís Felipe Scolari 56,8%, Paulo Bento 55,3% e Carlos Queiroz 51%).

A nossa Seleção sabia que só com rigor e concentração poderia vencer a Rep. Checa. Novamente em Alvalade, no dia 9 deste mês, Portugal, com uma inteligente gestão do esforço, entrou com quatro alterações em relação ao último jogo (Diogo Costa, Raphael Guerreiro, Bernardo Silva e Gonçalo Guedes), procurando a melhor estratégia e organização, em função de cada desafio. Somente 3 jogadores não foram ainda substituídos: Pepe, Danilo e Cancelo. Portugal com posse e Rep. Checa mais intensa, rápida e com linhas muito juntas. A nossa seleção, circulando à largura, segurou a bola e progressivamente criou lances de golo. Diogo Costa defendeu, enviou a bola para Bernardo Silva, que isolou Cancelo e fez um golo excelente: 1-0 aos 33’. Numa jogada do mesmo género, Rúben Neves passou para Bernardo Silva e este assistiu Gonçalo Guedes, que obteve o 2-0 aos 38’. Portugal controlou e revelou classe e uma confiança tranquila. A Rep. Checa tentou algumas vezes criar perigo, mas a organização da seleção portuguesa manteve o controlo do jogo. Poderíamos ter conseguido mais golos nos últimos 30’, nos quais fizemos cinco substituições, para procurar aumentar o resultado e dar tempo a mais jogadores.
 

Portugal perdeu na Suíça e tem de ganhar os dois jogos que faltam na Liga das Nações


No passado dia 12 deste mês, Portugal deslocou-se à Suíça para o jogo da segunda volta. Ninguém acreditava no que aconteceu. Alterar jogadores na equipa titular é uma estratégia bem calculada, mas logo 7 jogadores desde o início, em relação à anterior, talvez tenha sido excesso de zelo. De facto, no primeiro minuto tudo poderia ser diferente. Entrámos a perder, mas ainda havia muito tempo para recuperar. Contudo, notaram-se alguns jogadores em sub-rendimento (os dois laterais, mas particularmente o do corredor esquerdo, talvez no seu jogo menos conseguido de sempre). Faltou ligação, circulação a toda a largura, com o foco na baliza adversária, sem velocidade e com perdas de lances não habituais. Vitinha ainda acrescentou dinâmica e intensidade, mas os jogadores nacionais não se movimentavam com eficácia e apoio. Assim, foi mais fácil a Suíça disputar o jogo de forma direta, porque na pressão da equipa nacional não havia cooperação com sentido de golo. Ao intervalo sabia-se que ou a nossa equipa mudava a estratégia e dinâmica ou seria muito complicado, porque os suíços destruíam e impediam, praticando jogo duro e uma circulação mais direta. Na segunda parte entrou Gonçalo Guedes (saindo Otávio) mas apesar de uma entrada prometedora, acabou sem conseguir construir lances em condições para finalizar. Mesmo assim, Portugal desperdiçou oportunidades que, com mais equilíbrio, poderiam ter construído uma vitória. Aos 62’, saíram Rafael Leão, mal aproveitado durante o jogo, entrando Diogo Jota (que acrescentou mais garra), e Vitinha, para entrar Bernardo Silva, que criou lances de perigo mas durou pouco. Aos 74’ entrou Matheus Nunes para o lugar de Bruno Soares e aos 82’ entrou Ricardo Horta, saindo Rúben Neves. Perdemos 3 pontos, tivemos um jogo de fraca qualidade e sem a nossa competente organização, o que nunca sendo positivo serviu de alerta e reforço para exigência futura. Temos muita qualidade mas não basta, é preciso provar isso dentro do campo. Continuamos a acreditar que, depois deste percalço, a Seleção voltará com a determinação que nos caracteriza e nos vai dar muitas alegrias.
 

MERCADO E ENORMES DESPERDÍCIOS

Omercado nacional de transferências está em ebulição, procurando conseguir jogadores que se adaptem rapidamente ao nosso campeonato. Enquanto se seguram os mais influentes, tenta-se aumentar o valor do passe dos jogadores com muita procura internacional, para conseguir encaixes salvadores. Utiliza-se o mercado interno e a estratégia do empréstimo com opção de compra, o que muitas vezes pode permitir lucros avultados mas também se correm riscos de prejudicar os interesses do jogador. Em relação às transferências para os clubes mais poderosos, o mercado é mais sigiloso, embora se aguardem divulgação de verbas e vencimentos muito elevados, pela concorrência imparável em reforçar-se mas também para impedir os principais adversários de contratarem jogadores influentes.

