Bruno Lage, treinador do Benfica, festeja no final do jogo com a Juventus
Bruno Lage, treinador do Benfica (foto: Imago)
Foto: IMAGO

Lage e o espaço que tem dado ao 'aproveitamento'

OPINIÃO02.02.202510:30

O Benfica e Bruno Lage, mais do que os rivais, têm-se exposto à crítica e devem aprender a conviver com a mesma. Na Luz, é sobretudo tempo de arrepiar caminho em direção aos objetivos

A palavra «aproveitamento» acaba por trair a comunicação de Bruno Lage. Se existe é porque algo não está bem. E, se não está bem, está sujeito a críticas. Essas, concordo, devem ser construtivas. A maior parte tem-no sido, tenho a certeza. Se não o forem, então obviamente não são mais do que ataques, como diz o técnico. E ninguém merece ataques gratuitos.

Não há, ao mesmo tempo, quem seja isento de crítica. O que não é o mesmo que dizer que todos sabemos lidar com ela. É importante que aprendamos ou passamos a viver no meio de fantasmas que nos retiram o discernimento e nos levam a decisões erráticas.

Tem sido o Benfica a falhar nos momentos em que não deve, em que tem de ser mais afirmativo do que nunca, como visitar um rival ainda a lamber feridas quando já se é primeiro. Ou nas Aves. Ou ainda, por último, em Rio Maior, diante do Casa Pia, o que deixou as águias expostas a uma possível diferença de seis pontos, como acabou por se confirmar.

É verdade que têm sido os encarnados os mais criticados. Em primeiro lugar, porque o Sporting é primeiro e o seu líder foi a tempo de corrigir uma primeira má decisão. Depois, porque o ponto de partida do FC Porto foi tremendamente mais baixo do que o dos outros candidatos. Por fim, porque o orçamento das águias falha, ano após ano, em acrescentar troféus condizentes ao museu.

Além disso, quem ofereceu o flanco com as conversas com os adeptos, as palavras acusatórias aos jogadores e as conferências confusas e sem sentido? Não é possível que Lage ache que só toma decisões corretas, seja no planear um jogo, nas opções que toma no banco, nas declarações que profere. Isso não existe. E o técnico não pode concluir que um ou dois bons jogos apagam o que está para trás de menos bem-conseguido. Tem de ter uma melhor perceção de si próprio. É preciso consistência e arrancar em definitivo para uma época que já passou a linha de meio-campo.

Bruno Lage até pode vender esse discurso do nós contra o mundo para forçar a união na equipa e em torno desta, como tantos o fizeram no passado, todavia a vitimização só pega até certo ponto. Não explicará um eventual fracasso se os resultados e as exibições não ganharem consistência e o Benfica não se aproximar e ultrapassar o Sporting na luta pelo título. E, apesar de se ainda estar longe do fim, os encarnados já estiveram mais perto e o grande rival bem mais frágil.