Futebol ou dinheiro? Agora escolha
Direito ao Golo é o espaço de opinião quinzenal de João Caiado Guerreiro
Benfica, Sporting e FC Porto têm direções relativamente novas. Parece-me que o FC Porto é o clube que mais sentirá a mudança para esta nova geração, após 42 anos de liderança de Pinto da Costa. Frederico Varandas, presidente do Sporting, é, para já, o mais bem-sucedido de todos: transformou um clube, que era um eterno terceiro, num duas vezes campeão nacional que joga um futebol bonito e vencedor. André Villas-Boas, treinador de futebol de sucesso, começou agora a presidir ao FC Porto e logo com uma vitória na Supertaça, mas tem sobre si uma enorme herança de conquistas. E Rui Costa que embora comece a ser contestado, ganhou um campeonato nacional. Os três querem isso mesmo, ganhar, mas têm ideias e formas de gerir diferentes.
Frederico Varandas, com o treinador que escolheu, quer claramente vencer troféus, mas mantendo as contas da SAD do Sporting equilibradas. Rui Costa também quer ganhar, mas no seu Benfica a questão dos resultados financeiros parece ter mais importância do que no Sporting. Isto porque quando o Benfica não ganha, outros fatores se levantam e a contestação toca outras vertentes do clube. Quanto a Villas Boas ainda é cedo para falar de estratégia, mas sabe-se que o dinheiro escasseia no clube e o cinto vai ter de apertar: resta saber se ao ponto de sufocar.
Estes presidentes têm, no entanto, de gerir uma contradição: os clubes de futebol são associações desportivas. E essas associações desportivas são proprietárias e tem a maioria dos direitos de voto nas Sociedades Anónimas Desportivas (SAD), donas das equipas de futebol. Enquanto o Código Civil (art.º 157) refere que «uma associação é uma pessoa coletiva constituída por um conjunto de pessoas para a realização de um fim comum, sem intuitos lucrativos», a lei comercial, que rege as SAD, deixa bem claro que estas têm «fins lucrativos».
Ou seja, os clubes portugueses vivem numa contradição: de um lado estão os adeptos que querem ganhar trofeus. Estes são «sócios», ou seja, membros da associação desportiva, e fazem-no por amor ao clube, não por interesse económico. Do outro estão acionistas de sociedades cotadas em bolsa. Estes investiram na SAD para ganhar dinheiro e esperam resultados económicos. É uma contradição insanável. E explica muitas das contradições do futebol. Por um lado, o presidente do clube foi eleito para satisfazer os adeptos que querem títulos. Do outro, na SAD, foi eleito por acionistas que querem lucros. O sucesso desportivo pode coincidir com o sucesso económico, mas nem sempre acontece.
Real Madrid e Barcelona continuaram a ser apenas clubes sem fins lucrativos. Assim ninguém tem dúvidas qual é o seu objetivo. Querem ganhar no campo, nada mais!
O Direito ao Golo é todo de José Manuel Constantino que faleceu há dias e que muito gosto tive em conhecer num evento conjunto entre a Caiado Guerreiro e o Comité Olímpico de Portugal. Tudo o que fez, ao longo da sua carreira, pelo desporto em Portugal, é digno da maior e mais sincera homenagem.