Investir no Desporto, investir no País
Palavra de Gverreiro é o espaço de opinião quinzenal de Pedro Sousa, adepto do SC Braga e deputado à Assembleia da República
O Desporto, mais do que uma mera actividade lúdica, é uma peça vital na estrutura de desenvolvimento de qualquer país.
Em Portugal, porém, o Desporto parece viver uma condição paradoxal: por um lado, conquista-nos nos grandes palcos, mas, por outro, permanece subfinanciado e sem a estrutura estratégica necessária para se afirmar como o verdadeiro motor de progresso que pode e deve ser.
Urge, portanto, uma visão global e articulada para o Desporto nacional, uma política que vá além do espectáculo momentâneo e abrace uma construção sólida, da formação ao alto rendimento.
A nossa realidade, num olhar atento, revela fragilidades ao nível da formação e da retenção de talento, carências nas infra-estruturas e um investimento público que não reflecte a importância do sector.
Países como a Noruega e a Dinamarca, países de pequena dimensão, com cerca de metade dos habitantes de Portugal, são exemplos paradigmáticos de uma concepção holística do Desporto.
Nestes dois países, por exemplo, o sucesso nos desportos de inverno ou no andebol, não é fruto do acaso, mas, pelo contrário, de uma visão que valoriza a inclusão de todos os cidadãos, promovendo o Desporto desde a infância, sem uma carga excessiva de competitividade, mas com uma cultura de incentivo à excelência. Esta abordagem permite o desenvolvimento do talento ao ritmo da maturação individual, levando ao alto rendimento atletas com bases sólidas e destinados a desempenhos de topo.
No Japão, encontramos outro exemplo inspirador. Com o investimento público e privado juntos num programa nacional de Desporto Escolar, o país consegue formar atletas de alto nível, mas, mais do que isso, fomenta a prática desportiva como alicerce de uma sociedade saudável e resiliente. Para além de preparar campeões, trata-se de conceber o Desporto como um verdadeiro direito fundamental.
Uma política como esta impulsionaria, em Portugal, não só a qualidade de vida dos cidadãos, mas também o nosso potencial competitivo, desde o nível local até ao internacional.
O Desporto é, pois, uma infra-estrutura invisível, mas essencial, para o desenvolvimento humano e social.
Um financiamento público que reforce, a sério, esta área, permitindo infra-estruturas adequadas, técnicos especializados e programas de apoio à formação e ao alto rendimento, tem tudo para ser um pilar estruturante para o futuro de Portugal.
O aumento da dotação financeira não é um capricho, mas uma necessidade. Precisamos de apostar na saúde física e mental dos mais jovens, de proporcionar condições para que o talento encontre espaços para florescer e de garantir que o país se orgulha de cada desportista que enverga as suas cores.
Por vezes, observa-se o Desporto como um fim em si mesmo, um sector quase à margem das políticas de desenvolvimento. E, no entanto, se olharmos para os exemplos que sobressaem no cenário europeu e mundial, percebemos que o Desporto, quando bem estruturado e integrado nas políticas públicas, eleva os países em múltiplas dimensões – na economia, na saúde, na educação e na identidade cultural.
Não basta torcer por vitórias efémeras; é preciso construir uma estrutura duradoura. Portugal merece uma visão de futuro que posicione o Desporto como um factor central, com a mesma ambição que colocamos na ciência ou na educação.
Com o investimento certo e uma estratégia bem delineada, o Desporto poderá ser o próximo grande passo no nosso caminho para um desenvolvimento cabal e pleno.