Futebol, estruturação e sucesso

OPINIÃO31.03.202206:55

Essa cultura à FC Porto é essencial e poderá sintetizar-se numa ideia de identidade geracional e internacional: ser Porto

Ofutebol, desde os primeiros tempos, iniciou um desenvolvimento a nível planetário. Por isso, muitos o designam como indústria. De facto, pelo crescimento económico imparável atingiu uma grande dimensão. Para entendermos os fatores de crescimento, comecemos pela organização financeira. A estrutura terá como base a SAD na qual o clube mantém a maioria do capital, tendo a liberdade de decidir as suas opções. Em função dos patrocinadores definem-se condições, receitas e contratos, para definir valores e estatutos. Os grandes patrocinadores com acordos avultados e com marcas internacionais associadas ao clube, são um universo a seduzir.

Depois, seguem-se vários patrocinadores cuja contribuição global é fundamental para a sustentabilidade. Assim se atingem receitas valiosas que permitem investimentos essenciais mas nunca sem criar situações de risco. Além desses patrocinadores, há também empresas acionistas da SAD, o crescimento do merchandising e ainda o naming do estádio que pode permitir um encaixe financeiro muito importante. A nível da bilhética, além dos bilhetes anuais, devem ser garantidos alguns lugares, a preços mais acessíveis, para permitir a adeptos com menos posses a sensação de que o clube é de todos. Alugar o estádio para conferências, promoções nacionais ou internacionais e outras iniciativas são também fontes de receita importantes.
Também as transmissões televisivas são imprescindíveis. Os vencimentos das várias personalidades, desde a administração da SAD, aos atletas, treinadores e restante universo, têm de ser ajustados às realidades e possibilidades. Por outro lado, evitar tentações milionárias apressadas, evitando aventureirismos de risco.
As cláusulas de rescisão devem salvaguardar sempre o melhor interesse do clube. Regressar à capacidade de descobrir jovens talentos em Portugal e na América latina, sempre foi um trunfo bem jogado.
 
A competência na gestão, auditada por uma governança rigorosa, permite profissionalismo responsável e transparente. Cada ato de gestão deve ter plano estruturado para evitar buracos financeiros que podem criar riscos graves. Assim se preserva a saúde financeira como exemplar, sem apertos de última hora. A vertente desportiva pode acumular títulos porque tudo é feito e preparado em função das vitórias e das escolhas para manter equipas de valor. Essa cultura à FC Porto é essencial e poderá sintetizar-se numa ideia de identidade geracional e internacional: Ser Porto.

A transparência é decisiva, sem dúvidas mas com certezas. Para isso, é importante o reforço do modelo e cultura do clube. A base para o seu crescimento também depende do scouting e do reforço de talentos, nos escalões de formação, mesmo com parcerias em vários países, criando sinergias que alicerçam amizades e confiança. E se em Inglaterra Sir Alex Ferguson é apontado como um dos vários exemplos, a contratação de Sérgio Conceição por prazo alargado certamente permitirá um trabalho de base, em constante aperfeiçoamento do modelo e do projeto de jogo, incluindo as indispensáveis transferências que permitam manter os cofres recheados. Ganhar é muito importante, mas em cada ano só um clube o consegue. Contudo, lutar sempre pelos títulos e participar nas provas europeias anualmente, são metas ao alcance, que temos mantido ao longo dos tempos e com triunfos em todas as provas internacionais, como se vê no fantástico museu dos Dragões, espaço a valorizar e a internacionalizar.

Com jogadores qualificados, com dinâmicas de jogo que nos permitem batermo-nos com os melhores clubes europeus, temos condições para continuar a crescer e a arrecadar valores elevados por transferências (sempre que oportunas) e ainda pelos milhões da entrada nas provas internacionais. Há uma regra fundamental: nunca gastar mais do que se alcança. O mundo segue o seu curso e a manutenção de Sérgio Conceição permite alargar horizontes e envolver equipas eficientes (poupando nos gastos e ganhando nas vendas) para em cada época estarmos sempre ao melhor nível nacional e não só.

