FPF: O que está por explicar
Será que a saída de Fernando Santos está relacionada com aparente conflito com CR7?
NO Mundial que hoje termina tivemos uma grande oportunidade de fazer história. Com a exceção de 2016, a realidade é que este tem sido o nosso padrão competitivo: jogadores com muita qualidade, habituados a jogar nos melhores palcos de clubes, mas que chegam à Seleção e não conseguem, em conjunto, atingir o patamar mais elevado. Todos pensámos que depois de 2016 o contexto pudesse ser diferente, porque o golo de Éder podia ter sido o clique que precisávamos para ultrapassarmos a barreira entre ter qualidade e vencer títulos com maior frequência.
Se é unânime que temos jogadores em todas as posições entre o lote dos melhores do mundo, o que nos devemos questionar é porque é que não conseguimos repetir o feito de 2016 ou pelo menos chegar às fases de decisão.
Os resultados desportivos não são apenas reflexo do trabalho que é feito dentro de campo. Existe um conjunto de pormenores fora do relvado e longe dos olhares da maior parte dos adeptos que faz com que uma seleção ou um clube estejam mais perto da vitória.
A SAÍDA DE FERNANDO SANTOS: PORQUÊ?
N ÃO deixa de ser estranha a decisão de prescindir de Fernando Santos após o Mundial, tendo em conta o caminho e política seguida pelo FPF. Refiro isto sem qualquer ironia, até porque só compreendo as decisões quando estas têm uma lógica ou um racional bem definido. Temos várias formas de avaliar um selecionador. A primeira e mais fácil são os resultados. Ora, se analisarmos as performances deste Mundial e das anteriores competições, percebemos que melhorámos a nossa performance. No Mundial de 2018 e Europeu de 2020 ficámos pelos oitavos de final, enquanto que no Mundial, que hoje termina, atingimos os quartos de final. Em qualquer uma destas competições as expectativas sempre foram elevadas, porque a qualidade dos jogadores disponíveis sempre foi enorme.
Outro dos critérios que deve ser analisado é o caminho a seguir para se alcançar o sucesso. Neste campo, a FPF deverá definir um perfil de treinador/selecionador que preencha os requisitos pretendidos: se quer ter um treinador que coloque a equipa jogar um futebol mais dominador, se quer alguém mais resultadista ou se pretende um perfil de selecionador que seja mais influente na vertente mental, na motivação do grupo.
A minha estranheza advém destes dois fatores de decisão. Tendo em conta que Fernando Santos está na Seleção desde 2014, é porque as suas qualidades encaixaram no perfil que FPF definiu. Todos conhecem a forma de Fernando Santos trabalhar, não foi uma surpresa. Todos sabem que com Fernando Santos dificilmente iríamos ter uma equipa que jogasse um futebol totalmente dominador, com processos mecanizados ou com dinâmicas coletivas bem definidas. Que muito do nosso sucesso seria sempre proporcionado pela via individual e pela união de grupo que Fernando Santos consegue criar. Se juntarmos os dois critérios, resultados mais perfil e, tendo em conta a renovação efetivada em 2020 (agora questionável), o que terá motivado Fernando Gomes e a sua estrutura a tomar a decisão de prescindir dos serviços do selecionador nacional, quando no passado em contextos similares reforçaram a confiança em Fernando Santos? Será que esta decisão está relacionada com um aparente conflito entre Fernando Santos e CR7? Será que a responsabilidade do insucesso é apenas de Fernando Santos?
O mais interessante é que o Mundial de 2022 mostrou-nos o melhor futebol de Fernando Santos na nossa Seleção. Mais, esta foi a competição em que o ex-selecionador nacional demonstrou maior liderança, tomando decisões difíceis e privilegiando sempre o coletivo.
FPF: ERROS COM INFLUÊNCIA
Osucesso nunca é garantido, mas existe um conjunto de pressupostos que, se estiverem devidamente validados, farão com que exista maior probabilidade de alcançar os objetivos propostos. Assim, o trabalho da estrutura de uma instituição como a FPF deverá ser: garantir organização exemplar (fora das 4 linhas); proporcionar um ambiente positivo nos bastidores do estágio, estando atenta a quaisquer focos de instabilidade; promover a concentração e união de todos no objetivo definido; apelar a um sentimento patriótico, reforçando a responsabilidade e o orgulho de representar o nosso País.
