Há um dia da caça, outro do caçador e um dia do Paulinho

OPINIÃO30.12.202105:55

Não foi fácil, porque Paulo Sérgio põe o Portimonense a jogar bem. Mas era o dia do ponta de lança, ainda que os algarvios marcassem 2/3 dos golos sofridos em Alvalade

OSporting teve uma primeira parte difícil e, nalguns aspetos, mal jogada. Podia ter sofrido um golo espetacular de Nakajima e acabou, através de Matheus Reis, por meter um golo na própria baliza. Ao intervalo não se augurava um grande resultado.
Depois, o Sporting acelerou, ficou por cima, e aos 57 minutos foi expulso Pedro Sá; com a equipa do Algarve a jogar com 10, e com uma pressão cada vez maior da equipa caseira, chegou o dia de Paulinho. Não só empatou (65’), como marcou mais um (76’) e depois outro (83’). Três golos, o famoso hat trick que lhe permitiu levar a bola para casa.

Este terceiro golo viria a revelar-se providencial, porque na sequência de um livre, Lucas Possignolo fez um remate fabuloso e conseguiu o 3-2, aos 92 minutos. Em resumo, o Sporting, que esta época só sofrera um golo em Alvalade para o campeonato, marcado por Luis Díaz, do FC Porto, acabou a sofrer dois; o Sporting, que tinha cinco golos sofridos, passou a ter sete. Enfim, o Portimonense, apesar de perder, tem motivos de orgulho, o que só valoriza a vitória leonina.

Não é apenas o facto de o Sporting assistir ao FC Porto-Benfica com três pontos de avanço, sabendo que uma das equipas que amanhã se encontram, ou mesmo as duas, há de perder pontos para os que esta noite vão em primeiro, no campeonato. É também o historial do Sporting nesta época, na Liga: nunca perdeu; apenas empatou com o FC Porto, em casa, e com o Famalicão, fora. Em 16 jogos tem 14 vitórias e zero derrotas; 30 golos marcados e sete sofridos. Tem um treinador e uma equipa técnica que se percebe saber o que faz. Basta ver como Matheus Reis, apesar de ter feito um autogolo, conseguiu fazer um jogo fantástico; basta ver como Rúben não teve medo de pôr em campo Geny Catamo, mais um estreante, depois de tantos, como Nazinho, Essugo e Gonçalo Esteves, que entraram, ou alinharam de início, sabendo exatamente o seu papel.

O Sporting tem uma ideia de jogo, mas isso não significa que na noite passada não pudesse ter perdido ou empatado. Haverá um dia. Como se costuma dizer, se um dia é da caça, o outro é do caçador. Ontem, até determinado momento, parecia ser o dia do caçador, de quem queria derrotar o Leão. Mas foi o dia, ou melhor, a noite, de Paulinho. Depois de tantas bolas à trave e golos desperdiçados, o avançado conseguiu marcar três golos, tantos quantos tinha marcado até agora.
2021 chega ao fim com um Sporting ao nível ou melhor do que fez a época passada. Esperam os sportinguistas que assim continue em 2022. Em todas as competições e com milhares de pessoas no estádio.
 

Paulinho foi a figura da vitória do Sporting frente ao Portimonense, por 3-2

O ÚNICO JESUS QUE…

JORGE JESUS foi vítima de si próprio e é pena como um treinador - tão treinado, digamos -, pode chegar a um ponto de tal forma baixo na sua carreira. O mal não está tanto nos resultados. Sem paixões, perder com o Sporting ou com o FC Porto, para não falar do Bayern, pode acontecer a qualquer um. Sem paixões, o Benfica só está afastado da Taça de Portugal. Pode ainda ganhar o campeonato, a Taça da Liga e até - sonhemos - a Liga dos Campeões.

O FC Porto, por seu lado, está fora da Taça da Liga e da Liga dos Campeões, embora ainda tenha a Liga Europa. Não quero dizer que apenas o Sporting está em todas as frentes, porque essa é uma condição que a qualquer momento pode ser perdida; apenas quero salientar que a saída de Jesus, com toda a encenação, com mais horas de televisão do que a morte de um Papa, se deve inteiramente a ele próprio e não a qualquer acontecimento ou ataque exterior.