O modelo atual de transferências e salários muito avultados tem originado situações curiosas, porque jogadores com salários muito altos nem como suplentes são escalados para o jogo. A luta dos clubes mais ricos cria uma inflação que vai destruindo o futebol porque se reflete na generalidade dos contratos.
O PSG e outros clubes com possibilidade de oferecer facilmente salários elevados devem pensar que podem tratar os jogadores como objetos de decoração que perdem a novidade quando deixam de ter graça. Antigo jogador do PSG colocou o dedo na ferida que ninguém quer ver e prefere desviar o olhar. Sabendo que vai ser despedido, porque não falta capital para contratar sem parar, o jogador ou o treinador limita-se a ocupar, isolado, abandonado e com tristeza pela indiferença. Mais uma vez, o clube das verbas do Catar vai contratar novidades e despedir outros. Os jogadores, que comentaram o modelo de relacionamento do clube, denunciam forma de gestão muito discutível e, segundo alguns, com a frase decisiva: «Já não estamos contentes, vais-te embora com todo o teu ordenado.» A UEFA desconhece o fair-play financeiro ou tem necessidade de óculos?

Jogadores pagos a peso de ouro sentem o despedimento, mesmo com milhões, como uma atitude que os desprestigia. O Catar foi escolhido para organizar o Mundial-2022, continuando a comprar passes de jogadores por verbas elevadíssimas e despedindo-os quando querem, como se o futebol fosse uma mina onde os mineiros são admitidos ao dia, embora com somas de outros mundos. Mas além do dinheiro há a quebra de confiança que pode causar efeitos perversos na carreira de um jogador. O dinheiro é importante, mas a dignidade não pode ser desvalorizada por apetites. Este não é nem pode vir a ser o futebol que tem tradição e preserva uma das maiores manifestações da Humanidade. Pelo menos, respeitem os jogadores e treinadores na hora da despedida. O dinheiro é muito importante mas nunca será tudo! Se essa mentalidade invadir o futebol iremos passar a ter um outro jogo, completamente diferente e sem a paixão que o caracteriza. Ninguém pode ser dono de alguém. Os milhões nunca são tudo, por vezes falta respeito, compreensão, amizade, perante uma indiferença intolerável.
 

REMATE FINAL

Cancelo. Esta história foi divulgada pela mãe de jovem autista com 10 anos. Integrado na sua equipa e nos festejos da conquista de mais um título inglês. O jogador português viu um jovem em aflição: Ollie perdeu-se da família. Cancelo reparou nessa situação de risco na multidão que estava a comemorar, abraçou o jovem para o proteger da total euforia e não mais o largou até aparecer o pai. São estes momentos e decisões que revelam a dimensão humana do atleta, que soube distinguir as prioridades… sem dar nas vistas, somente com humanidade!

— Sérgio Conceição avança para a sexta época consecutiva a liderar o FC do Porto, com 271 jogos, somente atrás do recorde de José Maria Pedroto.

— A Liga Portugal aprovou alterações aos Regulamentos: possibilidade dos treinadores que subirem ao escalão principal do nosso futebol, poderem manter-se como treinador principal, mesmo que tenham somente o nível III, durante esse período, evitando as mentiras que desprestigiavam o futebol. Os golos fora deixam de contar para efeitos de desempate, como já entrou em vigor nas competições europeias. O presidente do Sporting pretendia o acesso aos diálogos dos árbitros e VAR, mas como deveria saber essa pretensão não depende da Liga nem da FPF mas do International Football Association Board (IFAB) e da FIFA.  

— A saga continua. Começou o julgamento de Blatter e Platini (ex-presidentes da FIFA e da UEFA), com suspeição de fraude, falsificação de documentos, corrupção e outros eventuais crimes, porém Blatter, com 86 anos, afirmou estar doente e adiou a sua intervenção. A defesa dos arguidos não conseguiu levar o julgamento para uma pequena instância, que a FIFA desistisse dos cerca de 1,8 milhões de euros, nem adiar a sessão. Blatter afirma ter dificuldade em respirar e Platini justifica a verba recebida pelos serviços que prestou a Blatter entre 1998 e 2002.