Futebol sem parar

OPINIÃO09.06.202206:30

O assobio lamentável que os espanhóis dedicaram a Portugal foi enorme falta de respeito. E pensar que o Mundial-2030 terá uma candidatura ibérica!

C ONCLUÍDA a época nacional, que exigiu uma densa carga de esforço, veio nova fase competitiva para disputar lugares de titular ou não nas seleções. Se física e taticamente o empenho é enorme, a capacidade psicológica e de motivação é reforço indispensável para superar a exaustão. Nem se fala das lesões que estão sempre à espreita, dos castigos que enervam, ou seja tudo o que impede de participar em provas internacionais de representação do país. Manafá, por exemplo, somente ao fim de uma época inteira está a concluir recuperação para voltar a jogar ao mais alto nível e isso só está ao alcance de campeões. Os mais competentes continuam a dar o seu melhor, agora nas seleções, lutando pelo país, contra os melhores de outros países. Mesmo com a equipa escolhida por quem tem esse direito e poder, há sempre o vício de querer trocas, sem ter o mínimo conhecimento das situações e processos escolhidos. Está em causa o país e portanto, mais importante do que discordar de uma opção é urgente apoiar, sem restrições, a seleção. É preciso aplaudir, incentivar (até nas redes sociais) e não criticar em cima do fogo. O assobio lamentável que o público espanhol dedicou a Portugal foi uma enorme falta de respeito… e pensar que o Mundial-2030 terá uma candidatura ibérica! Afinal ainda há muitos pormenores a concretizar. O futebol do país está em jogo e cada um, apesar das preferências de um ou outro jogador, nunca deve esquecer que somos Portugal, sempre! Após uma época muito dura e cansativa, com as habituais e tristes guerras de palavras, conseguir um bom resultado da nossa Seleção na Liga das Nações é tarefa complexa, mas ao nosso alcance. Assim os jogos nos corram como esperamos, que temos competência para isso.
A Liga das Nações (conquistada por Portugal em 2019) revelou algumas curiosidades no primeiro jogo entre a Espanha e Portugal, realizado em 2 de junho: CR7 no banco e André Silva no centro do nosso ataque. Tirando a falta de desportivismo dos espanhóis ao assobiarem o hino nacional português, Portugal entrou bem, com confiança e cautela.
O corredor esquerdo luso com os dois Rafaeis (Guerreiro e Leão) teve lances de entendimento e criou algumas brechas na defesa espanhola. Árbitro algo tolerante para espanhóis. Espanha controlava o jogo e Portugal teve momentos sem a ligação mais perfeita, dando muitos espaços que poderiam ser aproveitados pela Espanha, mas foi corrigindo com o tempo e André Silva esteve perto do golo. Aos 25’, Morata abre o marcador mas ficaram algumas dúvidas da posição legal do avançado espanhol e de falha de marcação da defesa nacional. Na segunda parte foram sendo efetuadas as cinco substituições ao longo do tempo. Portugal fechou mais o corredor central. No final do jogo, Cancelo finalmente conseguiu ganhar a lateral, cruzou e Ricardo Horta marcou e fez o empate: 1-1. Um bom resultado, em função do jogo. Horta surgindo em espaços livres, com intensidade e com eficácia, para além de acrescentar instinto de matador. Praticamente numa semana cada equipa terá vários jogos.
No segundo jogo, a 5 de junho, Portugal defrontou a Suíça, que tinha perdido com a Chéquia. A nossa equipa inicial apresentou seis jogadores diferentes do primeiro jogo (Rui Patrício, Nuno Mendes, Rúben Neves, William Carvalho, Diogo Jota e CR7), porque temos um plantel vasto, de muita qualidade. Jogo equilibrado, com a Suíça a pressionar alto e Portugal a procurar manter a posse da bola. Aos 15’, após livre de Ronaldo, William aproveita defesa incompleta do guarda-redes suíço e abre o marcador. A Suíça reage com dinâmica ativa mas Portugal consegue controlar o jogo. Aos 35’, Portugal aumentou a vantagem numa jogada rápida e com assistência de Diogo Jota. Portugal desperdiçou oportunidades e aos 39’ novo golo de Ronaldo, numa jogada rápida com assistência de Diogo Jota. A nossa Seleção esteve próxima de goleada. Na segunda parte Portugal fez várias substituições e aos 68’ Cancelo marca o quarto golo. De seguida, a nossa Seleção fez as cinco substituições para manter o ritmo e concentração de todos. Vitória expressiva que poderia ter sido mais ampla. Temos equipa e jogadores de muita qualidade, que nos permitem acreditar que podemos vencer qualquer competição, desde que a equipa funcione em conjunto e, além disso, o plantel tem opções para todas as situações.  
Portugal tem conseguido resultados internacionais relevantes em todos os escalões, fruto de um trabalho constante de formação qualificada. Por outro lado, somos campeões a criar projetos nacionais diversificados que nada trazem de valor, porquanto nunca estão integrados em planos financeiros específicos. Fala-se muito, promete-se ainda mais, mas afinal só os clubes conseguem concretizar esses destinos de desenvolvimento, a custos seus. Nunca faltam personalidades a inventar planos sem nunca os concretizar, como se fosse um país de fantasia. Tirando a FPF e pouco mais, já está na hora de falarmos menos e começarmos a fazer, de forma sustentada e sem depender de apetites espontâneos. Programar e planificar exige competência, responsabilidade e avaliação constante. Com uma taxa de praticantes desportivos ainda muito baixa, é tempo de encarar o desporto como um universo de arranque do desenvolvimento integral do país que se torna, cada vez mais, exigente e urgente. O que fica para sempre é uma situação de desenvolvimento sem regredir, criando um futuro crescente de valor e um aumento substancial e decisivo de praticantes. Não bastam palavras, intenções, burocratizações que nada acrescentam ao desenvolvimento do jogo, porque o imprescindível é fornecer meios económicos, espaços qualificados, aprofundamento de formação adequada, que permita uma realidade de sustentabilidade e progressão sistemática. As palavras muitas vezes perdem-se no tempo… Temos equipa com muita qualidade que promete várias alegrias e garante um futuro muito promissor no futebol global.
 