O futebol nacional tem de manter qualidade, mas essencialmente justiça igual para todos e melhorar muito na arbitragem. Por algum motivo, o plano de cooperação dos Conselhos de Arbitragem de Portugal e de França parou após os árbitros que apitaram jogos em Portugal (um árbitro e um árbitra) terem sido exemplares e acompanhando o ritmo elevado que reduziu paragens. É altura para melhorar a seleção e formação dos árbitros nacionais, com conhecimento real do jogo jogado, sabendo distinguir choques casuais dos intencionais e não permitir tantas interrupções. Uniformizem critérios! Qualificar o VAR (em vários casos, não conseguem distinguir o fortuito do provocado - deveriam ter sido jogadores!) é prioridade; o universo de recrutamento é importante, pois quem nunca jogou como federado não consegue interpretar a realidade que nunca sentiu. As televisões são livres de programar, mas o tempo terá de corrigir com celeridade os excessos de comentadores que prejudicam o futebol. Só com imparcialidade e desportivismo calaremos os criadores de conflitos e evitaremos as situações de violência. Com tanto potencial, as influências externas acabam por dar imagem redutora do nosso futebol e isso é intolerável. Precisamos de maior abertura e disponibilidade das tutelas, bem como uma maior defesa e valorização do nosso futebol na UEFA e na FIFA como prioridades nacional e internacional.
 

O mundo segue o seu curso e a manutenção de Conceição permite alargar horizontes


Nos primeiros dias de abril, será votado na UEFA o novo modelo de fair play financeiro, inclusive com nova designação: Regulamento de Sustentabilidade Financeira. Em vez da imposição de teto salarial aos clubes, será definida uma regra calculada com base, entre outras despesas, no custo do plantel, nas taxas de transferência, nos salários... Após fase de transição durante três épocas (a iniciar em 2022/2023) parte do limite nos 90%, baixando 10 por cento em cada uma das temporadas posteriores até aos 70% por cento. Os clubes que cumprirem essas regras poderão contar com uma margem-bónus de nove milhões de euros, acima da percentagem permitida. Depois desse período, não poderão gastar mais do que 70% das suas receitas. Os clubes mais ricos, que investem largas fortunas, pretendem o limite de 85%, enquanto outros (os clubes alemães, por exemplo,) desejam um limite mais apertado do que os 70%. Em relação às sanções (desportivas ou financeiras) aos clubes que não cumpram as regras, a UEFA poderá despromover equipas nas três provas europeias que organiza: quem estiver na Champions poderá descer para a Liga Europa, ou dessa para a Liga Conferência. Esta regra não poderá continuar a favorecer os mais ricos?! Dificultar a ação dos glutões que se apoderam, sem trabalho, de mais-valias oportunistas.

A dúvida que permanece: qual a fundamentação para integrar o futebol no ministério dos Assuntos Parlamentares e quais os critérios para nomear o novo secretário de Estado da Juventude e do Desporto? É urgente desenvolver lideranças competentes e pacificadoras, sem servilismos de gratidão. 


SELEÇÃO NACIONAL 

P ORTUGA foi obrigado a disputar o play-off, envolvendo dois jogos, para se poder manter na fase final do Mundial do Catar, após ter perdido o apuramento direto  nos momentos finais de uma noite desinspirada. Vencemos a Turquia e ultrapassámos a primeira fase para tentar estar presentes no próximo Mundial-2022. Os três golos tiveram contributos de dois jogadores recentemente naturalizados. Vitória merecida, porém com alguns momentos de insegurança. O outro e decisivo jogo revelou uma Macedónia do Norte com pressão alta, agressividade e fechando espaços, mas a não conseguir superar a criatividade, a organização e a técnica dos jogadores nacionais, que funcionaram como equipa coesa, tranquila e confiante. Dois golos de Bruno Fernandes traduziram a nossa superioridade, sempre jogando coletivamente. Partida muito disputada com superioridade de Portugal. CR7 concentrou marcações, libertando outros jogadores. Todos foram brilhantes e Vitinha estreou-se na Seleção. O Estádio do Dragão voltou a encher com uma excelente e merecida vitória da nossa seleção, que mais uma vez conseguiu o apuramento para a fase de grupos do Mundial do Catar. 
 

REMATE FINAL  

A Seleção Nacional conseguiu a 12.ª presença consecutiva em fases finais de Europeus e Mundiais.

O ciclista português João Almeida venceu a etapa rainha da Volta à Catalunha, nos Pirenéus, e ficou em 3.º lugar na classificação geral.

Miguel Oliveira venceu o Grande Prémio da Indonésia em MotoGP. 

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