A dinâmica dos processos eleitorais
Prazo para entrega das listas para a sucessão de Fernando Gomes na FPF termina quinta-feira (Foto: MIGUEL NUNES)

A dinâmica dos processos eleitorais

O poder da palavra é o espaço de opinião semanal de Duarte Gomes, ex-árbitro

Regresso a este tema com algum sentido de oportunidade (digo eu). É que estamos a apenas dois dias de saber quem se apresentará a votos às próximas eleições para a Federação Portuguesa de Futebol. Na próxima quinta-feira termina o prazo estipulado pela Comissão Eleitoral, presidida por José Luís Arnaut.

Segundo o que é possível perceber, é provável que tenhamos mais do que uma lista a concorrer aos orgãos sociais, facto que sublinha a importância do que está em causa e elogia a beleza singular de processos democráticos desta dimensão. Mas a eventual existência de duas (ou mais) candidaturas não anula a obrigação de acautelar alguns deveres, em nome do respeito mútuo e grandeza ética que têm que prevalecer nestes momentos.

É muito claro para mim: há uma diferença muito grande entre esgrimir argumentos na busca pela vitória e recorrer a expedientes menores para tentar conquistá-la; há uma diferença entre taticismo/jogo político e ataque cerrado, descontrolado, desenfreado a adversários; há uma diferença entre apresentar ideias ou visões distintas e tentar descredibilizar projetos de quem está no outro lado da barricada. As primeiras mostram inteligência estratégica, elevação, lealdade democrática. As segundas uma falta gritante de argumentos, medo e até desespero. Qualquer observador distante reconhece os sinais sem grande esforço.

Naturalmente que quem se propõe ir a votos escolhe o jogo que quer jogar, sabendo que isso dirá sempre mais de si do que das peças que coloca no tabuleiro. Mas as ações (e respetivas consequências) ficam sempre para quem as pratica e está tudo bem.

No que me diz respeito, penso que há linhas que não se devem ultrapassar. Aliás, se tivesse que redigir um manual intitulado ‘O que nunca fazer num processo eleitoral’, saberia perfeitamente o que escrever:

—  Evitem ofensas, calúnias, difamações ou ataques pessoais em relação a rivais, porque isso belisca a vossa imagem e desvia o foco das propostas que têm para oferecer;

— Não alimentem rumores, boatos ou fake news. É pouco ético, mostra falta de opções, prejudica a campanha e pode acarretar consequências legais;

— Atenção às promessas. O compromisso com a palavra é fundamental. Um dia alguém lembrar-se-á de cobrar e perceber se foram vazias, irrealistas ou lançadas ao vento. A última pessoa que querem desiludir é aquela que vos confia o voto. Always deliever what you promise;

— Nunca tentem influenciar o resultado das eleições com estratagemas desonestos, imorais ou antiéticos. Gente limpa não aprecia jogo sujo. Gente grande não joga baixinho;

— Não sugiram que as eleições em si, o processo, é pouco profissional, mal preparado ou gerido. Tentar desacreditar quem tem legitimidade legal/regulamentar para o efeito demonstra falta de respeito pela instituição e pelos seus responsáveis. Um tiro nos pés;

— Evitem criticar sistematicamente os adversários. Um candidato inteligente prioriza a apresentação das suas ideias e a divulgação do seu projeto. Nunca se centra apenas na campanha dos rivais;

— Nunca menosprezem a inteligência e integridade dos vossos eleitores. Uma atitude mais agressiva ou arrogante afasta uns quantos e reduz o apoio de outros;

— Não adoptem ações ilegais ou desleais para atingir o objetivo. Violar a privacidade de outros, usar dados sigilosos ou explorar vunerabilidades pessoais não é o caminho digno para obter vantagem. O jogo baixo tem preço alto;

— Não incentivem a polarização ou a desunião como forma de angariar apoios. Ficarão sentados sozinhos num dos extremos da mesa;

— Nunca fujam de debates justos nem ignorem temas difíceis mas necessários. Isso será interpretado como falta de pulso, má preparação ou desconfiança nas próprias propostas. Não funciona.

Ao contrário do que tantos defendem, não vale tudo para ganhar.