Digo isto - e em português mais corrente poderia dizer pela boca morre o peixe - porque Jorge Jesus, que tem um currículo assinalável, mas não inultrapassável, só disse asneiras desde que voltou para o Benfica. (Claro que as disse antes de voltar, mas essas não contam).
Jesus era conhecido por utilizar de forma errada o português. Às vezes, de forma tão ostensivamente errada, que me perguntei se não se trataria de um estilo propositado. Se esse aspeto irritava alguns, a mim foi-me indiferente. Já o mesmo não posso dizer de frases como «nem num século um treinador português volta a fazer o mesmo», depois de ter ganho a Taça dos Libertadores, para nos dois anos seguintes, outro treinador português, com menos palavras e mais carências de plantel, ter vencido a mesma Taça; refiro-me, obviamente, a Abel Ferreira.

Também não se esquece a frase «venho para arrasar» na época em que não ganhou nada; pelo contrário: na Liga ficou em terceiro; na Taça de Portugal perdeu a final para o SC Braga; na Taça da Liga perdeu nas meias-finais novamente para o SC Braga; na Champions perdeu nas eliminatórias para chegar à fase de grupos com o grego PAOK, ironicamente treinado, então, por Abel Ferreira.

O annus horribilis foi, pois, o ano passado. Quando Jesus se desculpou com o Covid, como se os outros clubes estivessem imunes, e se queixou de tudo e mais alguma coisa. Aquele «arrasar», aquela arrogância paternalista, pagou-a caro. Não tão caro que não continue a usufruir de rendimentos que para qualquer mortal são inatingíveis. Mas este Jesus foi o único que morreu no Natal, e também o que caiu, não por se sacrificar por outros, mas por exigir que os outros se sacrificassem por ele.
A única nota de preocupação é esta: e se o Benfica recupera? Espero que Amorim, uma espécie de anti-Jesus no modo de ser, tenha uma solução preparada.
 

AS TAÇAS

PASSADO o Portimonense, o Sporting tem ainda de ir aos Açores para concluir a primeira volta. O balanço é positivo, claro, mas logo depois de receber o SC Braga à 19.ª jornada (em Braga venceu) tem um difícil jogo com o Santa Clara, outra vez, mas agora em terreno neutro, na Final Four da Taça da Liga. Se vencer esse jogo, está em condições de defender o título de campeão de Inverno frente ao Benfica, ou ao Boavista, que disputam a outra meia-final.

Na Taça de Portugal, agora nos quartos de final, vai jogar contra o Leça, fora. Parece simples, pode não ser. De qualquer modo, passando esse jogo, tem nas meias-finais, jogada a duas mãos, uma espécie de final antecipada com o FC Porto, já que na final propriamente dita estarão um de quatro clubes que nestas andanças são inéditos: Portimonense, Tondela, Rio Ave ou Mafra. Não é certo, mas é pelo menos expectável, que tanto o Sporting como o FC Porto possam vencer qualquer destas equipas na final do Jamor.

Por último, nos milionários da Champions, o Sporting apanha pela frente (primeiro em Alvalade) o Manchester City. Sim, é possível, podemos sonhar e isso tudo, mas é muito improvável. Ainda que por aqui fiquemos, a participação na Liga milionária é já de assinalar, tanto mais que nada temos a perder: se formos afastados pelo City é normal; se não formos é um feito digno de Ulisses ou de Hércules.
Naturalmente, depois da segunda mão em Inglaterra, que será disputada já a 9 de março, ainda haverá muito campeonato, e a Taça de Portugal. Para já, a tática tem de ser como Rúben Amorim sempre sublinhou: jogo a jogo, dando tanta importância ao modesto Leça, como ao portentoso Manchester City. Com alegria e humildade.
 

JOGAR FORA
PAULO SOUSA

Não é bonito fazer-se o que ele fez à seleção polaca. Embora o tenha admirado como jogador e tenha consideração pela sua carreira de treinador, penso que estes homens da bola têm de considerar seriamente se a sua dignidade não é posta em causa pelo desejo de comissões de agentes, que se movem mais ou menos na sombra.
 

RUI COSTA

Outro futebolista por quem sempre tive simpatia. Agora, como presidente do Benfica, não percebi o seu papel. Queria que Jesus continuasse? Não parece; se não queria, por que razão deixou andar a novela sem esclarecer os benfiquistas que, atónitos, viam um senhor Braz a querer levar o treinador para o Flamengo? No mínimo, é estranho.
 

PINTO DA COSTA

Fez 84 anos e é pena que no futebol, como em tantas atividades públicas e privadas, não haja limite de idade. É que ele já atingiu esse limite há bastante tempo.
 

DESEJO

Bom Ano para todos e que o desporto, em 2022, não sofra as maleitas pandémicas e endémicas que todos conhecemos.