Quando há pouco menos de dois meses aqui escrevi que na escolha e no sucesso do sucessor de Ruben Amorim dependeria o futuro do Sporting e que as fundações construídas por Frederico Varandas estavam ameaçadas não me passou pela cabeça que tão depressa isso pudesse acontecer. Para o bem e para o mal, insisto nesta ideia, aquilo que, pomposa e preguiçosamente, consideramos de projetos de um clube mais não são, na larga maioria das vezes, de pessoas, para não dizer só de treinadores. O Sporting pode ter estrutura e método, mas as organizações são pessoas. Bastou sair Ruben Amorim para se perceber que mesmo as fundações que parecem mais sólidas podem ruir em menos de um fósforo. Neste caso em menos de dois meses. Desde que Ruben Amorim trocou o SC Braga pelo Sporting que a expressão e se corre bem? passou a valer tanto como e se corre mal?. Mas a última, como se percebeu, não perdeu valor. E voltaremos a pensar nela quando o presidente do Sporting apresentar, como está previsto, Rui Borges. Acredito que estaremos todos curiosos para ouvir o que dirá Frederico Varandas. Mesmo que alguns, entre os quais me incluo, possam estar agora mais desconfiados e ter mais dificuldade em acreditar no que possa dizer. É impossível ignorar as afirmações do presidente do Sporting na apresentação de João Pereira. Que iria encontrar no Sporting um clube que o iria proteger e permitir crescer como treinador. Menos de dois meses depois nada disso vale. Ainda poderá acontecer, no entanto, como sugeriu Frederico Varandas, que João Pereira esteja num dos clubes mais poderosos da Europa dentro de quatro ou cinco anos. Tinha poucas dúvidas. Seria insensível não admitir que todos cometemos erros ou somos imperfeitos, mas estas trocas e baldrocas na gestão do Sporting após a saída de Ruben Amorim servem para reforçar a ideia de que somos mais aquilo que fazemos que aquilo que dizemos. E conduzem-nos também para um velho ditado — Que bem prega frei Tomás, façamos o que ele diz e não o que ele faz. O Sporting vai mais do que a tempo, com novo treinador, de ser campeão. E essa é uma das razões que poderão tornar injustas, apesar da circunstância do momento, estas considerações sobre o presidente do Sporting. Cá estaremos para dar a mão à palmatória se for o caso. O que já é mais difícil de encontrar é quem valorize a recuperação do Benfica como desvalorizou o começo de época. A equipa, já com Bruno Lage, chegou a entrar três vezes em campo com menos 11 pontos que o Sporting. Não é coisa pouca. Percebe-se não é um projeto acabado e, no entanto, foi capaz de ultrapassar dificuldades que deitariam abaixo os mais frágeis. Não saberemos como acabará o campeonato, nada é definitivo, muito menos no futebol, mas sabemos que é difícil encontrar alguém que reconheça que alguma coisa boa está a ser feita. André Villas-Boas recuperou comportamentos recentes de dirigentes do FC Porto. Só me lembrei de frei Tomás e de como somos mais o que fazemos que o que dizemos.