Seleção Nacional começou a participação na Liga das Nações com um empate em Espanha e uma vitória sobre a Suíça em Alvalade


UMA FALHA DE MEMÓRIA

Q UEM ocupa lugares das instituições máximas do futebol não deve declarar preferências individuais. O presidente da UEFA considerou o jogador do Real Madrid, Benzema, «como o melhor avançado da atualidade e o futebolista mais subestimado da história». Com uma reflexão atenta, poderia ter-se recordado que o jogador que destacou foi condenado em tribunal por um ano de suspensão e multa de 75 mil euros, num caso muito triste que obrigou a FFF a afastá-lo da seleção por 6 anos: recorda-se certamente porque terá sido subestimado!


REMATE FINAL

– O belga Kevin De Bruyne critica calendário competitivo afirmando não ter tempo de férias nos últimos nove anos e criticou o período de realização da Liga das Nações: «Estive uma semana sem treinos e sem jogos e o corpo começa a descontrair. Depois vou ter quatro jogos em dias. Isso é procurar problemas.» Denunciou o exagerado calendário de jogos que os jogadores têm de cumprir. Com 50 jogos esta temporada, o belga afirma que o corpo precisa de tempo de descanso.

– Em Wembley, no dia 1 de junho, antes da Liga das Nações, jogaram Itália e Argentina. Italianos com baixas importantes e argentinos em grande forma e com determinação de princípio ao fim. A qualidade dos argentinos, a pressão constante, a circulação veloz da bola e uma pressão muito forte em todo o campo revelaram diferença: Argentina venceu e com mérito total por 3 golos sem resposta na Finalíssima (assim designado o duelo entre os campeões da Europa - UEFA - e da América do Sul - CONMEBOL). Argentina com 32 jogos sem perder e Itália sem o fulgor habitual e com falhas de jogadores influentes. Messi foi decisivo num conjunto de grandes craques.

– A GNR, numa cooperação com a Autoridade para a Prevenção e Combate à Violência no Desporto (APCVD), vai usar drones para vigiar os estádios, de acordo com despacho do Governo. Porém, a captação de imagens só será efetuada na vertical sem permitir a identificação de pessoas. Nos casos de conflitos graves não seria indispensável essa identificação como prova para aplicar justiça?

– Regresso ao passado: sobre a renovação de contrato de um grande jogador com o PSG, o presidente Emmanuel Macron afirmou: «Tive uma conversa com Mbappé antes da sua renovação de contrato, simplesmente para aconselhá-lo a continuar em França. Quando questionado de forma informal e amigável, o papel de um presidente é defender o seu país.» Misturar política com futebol nunca é o melhor caminho para um desenvolvimento eficaz de ambos universos.