Em termos organizacionais, parece-me que as condições que foram disponibilizadas aos protagonistas foram as melhores. Quanto aos restantes parâmetros, existiram episódios que poderão ter tido influência negativa nos resultados alcançados, dos quais destaco três. O primeiro foi a forma como no final do jogo com a Coreia do Sul, Fernando Santos foi induzido em erro (por quem?) ao comentar as palavras de CR7 aquando da sua substituição, tendo sido obrigado a afirmar posteriormente na antevisão do jogo com a Suíça que não tinha «gostado nada mesmo nada» da postura de CR7 e, sobretudo, da forma como a informação lhe chegou imediatamente no final do jogo. A segunda questão que levanto tem a ver com a forma como algumas pessoas, que não têm nenhuma função na FPF, se movimentam no balneário, estágio e nos espaços privados destinados apenas à comitiva restrita. Ricardo Regufe, ex-representante da Nike e atual personal manager de CR7, é presença regular nestes espaços. Sabendo nós que estas áreas que especifiquei anteriormente são sagradas, qual a justificação para a presença de pessoas que não têm qualquer cargo na FPF? Quem autorizou a sua presença? Ou qual a interpretação e a posição dos restantes atletas relativamente a esta situação?
O último episódio que realço foi todo o caso que se gerou em torno da atribuição do primeiro golo de Portugal ao Uruguai. A vitória sobre o Uruguai garantiu desde logo o primeiro objetivo que foi a passagem aos oitavos de final. De uma forma perspicaz, a FPF deveria desde logo ter reforçado que o mais importante não é quem marca o golo, mas sim a vitória e o objetivo alcançado pela Seleção Nacional.
Numa grande competição como o Mundial, todos os pormenores fazem a diferença e as estruturas invisíveis são as responsáveis por estar atentas a tudo e a criar condições para que o ambiente em torno dos protagonistas seja benéfico.
BENFICA: INVICTO MAS CAI
OMundial em novembro/dezembro veio alterar o ritmo normal das competições internas. Será interessante perceber qual o impacto que este interregno irá ter nas equipas que normalmente lutam por títulos. Vale a pena recordar que, até ao início do Mundial, o Benfica dominava as competições nacionais, com bom futebol e eficácia. Ontem, no primeiro jogo após a eliminação de Portugal e já com reforços disponíveis, deixou cair um objectivo - a Taça da Liga. É verdade que dominou o jogo e criou várias ocasiões de golo, mas também não é menos verdade que o Moreirense teve uma abordagem muito positiva, também criou oportunidades claras e demonstrou o motivo pelo qual vem liderando e dominando a Liga 2. Apesar de continuar invicto, iremos perceber até que ponto o Mundial e a saída precoce da Taça da Liga poderão ou não afetar a estabilidade da equipa do Benfica.
O próximo jogo, frente ao SC Braga, fora, será, sem dúvida, um teste importante à reação e um momento em que o Benfica se pode reafirmar ou dar esperança aos adversários…
A VALORIZAR
Messi – Está a fazer um grande Mundial. É incrível a leitura que faz do jogo, dos colegas e dos adversários ou a forma como encontra caminhos que poucos conseguem interpretar. Pela carreira que tem tido, pelo génio que é e pelos 20 anos de magia que tem espalhado, de uma forma consistente, no relvado, Messi merece juntar o título mundial a todos os outros que já conquistou.
Didier Deschamps – É selecionador desde 2012. Já conseguiu uma final num Europeu (2016), um Mundial (2018) e está novamente na final de um Mundial. Com muitas baixas por lesão, conseguiu criar uma equipa uniforme, consistente e que está a um passo de voltar a fazer história.
A DESVALORIZAR
Cristiano Ronaldo – Após a saída de Fernando Santos, multiplicaram-se as mensagens por parte de muitos dos atletas que trabalharam com ele. Como capitão da era de Fernando Santos, no mínimo, ficava bem uma mensagem de agradecimento ao trabalho e conquistas do ex-selecionador, que sempre apoiou Ronaldo em todos os momentos.