Jogos Olímpicos de Paris
Diogo Ribeiro criticou as condições da aldeia olímpica e da piscina de Paris 2024 (IMAGO)

Jogos Olímpicos de Paris

OPINIÃO06.08.202410:30

Só os melhores, os que mais treinam e se dedicam, conseguem o apuramento. É um momento histórico, inesquecível, que premeia a resiliência, o espírito de sacrifício, a qualidade e excelência – O Poder da Palavra é o espaço semanal de opinião de Duarte Gomes

Para muitos, os Jogos Olímpicos são o maior evento desportivo do Planeta. Sou dos que subscreve a ideia.

Só os melhores, os que mais treinam e se dedicam, conseguem o apuramento. É um momento histórico, inesquecível, que premeia a resiliência, o espírito de sacrifício, a qualidade e excelência.

Infelizmente não tenho acompanhado como desejava o dia a dia dos Jogos, mas estou a par dos registos extraordinários que vários atletas têm alcançado. Surpreendentemente também tenho dado conta de um número de gaffes que não estava à espera que acontecessem a este nível.

O grande organizador deste evento, o Comité Olímpico Internacional, teve seguramente tempo, recursos e meios mais do que suficientes para antecipar problemas e evitar falhas como as que se têm visto quase diariamente. Seria importante que, nos próximos jogos (em Los Angeles-2028), não se cometessem erros tão primários.

Na primeira semana do certame — é justo sublinhar que a cerimónia de abertura foi um espetáculo deslumbrante — uma série de problemas deixaram embaraço generalizado: a comitiva da Coreia do Sul foi apresentada como sendo da Coreia do Norte (não podia ser maior, a ofensa), facto que até gerou alguma tensão diplomática com a França; a bandeira com os anéis olímpicos foi hasteada de cabeça para baixo (!); houve troca de hinos num jogo de basquetebol (a  seleção do independente Sudão do Sul foi apresentada como sendo do Sudão); houve também confusão com o nome de outros países, enfim, foi demasiada troca e baldroca. Em bom rigor, demasiado amadorismo, o que é pena.

A própria aldeia olímpica, por esta altura o quartel-general dos mais talentosos atletas mundiais, tem sido alvo de críticas diárias: camas sem quaisquer condições para descanso (o campeão olímpico Thomas Ceccon foi filmado a dormir num jardim para escapar ao calor do quarto e às más condições do mesmo), a comida sistematicamente apontada como sendo insuficiente e de má qualidade, a zona de restauração colocada à distância da área de dormida, a inexistência de sistemas de refrigeração (ar condicionado) em pleno verão, barulho dia e noite, segurança deficiente, enfim, um caos.

Naturalmente que a soma de tanta imperfeição tem impacto direto no desempenho dos atletas. Que o diga o nosso Diogo Ribeiro, que sublinhou corajosamente essas falhas. O tempo de descanso, a qualidade da alimentação, o sossego, tranquilidade e bem-estar são absolutamente fundamentais na preparação emocional, psicológica e física de quem compete, sobretudo numa competição onde cada jornada, cada desempenho, é de vida ou morte.

Até o Sena não esteve à altura do que se exigia, adiando a prova de triatlo devido à má qualidade das suas águas. Quando os organizadores finamente deram luz verde, a prova aconteceu. O pior veio depois: Claire Michel, atleta belga, está internada desde o dia 31 após contrair a bactéria E-coli que motivara o adiamento da etapa. Um desastre!

Para piorar, o comportamento menos profissional de alguns atletas mais jovens, que aparentemente não entenderam a importância e responsabilidade que a sua presença representava para si e para os seus países. Vários foram penalizados ou afastados por pensarem que estavam de férias. Que podiam passear na Disneylândia ou namorar junto à Torre Eiffel como se fossem turistas em lazer.

Quem veste a camisola (e as expetativas) de toda uma nação tem que ser profissional do primeiro ao último segundo. É quase inaceitável que não entendam isso.

Que ao menos os desempenhos notáveis, a quebra de recordes e a extraordinária entrega e qualidade da maioria dos competidores possam continuar a oferecer-nos momentos inesquecíveis, que não façam corar de vergonha os valores defendidos por Pierre de Coubertin, fundador do olimpismo moderno e pai dos primeiros jogos, em 1896 (Atenas).

Vamos ver no que isto dá.

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